Autor da proposta, Fabiano Contarato criticou o governo federal e o enfraquecimento de órgãos como o Ibama Leopoldo Silva/Agência Senado
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No momento em que o Brasil acompanha a propagação de incêndios no Pantanal e o aumento das taxas de desmatamento e queimadas na Amazônia, os senadores aprovaram, nesta quinta-feira (17), o Projeto de Resolução do Senado (PRS) 52/2019, que cria a campanha Junho Verde para conscientizar a sociedade sobre a importância da preservação ambiental. A matéria segue agora para promulgação.
O texto, de autoria do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), insere essa campanha no calendário de atividades do Senado e determina sua divulgação anualmente, pela Mesa Diretora da Casa. A proposta também prevê que a cúpula do Senado seja iluminada por luzes na cor verde durante todo o período de duração da campanha.
Na justificativa do projeto, Contarato afirma que o Brasil "é uma potência mundial em recursos naturais". Ele ressalta a diversidade biológica existente no país e a grande disponibilidade hídrica que permitem que os biomas brasileiros — Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado, Pampa, Caatinga e Zona Costeira — se transformem em imprescindíveis fontes de prestação de serviços ecológicos.
Durante a sessão desta quinta-feira, Contarato criticou a forma como o governo federal tem conduzido a política ambiental. Ele lamentou a ausência de medidas que estimulem maior fiscalização e aplicação de penalidades que venham a contribuir para a conservação dos biomas.
— Infelizmente, o governo federal, na área ambiental, está enfraquecendo o Ibama e o ICMBio. Esses órgãos de fiscalização estão enfraquecidos. Despencou o número de lavraturas dos autos de infração. O governo acabou com o Departamento de Educação Ambiental. E nós temos uma legislação que garante não a sensação, mas a certeza da impunidade — protestou ele.
Ao anunciar seu relatório favorável ao projeto, a senadora Leila Barros (PSB-DF) acatou emenda de Plenário apresentada pelo senador Jayme Campos (DEM-MT) para que durante a campanha Junho Verde os meios de comunicação do Senado priorizem a divulgação de políticas públicas, campanhas educativas, iniciativas e projetos com ênfase em boas práticas de sustentabilidade ambiental.
Leila classificou o atual cenário como “crítico na governança ambiental brasileira” e destacou o aumento dos índices de desmatamento na Amazônia Legal e o enfraquecimento das políticas ambientais como motivos que fizeram o Brasil perder capacidade de atrair recursos financeiros internacionais para a preservação ambiental.
Entre outros fatos que, segundo a relatora, atestam o enfraquecimento das políticas ambientais no Brasil, estão a demora nas ações de resposta quando houve derramamento de óleo nas praias do Nordeste e do Sudeste, a precária situação dos índices de saneamento básico na maior parte dos municípios brasileiros e a ameaça de não ratificação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Leila ainda citou a comunicação formal recente sobre o descontrole no combate ao desmatamento na Amazônia, dirigida ao governo do Brasil, de autoria de fundos internacionais que representam 251 instituições financeiras, além do manifesto recentemente assinado por 47 grandes empresas nacionais e estrangeiras do agronegócio, exigindo ações de combate ao desmatamento na Amazônia.
— Esta Casa tem que tomar uma iniciativa, tem que olhar com muito carinho a questão ambiental no nosso país, porque estamos sofrendo muito. Eu faço um apelo, com este projeto, com a leitura deste relatório: que realmente nos envolvamos, efetivamente, nas questões ambientais que estamos vivendo agora no nosso país — declarou a senadora.
Agronegócio
Durante a discussão, vários senadores manifestaram apoio à iniciativa. O senador Otto Alencar (PSD-BA) frisou que é por meio da conscientização e da preservação ambiental que o país pode superar os efeitos das condições climáticas. Ele também manifestou preocupação com a expansão da agropecuária em áreas de preservação e a repercussão disso na economia.
— Corremos um risco muito grande de o mundo começar a não aceitar a produção do agronegócio brasileiro, essa que é uma das principais atividades hoje responsáveis pela nossa balança comercial positiva. Portanto, essa defesa [da preservação ambiental] deve ser uma defesa intransigente — argumentou.
Para o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), que presidia a sessão no momento da votação, a preservação do meio ambiente e a produção de grãos e de alimentos têm de estar aliadas para garantir o desenvolvimento do setor.
— Se somos o recordista mundial de produção de carnes, fibras, grãos, então temos muito orgulho de dizer que o nosso principal ativo é o meio ambiente, que garante o clima regular para que possamos produzir alimentos e, portanto, seguir preservando, cumprindo a legislação brasileira para garantir mercados e, mais do que garantir mercados, garantir esses recordes de produção do país — declarou ele.
Já o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) alertou para a necessidade de investimentos em educação, ciência e tecnologia para que as regiões possam se desenvolver economicamente ao mesmo tempo que preservam seus biomas.
Também se pronunciaram favoravelmente à matéria os senadores Alvaro Dias (Podemos-PR), Nelsinho Trad (PSD-MS) e Jayme Campos (DEM-MT).
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
O total de multas aplicadas é quatro vezes maior que a média histórica anual do Estado [Foto – Mayke Toscano]
O Governo de Mato Grosso aplicou, desde janeiro até 18 de setembro, R$ 1 bilhão em multas por crimes contra a floresta. As autuações foram feitas, por meio dos órgãos que compõem o Comitê Estratégico para o Combate do Desmatamento Ilegal, a Exploração Florestal Ilegal e aos Incêndios Florestais (CEDIF-MT).
As multas foram aplicadas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental (BPMPA) e Batalhão e Emergências Ambientais do Corpo de Bombeiros Militar (BEA/CBMMT).
A informação foi divulgada em primeira mão pelo secretário adjunto Executivo da Secretaria de Meio Ambiente, Alex Marega, durante audiência pública realizada nesta quinta-feira (17) pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
“Historicamente, Mato Grosso aplicava, em média, R$ 250 milhões em multas. Estamos em setembro de 2020 e já ultrapassamos esse valor em quatro vezes com apoio da tecnologia e estratégia”, destaca Marega, lembrando que além das ações de comando e controle é necessária conscientização da população.
Contra do fogo
Durante a audiência, o Comitê Estadual de Gestão do Fogo (CEGF) defendeu a criação de comunidades resilientes aos incêndios florestais em cada um dos três biomas mato-grossenses. “Já está claro que os desastres em Mato Grosso são causados pelo fogo. E e por isso defendemos a criação de comunidades aptas a se defenderem, que tenham brigadas próprias para atuar logo no início dos incêndios”, explicou o secretário Executivo do Comitê do Fogo, coronel Bombeiro Militar Paulo André Barroso.
O militar defendeu que todas as áreas, sejam de proteção ambiental ou propriedades rurais, tenham um Plano de Proteção e Combate aos Incêndios Florestais (PPCIF). Para auxiliar os proprietários rurais, o Comitê do Fogo divulgou nota técnica que prevê que as propriedades rurais devem ser criados no mínimo seis sistemas: de vigilância, de acesso, de compartimentação por talhões, de mananciais, de apoio a combate a incêndio florestal e de proteção de áreas edificadas
Equipes do Batalhão Ambiental e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) identificaram na terça-feira (14.09) uma área de cerrado sendo desmatada ilegalmente na cidade de General Carneiro (a 442 km de Cuiabá).
Os agentes participavam da Operação Amazônia e já tinham conhecimento da irregularidade por meio da plataforma Planet Sccon. No local, a informação foi confirmada e foram apreendidos os maquinários, sendo uma retroescavadeira com problema mecânico, um trator, uma carreta reboque e uma motosserra.
Em conversa com o proprietário da fazenda, ele alegou que não tinha retirado a licença para realizar o desmate e nem a declaração de exploração florestal. Ele foi multado em R$ 4 mil e emitidos os autos de apreensão e infração, além do termo de embargo.
Estudo não permite afirmar que o desmatamento esteja ocorrendo deliberadamente com o objetivo de reduzir proteções ambientais
Em vez de receberem mais fiscalização, as unidades de conservação ambiental que se tornaram alvo de desmatamento ilegal na Amazônia têm preferência para perderem proteções estaduais e federais no Brasil, aponta um estudo inédito recém-publicado nos Estados Unidos.
A partir de dados oficiais sobre rebaixamentos, reduções ou extinções de áreas de conservação amazônicas, um grupo de seis pesquisadores de duas universidades americanas e do instituto Conservation International, com sede na Virginia (EUA), concluiu que as regiões desmatadas costumam ser as escolhidas em negociações entre governos estaduais e federais e empresários na região.
Na última década, segundo os autores, a Amazônia enfrenta uma onda de mudanças em regras ambientais.
O levantamento avaliou 62 áreas protegidas (como parques estaduais e nacionais, áreas de proteção ambiental e reservas) em Rondônia, um dos três estados com maiores índices históricos de desmatamento na Amazônia.
"Esse estudo foi o primeiro a nos permitir entender por que motivo algumas áreas protegidas estão em risco e outras não", diz Michael Mascia, diretor de ciências sociais do instituto Conservation International, que nos últimos 30 anos atuou em atividades de conservação ambiental em 77 países.
"A noção de que unidades de conservação que sofrem desmatamento foram mais vulneráveis que as não desmatadas nos últimos anos é nova, e traz sérias consequências para a sociedade brasileira", afirma.
Para o cientista, a constatação revela um "ciclo vicioso" na região.
Acontecimento indesejado
O Governo de Rondônia, por meio da assessoria de imprensa, negou que alto índice de desmatamento seja critério para reduzir ou extinguir a proteção de uma área. "O Estado possui unidades de conservação com grau de antropismo elevados, porém não se cogita extinções e, sim, recuperação", informou.
Segundo o Ministério de Meio Ambiente, que afirma desconhecer o estudo, a "redução do status de proteção ou a extinção de uma unidade de conservação é um acontecimento pouco usual e indesejado".
Mas, por meio da assessoria, o MMA admitiu que não há critérios pré-definidos para orientar o procedimento de alteração no grau de proteção de uma unidade federal de conservação, ainda que sejam levados em conta fatores como "a ocupação humana pré-existente à sua criação e incompatível com a categoria da unidade e a proposição de projetos de infraestrutura governamentais".
"Embora possam haver motivações legítimas apontadas pelos solicitantes, cada caso é estudado tecnicamente em um processo de verificação dos custos e benefícios ambientais e sociais resultantes da decisão", esclareceu o MMA, emendando que, muitas vezes, há uma tentativa de compensar áreas que perdem o status de proteção com a criação de outra unidade.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Unidades de conservação que têm perdido proteção do governo brasileiro costumam ser as mais próximas a estradas, vilarejos ou rios
Mas, segundo Michael Mascia, "as áreas protegidas desmatadas acabam perdendo proteções do governo e o que sobra fica ainda mais vulnerável àqueles que desmataram no primeiro momento".
"Em Rondônia, percebemos que as áreas com proteção ineficiente foram reduzidas ou removidas, enquanto as com proteção bem feita foram mantidas ou até expandidas. Isso mostra que o desmatamento nas reservas está sendo levado em consideração quando os governos optam por retirar proteções ambientais para atender a demandas do mercado", continua Mascia, ressaltando que o padrão se repete por toda a região amazônica.
'Barganha'
O artigo apareceu na semana passada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
As conclusões do levantamento se baseiam em perdas de áreas protegidas durante duas ondas recentes de mudanças em regras ambientais em Rondônia - em 2010 e 2014.
Em 2010, segundo o estudo, 10 unidades de conservação da floresta amazônica no Estado foram extintas, abrindo espaço para a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. As perdas em áreas até então protegidas chegaram a quase 8 mil quilômetros quadrados, ou cinco vezes a área total da cidade de São Paulo.
Quatro anos depois, outras 20 áreas de conservação foram reduzidas ou extintas para dar lugar, principalmente, à criação de gado - uma redução de 19 mil quilômetros quadrados, ou mais de 12 vezes a capital paulista.
À BBC Brasil, o governo de Rondônia informou que nove das decisões de extinção de áreas preservadas avaliadas pelo estudo foram posteriormente revertidas por meio de Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adin).
Segundo Mascia, as áreas de conservação que foram alvo de rebaixamentos ou extinção tinham em comum uma "gestão ineficaz" de proteção, o que favorece o corte ilegal de madeira. "Todas as áreas rebaixadas ou extintas já haviam sido desmatadas", diz.
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Legenda da foto,
O levantamento avaliou 62 áreas protegidas em Rondônia, um dos três estados com maiores índices históricos de desmatamento na Amazônia.
Para o professor de ciências ambientais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Rodrigo Medeiros, o estudo revela os impactos de uma lógica perigosa de "barganha" entre políticos e empresários.
"De um lado, há setores interessados em usar áreas protegidas para atividades econômicas. De outro, organizações da sociedade civil tentando mostrar o valor da proteção destas áreas", avalia. "E o que vemos por todo o Brasil é que vários membros do governo que representam grupos econômicos estão propondo prejuízos em áreas protegidas que não deveriam ser tocadas."
Segundo Medeiros, mais de 100 projetos do tipo tramitam atualmente no Congresso Nacional
Vice-presidente da Conservation Internacional no Brasil e um dos autores do estudo, o professor prossegue: "Ficou claro que uma governança eficiente da área protegida, garantindo que em primeiro lugar ela não seja desmatada, é fundamental para garantir a proteção e evitar novos rebaixamentos ou extinções de unidades de preservação."
'Regra do biscoito'
Só no ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), mais de 1.252 quilômetros quadrados de florestas foram desmatados em Rondônia.
De acordo com os pesquisadores, as unidades de conservação que têm perdido proteção do governo brasileiro costumam ser as mais próximas a estradas, vilarejos ou rios.
A localização traz mais valor econômico e potencial para escoamento de produção de gado, energia ou minérios - o que explicaria o desmatamento.
"O desmatamento dentro de unidades de conservação está crescendo. Usar isso como critério para desafetação (alteração ou extinção de áreas protegidas) tem dois efeitos: a perda da oportunidade de restaurar áreas que deveriam estar intactas e um estímulo ao desmatamento ilegal em lugares onde há interesse futuro para novas revogações", diz Medeiros.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
'Se mantivermos este ritmo, vamos negociar a Amazônia inteira, o que seria catastrófico não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro', dizem autores do estudo
Questionado, ele diz que o estudo não permite afirmar que o desmatamento esteja ocorrendo deliberadamente com o objetivo de reduzir proteções ambientais.
O pesquisador compara o fenômeno na Amazônia "a comer um biscoito pelas beiradas".
"O lado de fora do biscoito está sendo destruído, enquanto os esforços de conservação são empurrados mais para dentro, longe das estradas e cidades", diz. "A gente fica com a falsa impressão de que o balanço é positivo ou neutro. Mas, em um processo de 10, 15 ou 20 anos, a tendência é que as beiradas acabem e continuemos avançando para dentro deste biscoito."
Os autores do estudo pedem que governos e empresários revejam a impressão de que áreas de conservação são "inúteis", porque não são tocadas.
"Este é um erro perigoso", diz. "Se mantivermos este ritmo, vamos negociar a Amazônia inteira, o que seria catastrófico não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro."
Discussão do Legislativo
O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, esclareceu que a decisão final pela "extinção ou diminuição do status de proteção de uma unidade de conservação é tomada mediante edição de lei", que deve ser motivada e justificada. Isso significa que o tanto o Executivo quanto o Legislativo federal, estadual e municipal podem tomar a iniciativa, que precisa ser aprovada e sancionada antes de entrar em vigor.
O índice de desmatamento, segundo o MMA, pode ou não ser determinante. "A depender da motivação para a proposição da lei que altera a unidade, a situação de ocupação da área em questão pode ou não ser um fator preponderante. No caso de áreas de ocupação pré-existentes, muitas vezes estas já possuem um certo grau de desmatamento", salienta.
Questionado sobre por que áreas mais próximas a vilarejos, rios e estradas tendem a perder o status de unidade de conservação, como apontou o levantamento, o MMA afirmou desconhecer o estudo. Mas reiterou que "cada caso é estudado do ponto de vista do impacto social e ambiental causado pela alteração pretendida".
O Governo de Rondônia, por sua vez, informou que não cogita reclassificar áreas protegidas com elevados índices de desmatamento e que há projetos em curso para recuperar essas reservas, que sofrem pressão pelo avanço desordenado da agricultura, pecuária e assentamentos diversos.
Esclareceu ainda que a extinção ou diminuição das áreas de preservação foram todas iniciativas do Legislativo. "Nenhuma dessas extinções de unidades partiu do Executivo estadual", informou. Disse também que recorreu à Justiça para tentar reverter as mudanças - houve, segundo o governo, reversão em nove unidades, totalizando cerca de 800 mil hectares. "Essas unidades foram extintas pelo Legislativo, porém o ato foi revertido através Adin (Ação direta de inconstitucionalidade)".
"O Estado de Rondônia (Executivo), na contramão nacional, está em processo de criação de 11 unidades de conservação", completou.
Consulta popular
Apesar de mudanças em área de conservação serem debatidas no Congresso, Assembleias ou Câmara Municipais, a depender do tipo de lei, nem sempre a população ou a sociedade civil organizada é convidada para se manifestar formalmente. "O processo de discussão e consulta (popular) irá depender do procedimento adotado no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas dos Estados proponentes", explicou o MMA.
Segundo o Ministério, quando o Executivo é o autor da proposta, em geral há consulta pública.
Por iniciativa do Executivo federal, a única proposta que está no Congresso Nacional é a da alteração de limites da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.
Mas tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que envolvem mudanças nas unidades de conservação federais e foram propostas por congressistas.
"O MMA e o ICMBio se manifestam nesses processos e atuam o sentido de garantir a manutenção da integridade das unidades de conservação federais", informou o MMA.
"De outra parte, estão sendo propostas pelo executivo federal a criação de novas unidades de conservação na Amazônia, como a Reserva Extrativista baixo rio Branco Jauaperi e a ampliação da Reserva Extrativista Lago do Cuniã, que complementam a recente criação do Parque Nacional dos Campos Ferruginosos. Também são propostos o reconhecimento de novos Sítios Ramsar na Amazônia", esclareceu
Plantas do cerrado atuam como uma imensa esponja, recarregando aquíferos que abastecem rios e reservatórios
O rio São Francisco está secando, haverá cada vez menos água em Brasília e a cidade de São Paulo terá de aprender a conviver com racionamentos.
O alerta é do arqueólogo e antropólogo baiano Altair Sales Barbosa, que há quase 50 anos estuda o papel do Cerrado na regulação de grandes rios da América do Sul.
Ele diz à BBC Brasil que a rápida destruição do bioma está golpeando um dos pilares do sistema: a gigantesca rede de raízes que atua como uma esponja, ajudando a recarregar os aquíferos que levam água a torneiras de todas as regiões do Brasil.
Formado em antropologia pela Universidade Católica do Chile, doutor em arqueologia pré-histórica pelo Museu de História Natural de Washington e professor aposentado da PUC-Goiás, Barbosa conta que a água que alimenta o São Francisco e as represas de São Paulo e Brasília vem de três grandes depósitos subterrâneos no Cerrado: os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí.
Barbosa afirma que muitas plantas do Cerrado têm só um terço de sua estrutura acima da superfície e, para sobreviver num ambiente com solo oligotrófico (pobre em nutrientes), desenvolveram raízes profundas e bastante ramificadas.
"Se você arrancar uma dessas plantas, vai contar milhares ou até milhões de raízes, e quando cortar uma raiz e levá-la ao microscópio, verá inúmeras outras minirraízes que se entrelaçam com as de outras plantas, formando uma espécie de esponja."
Esse complexo sistema radicular retém água e alimenta as plantas na estação seca. Graças a ele, as árvores do Cerrado não perdem as folhas mesmo nem mesmo no auge da estiagem - diferentemente do que ocorre entre as espécies do Semiárido, por exemplo.
Barbosa conta que, quando há excesso de água, as raízes agem como esponjas encharcadas, vertendo o líquido não absorvido para lençóis freáticos no fundo. Dos lençóis freáticos a água passa para os aquíferos.
O professor diz que essa dinâmica começou a ser afetada radicalmente nos anos 1970, com a expansão da pecuária e de grandes plantações de grãos e algodão pelo Cerrado.
A nova vegetação tem raízes curtas e não consegue transportar a água para o fundo.
Pior: entre a colheita e o replantio, as terras ficam nuas, fazendo com que a água da chuva evapore antes de penetrar o solo. Em alguns pontos do Cerrado, como no entorno de Brasília, o uso de água subterrânea para a irrigação prejudica ainda mais a recarga dos aquíferos.
Em fevereiro, Brasília começou a racionar água pela primeira vez na história - e meses antes do início da temporada seca.
Migração de nascentes
Conforme os aquíferos deixaram de ser plenamente recarregados, Barbosa diz que se acelerou na região um fenômeno conhecido como migração de nascentes.
Para explicar o processo, ele recorre à imagem de uma caixa d'água com vários furos. Quando diminui o nível da caixa d'água, o líquido deixa de jorrar dos furos superiores.
Com os aquíferos ocorre o mesmo: se o nível de água cai, nascentes em áreas mais elevadas secam.
CRÉDITO,ICMBIO
Legenda da foto,
Especialista afirma que, quando há excesso de água, as raízes agem como esponjas encharcadas
Ele diz ter presenciado o fenômeno num dos principais afluentes do São Francisco, o rio Grande, cuja nascente teria migrado quase 100 quilômetros a jusante desde 1970.
O mesmo se deu, segundo Barbosa, nos chapadões no oeste da Bahia e de Minas Gerais: com a retirada da cobertura vegetal, vários rios que vertiam água para o São Francisco e o Tocantins sumiram.
O professor diz que a perda de afluentes reduziu o fluxo dos rios e baixou o nível de reservatórios que abastecem cidades do Nordeste, Centro-Oeste e Norte.
Em 2017, segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), o número de municípios brasileiros em situação de emergência causada por longa estiagem chegou a 872, a maioria no Nordeste.
Já em São Paulo as chuvas de verão aumentaram os níveis das represas e afastaram no curto prazo o risco de racionamento. Mas Barbosa afirma que a maioria dos rios que cruza o Estado é alimentada pelo aquífero Guarani, cujo nível também vem baixando.
O aquífero abastece toda a Bacia do Paraná, que se estende do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, englobando ainda partes da Argentina, Paraguai e Uruguai.
Fotografia do passado
Bastaria então replantar o Cerrado para garantir a recarga dos aquíferos?
A solução não é tão simples, diz o professor. Ele conta que o Cerrado é o mais antigo dos biomas atuais do planeta, tendo se originado há pelo menos 40 milhões de anos.
Segundo ele, olhar para o Cerrado é como olhar para uma fotografia do passado.
CRÉDITO,RUBENS MATSUSHITA, ICMBIO
Legenda da foto,
Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil aponta que 872 cidades ficaram em situação de emergência por causa da estiagem em 2017
"O Cerrado já atingiu seu clímax evolutivo e precisa, para o seu desenvolvimento, de uma série de fatores que já não existem mais."
Ele exemplifica: há plantas do Cerrado que só são polinizadas por um ou outro tipo de abelhas ou vespas nativas, várias das quais foram extintas pelo uso de agrotóxicos nas lavouras. Essas plantas poderão sobreviver, mas não serão mais capazes de se reproduzir.
O Cerrado também é uma espécie de museu porque muitas de suas plantas levam séculos para se desenvolver e desempenhar plenamente suas funções ecológicas. É o caso dos buritis, uma das árvores mais famosas do bioma, que costuma brotar em brejos e cursos d'água.
Barbosa costuma dizer que, quando Cabral chegou ao Brasil, os buritis que vemos hoje estavam nascendo.
Mesmo plantas de pequeno porte costumam crescer bem lentamente. O capim barba-de-bode, por exemplo, leva mais de mil anos para atingir sua maturidade. Barbosa diz ter medido as idades das espécies com processos de datação em laboratório.
Parceria com animais
Sabe-se hoje da existência de cerca de 13 mil tipos de plantas no Cerrado, número que o torna um dos biomas mais ricos do mundo. Dessas espécies, segundo o professor, não mais que 200 podem ser produzidas em viveiros.
Ele conta que a ciência ainda não consegue reproduzir em laboratório as complexas interações entre os elementos do bioma, moldadas desde a era Cenozoica.
Barbosa diz, por exemplo, que muitas plantas do Cerrado têm sementes que são ativadas apenas em situações bem específicas. Algumas delas só têm a dormência quebrada quando engolidas por certos mamíferos e expostas a substâncias presentes em seus intestinos.
Há ainda sementes que precisam do fogo para germinar. Contrariando o senso comum, Barbosa diz que incêndios naturais são essenciais para a sobrevivência do Cerrado e podem ocorrer de duas formas.
CRÉDITO,MARCELO CAMARGO, AGÊNCIA BRASIL
Legenda da foto,
O Cerrado tem hoje cerca de 13 mil tipos de plantas, número que o torna um dos biomas mais ricos do mundo
Uma delas se dá quando blocos de quartzo hialino, um tipo de cristal, agem como lentes que concentram a luz do sol, superaquecendo a vegetação.
A outra ocorre pela interação entre algumas plantas e animais do Cerrado, entre os quais a raposa, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o cachorro-do-mato-vinagre.
Segundo Barbosa, esses mamíferos carregam no pelo uma carga eletromagnética que, em contato com gramíneas secas, provoca faíscas.
O professor diz que o fogo é necessário não só para ativar sementes, mas para permitir que gramíneas secas, que não têm qualquer função ecológica, sejam substituídas por plantas novas.
"Se a gramínea seca fica ali, não tem como rebrotar, então é preciso dessa lambida de fogo natural pra limpar aquele tufo."
Os incêndios também são importantes, segundo ele, para que o solo do Cerrado continue pobre - afinal, foi nesse solo que o bioma se desenvolveu.
"O fogo é paradigma para quem pensa na preservação. Se você pensa como agrônomo, o fogo é nocivo, porque acentua o oligotrofismo do solo."
Estancar os danos
Quando deixa de haver incêndios naturais, os animais e insetos nativos desaparecem e as plantas do Cerrado são derrubadas, é quase impossível reverter o estrago, diz Barbosa.
Mesmo assim, ele defende preservar toda a vegetação remanescente para estancar os danos.
Barbosa diz torcer para que, um dia, a ciência encontre formas de recuperar o bioma.
CRÉDITO,SEDEC/MT
Legenda da foto,
Especialista diz que incêndios naturais são essenciais para a sobrevivência do Cerrado
"Claro que você não vai reocupar toda a área que está produzindo [alimentos], mas você pode pelo menos tentar amenizar a situação nas áreas de recarga de aquíferos."
Sua preocupação maior é com a fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que engloba os últimos trechos de Cerrado no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nos últimos anos, a região tem experimentado uma forte expansão na produção de grãos e fibras.
"Se esse projeto continuar avançando, será o fim: aí podemos desacreditar qualquer possibilidade, porque não teremos nem matriz para experiências em laboratório."
Nesse cenário, diz Barbosa, os aquíferos do Cerrado rapidamente se esgotarão.
"Os rios vão desaparecer e, consequentemente, vai desaparecer toda a atividade humana da região, a começar das atividades agropastoris."
A BBC Brasil elaborou um mapa inédito da flora paulistana original marcada pela diversidade de biomas antes da colonização | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Antes da chegada dos portugueses, quem caminhasse alguns quilômetros pelo território da atual cidade de São Paulo poderia cruzar florestas tropicais com bromélias, orquídeas e árvores de até 45 metros de altura, campos cerrados com espécies de troncos grossos e galhos retorcidos, araucárias e arbustos típicos da região Sul e várzeas de rios que lembravam o Pantanal.
A extraordinária variedade da flora nativa - em parte moldada pelos indígenas que habitavam a área e hoje confinada a poucas ilhas na zona urbana - atraía para a região um conjunto igualmente diverso de animais, entre os quais onças-pintadas, tucanos-de-bico-verde, micos-leões-pretos e veados-catingueiros.
A partir de relatos históricos, de estudos do botânico Ricardo Cardim e de informações etimológicas, a BBC Brasil produziu um mapa inédito das formações vegetais de São Paulo antes da colonização. A ilustração, a cargo do artista Leandro Lopes de Souza, busca recriar a paisagem contemplada da colina onde, em 25 de janeiro de 1554, padres jesuítas celebraram a missa que passou para a história como o ato de fundação da cidade.
"São Paulo era um local extraordinário porque justamente havia essa contraposição de campos, florestas, rios produtivos e muita caça - não por acaso os índios escolheram viver aqui", afirma o pesquisador, que está finalizando um livro sobre a vegetação original da cidade.
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Cerrado e araucárias eram parte da vegetação paulistana | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
No linguajar botânico, São Paulo era um ecótono, ou seja, um ponto de encontro de diferentes biomas. Cardim diz que havia na cidade trechos da Mata Atlântica, vegetação característica do litoral brasileiro, de matas mistas de araucárias, bioma típico do Sul, e do Cerrado, formação predominante no Centro-Oeste.
Ele afirma ainda que nos cerrados paulistanos se achavam plantas do Pampa, bioma do Rio Grande do Sul, e que as várzeas dos rios Tietê e Pinheiros - os maiores da cidade - se assemelhavam ao Pantanal mato-grossense.
A localização de São Paulo - entre a costa e o Planalto Central brasileiro e no limite entre as zonas tropical e subtropical - favoreceu a diversidade de biomas. Também contribuíram sua variedade de solos e topografia irregular (a diferença entre o ponto mais alto da zona urbanizada da cidade, a Vila Mariana, e as águas do Tietê chega a 109 metros, segundo um estudo do geógrafo Aziz Ab'Sáber).
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Guarapiranga, onde há hoje uma represa, vem da união entre guará (garça) e piranga (vermelha), provável referência à espécie Eudocimus ruber | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Moldada por incêndios
Quando os primeiros exploradores portugueses venceram a Serra do Mar, encontraram na futura capital paulista três aldeias indígenas, do povo Tupiniquim.
Em Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, o historiador americano John Manuel Monteiro conta que os povoados não eram fixos: conforme o solo empobrecia e a caça rareava, as comunidades buscavam outras áreas.
Segundo o botânico Ricardo Cardim, sucessivos incêndios - naturais e provocados pelos indígenas - ajudam a explicar a presença de cerrados na paisagem original paulistana. O fogo impedia o adensamento da vegetação e favorecia a sobrevivência de árvores resistentes, com troncos grossos, típicas do bioma.
Cardim diz que os indígenas recorriam ao fogo para abrir clareiras para roças, encurralar animais na caça ou renovar a vegetação campestre. A rebrota atraía herbívoros, entre os quais cervos, que também eram caçados pelos grupos.
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A extraordinária variedade da flora nativa atraía para a região um conjunto igualmente diverso de animais, entre os quais onças-pintadas, tucanos-de-bico-verde, micos-leões-pretos e veados-catingueiros | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Os incêndios comiam as bordas das florestas e as deixavam com formato circular - daí, segundo o botânico, o nome do bairro Capão Redondo, na zona sul da cidade. Havia muitos outros capões (do tupi kaa'pãu, ilha de mato) pelo território.
No início do século 17, a fauna local ainda parecia bem preservada. Segundo o pesquisador, moradores eram alertados sobre os riscos de caminhar nas vias paulistanas "porque havia onças que comiam gente".
Dizia-se que várias delas moravam na serra da Cantareira e desciam até a várzea do Tietê para caçar. Há relatos sobre a presença dos felinos até na região da atual avenida Paulista, então coberta por uma floresta densa, chamada pelos indígenas de caaguaçu (matagal, em tupi). Um trecho da antiga mata deu origem ao Parque Trianon, um dos raros locais na zona urbana que preservam a vegetação original.
Outra área de mata fechada ficava no vale do Anhangabaú, no atual centro da cidade, onde índios escravizados costumavam buscar refúgio. Dessa floresta, nada restou.
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| Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Árvores-bairros
Cambucis e araucárias, que antes cobriam várias partes da cidade, também desapareceram. A primeira espécie, comum nas matas ciliares paulistanas, atraía antas ao frutificar e batizou um bairro da região central.
A segunda, hoje restrita à região Sul e a algumas serras do Sudeste, se espalhava por todos os biomas da cidade. Resistente a incêndios brandos e importante para a alimentação dos indígenas, que consumiam sua semente, o pinhão, a árvore é a razão por trás do nome do bairro Pinheiros.
Outros endereços paulistanos com nomes em tupi dão pistas sobre a riqueza das paisagens nativas, conforme o dicionário tupi-português de Luiz Caldas Tibiriçá (curiosamente, também se chamava Tibiriçá o cacique da antiga aldeia Inhapuambuçu, nas imediações do atual Pateo do Colégio).
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Ilustração de uma murici; hoje, segundo o botânico Cardim, o cerrado paulistano sobrevive em apenas três faixas de terra na zona oeste | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Guarapiranga, onde há hoje uma represa, vem da união entre guará (garça) e piranga (vermelha), provável referência à espécie Eudocimus ruber. M'Boi Mirim, atual estrada na zona sul, é uma possível derivação de mboia mirim, cobra pequena.
Ibirapuera pode vir da junção de ybyrá, árvore, e puera, sufixo que indica passado, algo "que foi" - possível menção ao charco com troncos secos (que já foram árvores) onde se criou o principal parque da cidade, drenado após o plantio de eucaliptos australianos.
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Localização de São Paulo favoreceu a diversidade de biomas e a presença do jerivá | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Ipiranga, cujas margens plácidas ouviram o brado retumbante, é rio vermelho - e que, como tantos outros cursos d'água paulistanos, foi canalizado conforme a cidade crescia.
O bioma paulistano mais golpeado pela urbanização foi o Cerrado, que, segundo Cardim, se estendia por boa parte da cidade atual, incluindo trechos dos bairros do Ipiranga, Bela Vista, Luz, Butantã, Vila Mariana e a região do aeroporto de Congonhas.
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Cambucis e araucárias, que antes cobriam várias partes da cidade, também desapareceram | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
A formação foi descrita no fim do século 16 por um antepassado do botânico - e que, embora padre, deixou herdeiros no Brasil -, o jesuíta português Fernão Cardim. Em visita à então vila de Piratininga, embrião da São Paulo contemporânea, ele comparou a vegetação à do país natal.
"É terra de grandes campos e muito semelhante ao sítio de Évora, na boa graça, e campinas, que trazem cheia de vacas, que é formosura de ver", descreveu numa carta ao superior eclesiástico. "Esta terra parece um novo Portugal", concluiu, encantado.
Hoje, segundo o botânico Cardim, o cerrado paulistano sobrevive em apenas três faixas de terra na zona oeste - duas delas na Cidade Universitária e uma no Jaguaré.
Uma boa amostra da formação original está no Parque Estadual do Juquery, no município vizinho de Franco da Rocha. Para Cardim, trata-se da "última joia incrustada (na região metropolitana de São Paulo) que conserva o cerrado perfeito", onde se encontram espécies como pequizeiros, palmeiras macaúbas e muricis.
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Mesmo que São Paulo ficasse desabitada e suas construções fossem demolidas, jamais recuperaria os biomas originais; na imagem, cambucis | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Floresta cultural
Ao longo do desenvolvimento de São Paulo, as árvores nativas foram cedendo espaço não só para construções, mas também para espécies exóticas. Hoje, de acordo com Cardim, 90% das plantas da cidade são estrangeiras.
"Somos como aqueles cariocas que há cem anos andavam de cartola e casaco de pele na beira da praia porque queriam ser franceses. O paulistano, no que se refere ao paisagismo e às áreas verdes, quer ser tudo, menos brasileiro."
Por isso, diz o botânico, mesmo que São Paulo ficasse desabitada e suas construções fossem demolidas, jamais recuperaria os biomas originais.
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No linguajar botânico, São Paulo era um ecótono, um ponto de encontro de diferentes biomas; acima, jabuticabeira | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
Ele afirma que as antigas áreas de Cerrado seriam sufocadas por capins estrangeiros e que não haveria mais incêndios para manter o equilíbrio do bioma.
Com o tempo, diz ele, a cidade seria tomada por uma floresta densa - "mas não uma Mata Atlântica natural, e sim uma floresta cultural, que refletiria nossas escolhas enquanto sociedade e serviria como um registro da nossa passagem por aqui".
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A localização de São Paulo - entre a costa e o Planalto Central brasileiro e no limite entre as zonas tropical e subtropical - favoreceu a diversidade de biomas | Ilustração: Leandro Lopes de Souza
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