16 de junho de 2020

Viagens pós-pandemia serão de carro, para destinos próximos

No caso do avião, serão deslocamentos de no máximo três horas; destinos de natureza também serão tendência


Véu de Noiva, na Chapada dos Guimarães (MT)

Foto: Divulgação / Estadão Conteúdo


Com tantas dúvidas na bagagem, os brasileiros devem começar a se aventurar pelo território nacional na pós-pandemia, dizem os especialistas entrevistados pelo Estadão. "Do mesmo jeito que o Brasil abandonou o marketing em mercados internacionais, parou também de se comunicar com o brasileiro. Mas, enquanto as fronteiras estiverem fechadas, viajaremos com prazer pelo Brasil. É possível que a vontade reprimida de viajar nos faça ver os atrativos brasileiros com outros olhos", afirma Ricardo Freire, à frente do site Viaje na Viagem.

O desejo de viajar pelo próprio país é visto em diversos lugares. Na China, por exemplo, uma pesquisa da consultoria Oliver Wyman mostrou que 77% dos 1 mil chineses entrevistados, de 18 a 24 anos, dão preferência a destinos nacionais para a primeira viagem depois que a covid-19 estiver vencida. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), os desembarques internacionais devem cair entre 60% e 80% no mundo em 2020. Isso significa de 850 milhões a 1,1 bilhão de viajantes estrangeiros a menos.

No Brasil, diversas campanhas incentivam o turismo doméstico. O movimento #ViajePeloBrasil reúne em torno de 20 associações do setor, como o Sistema Integrado de Parques e Atrações Turística (Sindepat), que tem Beto Carrero World, Bondinho Pão de Açúcar e Beach Park entre seus associados. No site da CVC, por exemplo, os destinos mais buscados para viagens a partir do quarto trimestre são Maceió, Gramado e Rio de Janeiro.

Entre vizinhos

Outra tendências apontadas pela OMT para a retomada das viagens são as bolhas regionais, distantes de ser uma realidade para o Brasil na América do Sul. "O que mais se configura no mundo são as bolhas, por exemplo entre a Austrália e a Nova Zelândia e entre os países bálticos", explica Luiz Gonzaga Godoi Trigo, professor do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP). "Mas aqui Uruguai e Argentina estão com fronteiras fechadas para nós."

É que o Brasil faz um movimento diferente de outros países, que saíram da quarentena para reaver suas atividades, incluindo viagens, após vencerem o pico da covid-19. A curva de contaminação e m

ortes pelo coronavírus segue subindo no País, no entanto vários destinos, hotéis e atrações já anunciam a reabertura, com expectativa crescente no número de visitantes a partir de julho. "Aqui ainda não é o momento em que eu recomendaria para viajar", alerta Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, médico do Hospital Emílio Ribas. "Quando a gente está falando de turismo está falando de deslocamento. A doença viaja com as pessoas."

Em escapadas a cidades próximas, outra tendência forte na pós-pandemia, "o risco é um pouco menor porque normalmente são situações semelhantes em relação à doença", segundo o infectologista. "Considerando que não tem vacina e que, quando tiver, a imunização de todo mundo vai demorar meses, as tendências de viagem ainda serão bem restritas no próximo ano", afirma Trigo, professor da USP. "As primeiras viagens serão de carro, trem, ônibus, com distanciamento, higienização rigorosa. Os últimos a voltar serão os navios."
Escapadas

Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Serviço Social do Comércio no Estado de São Paulo (Sesc-SP), que organiza excursões e passeio a preços acessíveis, a segurança de viajar apenas com parentes ou amigos, reforça a tendência de escapadas de carro. "Creio que roteiros personalizados ganharão força, mas não acredito que isso impeça a retomada dos pacotes turísticos, desde que revestidos dos protocolos de segurança sanitária necessários aos novos tempos."


Por causa do medo causado pelo coronavírus, muita gente deve evitar o avião no início de retomada, então os brasileiros irão viajar mais de carro. Isso levou operadoras do setor, como a CVC, a focar também nesse estilo de viagem. "O turismo de proximidade deve crescer. Por exemplo, as pessoas saírem de São Paulo e irem para Campos do Jordão para passar o final de ano, em vez de irem, como iam no passado, para o Nordeste, o Caribe ou a Europa", disse Leonel Andrade, presidente do grupo CVC Corp, em uma live promovida pelo Estadão. "Nós estamos desenhando tudo com os grandes destinos, com hotéis, pousadas, casas. Nosso objetivo é chegar no final de junho com todo um endereçamento de produtos e serviços para o segundo semestre."

O Circuito Litoral Norte, formado pelas prefeituras de Bertioga, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, vem trabalhando com empresas como CVC, Abreutur, Decolar, Interep e Orinter, para criar pacotes com uma ou mais cidades da região. Desde 4 de junho, hotéis e pousadas de Monte Verde, no sul de Minas Gerais, funcionam com até 40% da ocupação - a Agência do Desenvolvimento de Monte Verde e Região (Move) já negocia um aumento nesse limite, para depois de 17 de junho, com o município de Camanducaia, a que pertence o distrito.

Depois da Serra Gaúcha, primeiro destino nacional a voltar a receber visitantes no início de maio, outro importante destino do Brasil, Foz do Iguaçu celebrou o aniversário da cidade, em 10 de junho, com a reabertura para o turismo. A cidade das cataratas anunciou que pontos turísticos e hotéis de maior porte terão barreiras para identificar e testar visitantes com sintomas compatíveis com a covid-19, como febre, gripe ou problema respiratório nos 14 dias anteriores.

Em Bonito, cidade do Mato Grosso do Sul que é referência em ecoturismo no País, desde 1º de junho está permitido o funcionamento da hotelaria e de atrativos turísticos, desde que suas respectivas associações apresentem protocolos de biossegurança ao município e seus integrantes se comprometam a cumprir essas normas. A retomada do setor é esperada a partir de julho. "Vários destinos de ecoturismo já tinham normas. Por exemplo, na flutuação em Bonito, é uma prática corriqueira a esterilização de bocais e roupa de neoprene", diz Israel Waligora, sócio-fundador da Ambiental Turismo.
OUTRAS TENDÊNCIAS

Turismo dentro do Brasil

"O brasileiro médio, incluindo e talvez até principalmente o turista de alta renda, tem um enorme déficit de viagem pelo Brasil. Alguém que tire uma ou duas semanas de férias anuais pode passar dez anos de férias sem sair do Brasil com imenso proveito", afirma Ricardo Freire, especialista no assunto. Para Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em vez de campanhas para trazer mais viajantes de fora, deveria se pensar em incentivar o turismo doméstico. "O gasto lá fora de brasileiros é maior do que o que o estrangeiro faz no Brasil. É um problema da sociedade, não do setor. A gente não valoriza o que nosso."

Voos curtos

No começo, as viagens de avião tendem a ser de no máximo três horas. "Tem de usar máscara o tempo todo, mas é desconfortável", diz Luiz Gonzaga Godoi Trigo, professor da USP. E acrescenta: "Na classe econômica, vai todo mundo amontoado. Lá no meio, é impossível você não se contaminar. As pessoas vão ter medo no começo."

Destinos conhecidos

Outra tendência de comportamento apontada por especialistas será a de retornar a lugares conhecidos. "Acreditamos que os viajantes passarão a adotar é a busca por destinos que já tenham familiaridade, locais que trazem bem-estar e garantia de bons momentos. Isso significa que o brasileiro vai acabar viajando para destinos que já conhece e vai deixar para explorar novas opções mais para frente", acredita Claiton Armelin, diretor de Produtos Nacionais da CVC.

Ecoturismo

Depois de um longo período de isolamento em casa, os especialistas imaginam que os viajantes estarão propensos a se aventurar por destinos de ecoturismo, na praia e na montanha. "Quando da abertura, estão falando que deve haver uma procura por natureza. Fico alegre de ouvir isso, mas não acho que é uma coisa automática", diz Israel Waligora, sócio-fundador da Ambiental Turismo. No retorno das atividades, ele acredita que destinos de ecoturismo em São Paulo voltarão antes dos demais também, até por questões econômicas, já que são mais baratos que saídas para destinos fora do Estado. "Em um ano e dois anos, imaginamos um público com menor. Uma simplificação da viagem deve se impor num primeiro momento. Petar, caminhadas na Serra do Mar, Socorro e Brotas são destinos que devem ter mais procura. É muito importante essa retomada porque beneficia os receptivos locais."

Público controlado

Primeiro destino nacional a voltar a receber viajantes no início de maio, Gramado trabalha com uma capacidade reduzida em hotéis e atrativos. O Bustour, que passa por pontos da cidade gaúcha e da vizinha Canela, está operando novamente. Com no máximo 50% da capacidade, o ônibus hop on hop off está rodando desde 5 de junho, mesma data do retorno do Bier Park, parque cervejeiro na Rua Coberta. Por sessão, apenas seis pessoas entram com intervalos de 40 minutos entre as visitações.

Selos de segurança

São vários selos sendo lançados. O Ministério do Turismo tem o Turismo Responsável, já usado por agências e hotéis como o Barretos Country Thermas Resort, um dos primeiros no interior paulista a conseguir a certificação. No mundo, antes de todos os destinos, o Turismo de Portugal lançou o selo Clean & Safe. Agora é o primeiro da Europa a receber o selo Safe Travels do World Travel & Tourism Council (WTTC), conselho mundial de turismo composto por cerca de 200 CEOs e presidentes das principais empresas do setor no planeta.

Cautela na compra

Depois das viagens não realizadas devido à pandemia, o brasileiro deve recorrer ainda mais a avaliações positivas de empresas e a regras de cancelamento, acredita Henrique Lian, diretor de Relações Institucionais e Mídia da Proteste. "No caso do turismo, é preciso ter cuidado, pois existem muitas empresas pequenas que podem se dissolver rapidamente. A possibilidade de ter de entrar em uma lista enorme de credores numa vara de falência e recuperação judicial para tentar receber definitivamente não é uma boa perspectiva."

NESTE VÍDEO VEJAM - Fervedouro Borbulha,na divisa de Mato Grosso com o Pará - Mato Grosso Extremo Turismo e Expedições


ASSISTAM - Vale a Pena 

Mato Grosso Extremo Turismo e Expedições em Fervedouro Borbulha.

Fala Turma preparei com muito carinho esse vídeo de uma das expedições mais loucas que já fiz. 

Pra que vocês possam mesmo que de casa, ter um pouco de aventura, vem comigo dar uma espiadinha nesse vídeo.


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Desenvolve-MT disponibiliza linhas de crédito emergencial para atender empresas

Microempreendedores individuais, microempresas e empreendedores do trade turístico terão à disposição financiamentos para estimular seus negócios e a economia

Livia Rabani | Desenvolve-MT

- Foto por: Arte/Secom


O Governo de Mato Grosso, por meio da Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso – Desenvolve MT disponibiliza crédito emergencial para os microempreendedores individuais, microempresas, empreendedores do trade turístico (hotéis, pousadas, bares, restaurantes e similares). A medida é voltada ao enfrentamento dos impactos financeiros do coronavírus na economia.

Agora, o empresário pode contar com duas linhas especiais: Capital de Giro Emergencial e Fungetur Giro, ambas com taxa de juros reduzida e maiores prazos de carência.

Para ter acesso ao financiamento da linha Fungetur Giro é necessário que a empresa tenha o selo do Cadastur (Cadastro Prestadores de Serviços Turísticos) e doze meses de atividades.


Confira as novas condições:

Linha
Valor
Carência
Prazo    Total
Taxa de Juros
   Informações
Capital de Giro
até R$ 10 mil
(Até)
12 meses*
(Até)
48 meses
1,20% a.m.*
*com bônus de adimplência de 20%
FUNGETUR Giro
até R$ 100 mil
(Até)
12 meses*
(Até)
48 meses
5,00% a.a.   +INPC

*Durante a carência haverá cobrança dos juros do financiamento.

O horário de atendimento ao público presencial será feito por agendamento de segunda à sexta-feira das 9h às 13h.Ou pelos canais virtuais que seguem abaixo.

15 de junho de 2020

PILARES ORGÂNICOS

A produção de alimentos orgânicos como alternativa para um mundo sadio e sustentável

POR ALAN ANDRADE (ALAN@AVOZDASERRA.COM.BR)

Diante do surgimento da pandemia da Covid-19, uma doença que vem assolando o planeta, com desdobramentos sociais, políticos e econômicos, percebe-se a necessidade de mudança de pensamento frente a esse novo cenário que se desscortina diante de nossos olhos, um futuro de incertezas ao qual precisaremos nos adaptar. No cerne desses novos hábitos, o alimentar talvez encontre espaço de maior reflexão – ou pelo menos deveria –, uma vez que ele é um dos pilares de nossa existência. 

“A sociedade se habituou a tomar remédio pra tudo, quando na verdade os remédios são os nossos alimentos.”

MARCELOA produção de alimentos, ainda regida em larga escala pelo agronegócio, com suas imensas engrenagens que colocam às nossas mesas seus produtos oriundos do extrativismo insustentável, é cada vez mais questionado. Não apenas pela logística de sua distribuição pelos mercados, território por ora evitado por grande parte da população, como também pelo desejo de transformação interior desses consumidores a partir do cultivo de seu próprio alimento, caso disponha de um pequeno terreno para a construção de canteiros e hortas, ou a partir da fomentação do mercado de produtos orgânicos, através do trabalho de agricultores no manejo de pequenas áreas cultiváveis.

Esta mudança de paradigmas, cujo poder de transformação ultrapassa os limites até então impostos por um massivo sistema de produção alimentar, originou a criação de um minidocumentário por A VOZ DA SERRA, que reuniu depoimentos de três personagens com histórias e trajetórias distintas, mas unidos por um mesmo desejo de mudança que revolucionou suas vidas.

Acompanhado do fotógrafo e cinegrafista Henrique Pinheiro, pegamos a estrada de terra batida que nos levou até Galdinópolis, no distrito de Lumiar, deixando todo aquele movimento da cidade cada vez mais dissolvido na poeira que o cobria.

A terra


Ailson José Boy, nosso primeiro entrevistado, nos recebeu na varanda de sua casa, em um pequeno sítio, de beleza singular, ao lado de Regina, sua companheira. Antes de darmos início à filmagem, seu Ailson confidenciou que não estava habituado a falar diante de uma câmera, antecipando que “gente da roça tem muita vergonha e que não sabe conversar”, quando na verdade era justamente sua verdadeira essência que enriqueceria profundamente nosso trabalho. Sua simplicidade e timidez não conseguiriam jamais esconder o grande conhecimento do homem da terra, que retirou dela ensinamentos impossíveis de serem completamente traduzidos por qualquer academicismo.

Antes de viver neste sítio, ele passou sua juventude trabalhando na lavoura com seu pai, naquela mesma região. À época sua principal produção era a de inhame, no qual aplicavam o Gramoxone, um herbicida capaz de causar intoxicações por via cutânea. “Eu nem tinha 18 anos quando peguei o primeiro veneno no sangue. Daí comecei a sentir um pouco de fraqueza. Fiz um exame numa escola em Santiago, perto de Lumiar. Eu não estudava, só trabalhava com meu pai. Deu Gramoxone no sangue”, relatou.

Seu Ailson continuou trabalhando com o pai até os 22 anos, quando passou a trabalhar por conta própria, na lavoura de tomate, onde também usavam agrotóxicos. “O tomate é um problema sério, porque não é uma lavoura rasteira. Você planta, depois ela sobe pelo bambu, aí você sulfata para cima e o veneno cai todo no seu rosto”. Com quase 30 anos, após anos de exposição, ele passou por um problema de saúde ainda mais grave, onde sofreu com uma fraqueza severa nos membros que o impossibilitava de ficar em pé. “Parei no hospital, fiquei seis dias fazendo exames, sem nem beber água, nem remédio para dor de cabeça. O médico falou: ‘Eu tenho uma notícia para te dar: você está com veneno no cérebro’”.

Não havia remédio para isso, e talvez seu Ailson precisasse ficar internado por seis anos. Temendo ficar tanto tempo parado, ele procurou tratamento particular, que durou oito anos, período em que gastou todo o dinheiro que tinha recebido pelo trabalho na lavoura. “Voltei a andar e o médico sempre falava: ‘Ailson, se você quiser viver, pare com o veneno’. Mas parece que meu corpo pedia veneno. Parece um vício”, ressaltou.

Pouco tempo depois vendeu um terreno vizinho a um engenheiro, de quem se tornou amigo e que o aconselhou da mesma maneira. Aos poucos ele voltou a plantar – dessa vez sem uso do agrotóxico –, e, por orientação desse amigo, começou a cultivar cogumelos paris, shimeji e shiitake em blocos feitos com raspas da madeira de eucalipto misturadas com serragem fina e farelo de cereais. E os problemas de saúde decorrentes do uso de insumos químicos ficou para trás. “Eu gosto de aconselhar as pessoas a não usar o veneno, só que aquele que está usando e que nunca sentiu na pele, não acredita que faz mal na gente. E aquele que vai comer sua planta também está sendo prejudicado, talvez até mais”, finaliza.

Além do cultivo de cogumelos, ele e Regina possuem uma hortinha orgânica, de onde retiram os produtos que são vendidos na Feira Agroecológica de Lumiar, aos domingos, uma organização coletiva de grande importância para os produtores locais, organizada pela Associação Agroecológica e de Agricultura Familiar de Lumiar e Arredores (Alumiar), da qual Ailson é presidente.

Quando nos encaminhávamos para o final da filmagem, chegou ao sítio o amigo de Ailson e vice-presidente da associação, Marcelo Meirelles, nosso segundo personagem, que nos levou até o seu sítio.


A espiritualidade

Seguimos o carro de Marcelo até o sítio de sua família em Macaé de Cima, atravessando com muita dificuldade os enormes buracos da estrada, que permanece em péssimo estado de conservação, não obstante a antiga reivindicação dos moradores por melhorias, nunca realizadas.

“O nosso avô deixou como herança esta propriedade, que estava abandonada, pois cada um estava seguindo sua vida na cidade. Eu estava lá meio errante e resolvi apostar nesse caminho, e tenho certeza que dei um sentido à minha vida e retomei o entusiasmo que há muito tempo tinha perdido”, conta. 

Entre 1989 e 2009, Marcelo trabalhou como designer de moda para renomadas grifes do país. Contudo, no momento em que sua carreira profissional começou a declinar, diante das adversidades, Marcelo passou por uma “catarse profunda”, que o levou a iniciar seu caminho para o autoconhecimento. Se antes viajava para os grandes centros mundiais da moda, em 2012 desembarcou pela primeira vez na Índia, onde faria sua viagem mais significativa, a interior, que mudaria todo o curso de sua jornada.


“Eu encontrei um caminho de meditação que acalmou totalmente a minha angústia. E esse caminho me levou também a trocar minha vida da cidade, da moda, pela vida no campo, onde planto meu alimento. Eu estou muito feliz com esta opção, sabendo que eu estou trazendo saúde não só para minha família, como também para todo mundo no meu entorno”, garante.

Marcelo passou dois meses em um retiro espiritual meditando no Ashram de Siddha Yoga, que já serviu como cenário para o filme “Comer, rezar e amar”. Depois de sua segunda passagem pela Índia, em 2015, passou a administrar o sítio de sua família, inicialmente apenas aos fins de semana, até que em 2018 tomou a decisão de se mudar para lá, junto com sua atual companheira, a paulistana Adriana Cezar. “Conheci minha mulher em 2017, quando ela foi para o mesmo Ashram e morou lá por cinco meses. Nos conhecemos pela internet, através de serviços voluntários que fazíamos para o caminho de Siddha Yoga (meditação). Os dois tiveram seu primeiro filho em agosto de 2019, quando ele tinha 56 e ela 43 anos.

Em seu sítio, onde Marcelo plantou 1.600 mudas de árvores frutíferas e da Mata Atlântica, o principal foco de cultivo são produtos com alto valor nutricional e medicinal, como o açafrão-da-terra (cúrcuma), o gengibre e a batata yacon – tubérculo de origem andina e rico em um tipo de carboidrato chamado inulina, com menor valor calórico e que, por isso, pode ser inclusive utilizada na dieta de um paciente diabético.

Marcelo tomou da Ayurveda (tradicional medicina indiana onde a saúde está diretamente interligada com a função gastrointestinal) conceitos importantes sobre o valor nutricional. “A sociedade se habituou a tomar remédio para tudo, quando na verdade os remédios são os nossos alimentos. E esse é o nosso conceito principal aqui, onde a gente planta remédios”, sustenta ele. 

A transformação na vida de Marcelo, iniciada pelo caminho espiritual que trilha até hoje, se renova sempre a partir desta relação que estabeleceu com a produção de alimentos orgânicos, que, segundo ele, passa por uma “nova geração” – deixa de ser uma prática individual para se tornar coletiva, como é perceptível a partir do trabalho que vem sendo realizado na Alumiar. “É uma bênção poder compartilhar o tanto que a natureza nos oferece. E é isso o que a agricultura orgânica traz para a gente: valores verdadeiros”, diz.


A educação

Na semana seguinte, pegamos a estrada mais uma vez para filmar nosso terceiro e último personagem, o biólogo Diogo Busnardo, que nos recebeu em seu sítio em Vargem Alta, onde vive com sua companheira Ludmila Zaiden, também bióloga, e seus dois filhos, Cainã e Catarina. Diogo conheceu Ludmila em um Congresso de Agroecologia em Caxambu, no sul de Minas Gerais, na mesma ocasião em que tomou conhecimento do livro Bases ecológicas de uma agricultura sustentável, de Stephen Gliessman, que lhe revelou o sentido de sua escolha pela Biologia.

O casal descobriu que a Universidade Federal de Viçosa havia acabado de abrir inscrições para cursos de pós-graduação em Agroecologia e Ecologia da Restauração, suas áreas de interesse. Contudo, em vez de seguir o mestrado, Diogo acabou entrando para o Grupo Apêti, projeto da universidade que desenvolve estudos e práticas agroflorestais. “Na outra semana eu já estava com um facão na mão, manejando um sistema agroflorestal implantado há 18 anos pelo Ernst Götsch (agricultor e pesquisador suíço), que é o fundador dessa metodologia. 


Ele costuma falar que é uma agricultura de processos, e não de insumos. Porque a agricultura como a que temos hoje depreda os nutrientes do solo, enquanto que na agricultura sintrópica, a partir dos próprios vegetais, do próprio arranjo do sistema, você consegue criar sistemas altamente complexos e produtivos, onde os insumos são diminuídos ao extremo, e não se utiliza veneno”, enfatiza.

Contudo, a submissão ao universo acadêmico fez com que Diogo e Ludmila repensassem a realidade que gostariam de viver. Compraram o sítio em que moram atualmente, que atendia seus anseios: “Um lugar de fácil acesso, não tão distante da cidade, onde a gente pudesse fazer uma escola prática, onde pudéssemos fazer uma mudança real num lugar necessitado”. Surgia assim o projeto Sítio Terra do Saci, destinado à difusão de tecnologias alternativas e sustentáveis, onde Diogo produz suas hortaliças e frutas dentro de um sistema agroflorestal, com destaque para o cultivo do juçaí (fruto da palmeira Juçara), e onde Ludmila, integrante de uma rede de mulheres empreendedoras (Kriya), desenvolve produtos cosméticos naturais a partir de ervas medicinais.

Pesou também nessa decisão de se mudarem para lá a possibilidade de criar seus filhos num lugar em que pudessem crescer e se desenvolver em completa sintonia com a natureza, desbravando a alegria genuína da infância resguardada pela liberdade do campo. Contudo, o uso intensivo de agrotóxicos em Vargem Alta, segundo maior produtor de flores de corte do Brasil, é um fator que preocupa produtores como Diogo, que este ano voltou a dar aula de práticas agrícolas no Ibelga Ceffa Flores, escola voltada para a formação de filhos de produtores rurais. Diante da dura experiência com o uso de agrotóxicos relatada por Ailson, faz-se necessário refletir sobre a relação dessa nova geração com a disseminação da prática agroecológica.

Pessoas como seu Ailson, Regina, Marcelo, Adriana, Diogo e Ludmila têm sido agentes fundamentais no processo de transformação do pensamento em relação à alimentação. Mudanças importantes ainda precisam ser semeadas para que esta ideia germine uma vida saudável e sustentável para o planeta.


Consumo de alimentos orgânicos aumenta durante a quarentena

Entrevista com Flávio Stern, proprietário e cozinheiro do restaurante Trilhas do Araçari

POR JORNAL A VOZ DA SERRA



Localizado em Mury, no meio da Mata Atlântica, o Trilhas do Araçari é um espaço que oferece experiências inéditas, que vão além da oportunidade de experimentar a gastronomia vegetariana. 

Cercado por 180 mil metros quadrados de puro verde, bem próximo a uma área de preservação ambientaI, o local é ideal para encontros familiares, grupos de amigos e até para comemorar datas especiais.

A proposta é fazer os visitantes se sentirem à vontade em um ambiente familiar onde a preservação do meio ambiente é uma das prioridades. Serve como exemplo de como é possível ter momentos inesquecíveis unindo alimentação saudável e modo de vida sustentável. 

Os pratos servidos para os visitantes do Trilhas do Araçari são elaborados pelo gestor do espaço e dono da ideia, Flávio Stern, 63 anos, especialista em uma gastronomia especial. 

“Minha formação vegetariana/vegana vai além porque a estudo e pratico há uns 15 anos, quando ainda nem existia esse tipo de cozinha especializada. Antes minha área de atuação era administrativa/financeira. Então, posso dizer que faço uma gastronomia autorial”, esclareceu, acrescentando que parte dos ingredientes são colhidos na horta que fica a poucos metros da cozinha. 

Nesta entrevista Stern fala de seu projeto “Leve a horta do trilhas para sua casa”, que consiste em dar a oportunidade para as pessoas usufruírem de uma alimentação sem agrotóxico, portanto, mais saudável. 

Como e quando você teve a ideia de ter uma horta em seu restaurante?

O sonho de qualquer cozinheiro é poder usar produtos sempre frescos, colhidos na hora, preservando as texturas e sabores. E também mantendo a qualidade natural dos produtos o que muda completamente o resultado das receitas. 

A sua horta possui a forma de uma estrela de Davi. Por que? 

Sempre quis ter uma horta em forma de mandala e na hora de decidir escolhi a estrela de Davi com os quatro elementos: terra, fogo, água e ar. Terra, como o signo de Capricórnio; fogo, sol no centro da Mandala; água, com duas ondas; e ar, com dois cometas. Escolhi a estrela de Davi porque acredito que ela marcou o início das religiões, quando as coisas começaram a acontecer. 

A que se deve o fato do consumo de orgânicos ter aumentado nessa quarentena? 

Acho que com a quarentena a preocupação de comer mais saudável, até para criar imunidade, vem aumentando, aliado à preocupação de se alimentar melhor também. Para facilitar essa opção de comer de forma mais saudável, estamos fazendo delivery pelo WhatsApp (22) 99748 6357. Com cogumelos frescos, saladas, legumes, verduras, arroz integral, cremes e sopas para a noite, etc. Sempre com a preocupação de oferecer alimentos sem agrotóxicos e conservantes.

Há quanto tempo o Trilhas do Araçari existe? 

Há 11 anos, portanto, já adquirimos alguma maturidade. E voltando para o nosso propósito de fomentar uma alimentação saudável, é importante lembrar que também recebemos estudantes de colégios de Friburgo e do Rio, com o objetivo de incentivar hábitos saudáveis, através da disseminação de conhecimento desta área relativa ao turismo pedagógico. 


A vida do solo

Existe um antigo ditado que diz: "Solo sadio – planta sadia – homem sadio. E pessoas com um espírito sadio não destroem sua base vital e o ambiente onde vivem, mas o conservam.”

POR MARIA CLARA ESTODUCTO PINTO

Ilustração: obra Ana Primavesi, de Pamella Simioni. 

Nos tons terrosos, foram usadas tintas naturais feitas com pigmentos extraídos do solo

Esta frase, dita pela renomada engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi (1920 – 2020), pesquisadora austríaca precursora da Agroecologia no Brasil, sintetiza a essência do manejo e conservação do solo, levando em consideração o universo vasto e impressionante que o compõe.

O valioso trabalho desta pesquisadora demonstra a importância da atividade macro e microbiológica do solo, com a produção de matéria orgânica a partir da compostagem e vermicompostagem (com o uso de minhocas), a utilização de adubos verdes, o plantio sem o revolvimento do solo e adição de insumos químicos, além do controle biológico que substitui o uso de inseticidas, com os chamados inimigos naturais.

Seus estudos relacionados à agricultura ecológica retratam a natureza como uma teia da vida que interrelaciona o solo, a água, o clima, os microrganismos, as plantas e os animais. A pesquisadora sempre buscou levar seus conhecimentos à todas as esferas da sociedade, principalmente aos agricultores, para que estes conheçam as características de um solo vivo, buscando autonomia em seus cultivos.

A “Revolução Verde” e a industrialização da agricultura

Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, o que restou de armas químicas, perdeu suas funções. Como alternativa para que se salvasse as indústrias químicas, estas armas passaram a ser utilizadas na agricultura. O período correspondente à então “Revolução Verde” chegou ao Brasil durante a ditadura militar, entre as décadas de 1960 e 1970. A partir deste momento, houve uma crescente industrialização e mecanização da agricultura.

Os pacotes tecnológicos oferecidos aos agricultores não correspondiam às suas realidades econômicas, culminando no êxodo rural e, consequentemente, na substituição desses trabalhadores do campo por máquinas e agroquímicos. Com isso, iniciou-se uma exploração e utilização massivas do solo, causadas principalmente pelo monocultivo, esgotando os nutrientes da terra.

Em um contexto atual onde se propaga o agronegócio como “pop”, é importante nos informarmos quais os impactos quando estamos consumindo esses produtos, uma vez que não contribuem para a conservação dos recursos naturais, da agrobiodiversidade e dos conhecimentos tradicionais.

Agroecologia como caminho para promover a “agricultura da não-violência”

Ana Primavesi relata que a agricultura convencional em si já é uma violência às estruturas e aos processos da natureza, onde os sistemas mecanicistas destroem o solo, a água, o clima e, consequentemente, o futuro da humanidade. Porém, existem outras formas de se produzir sem agredir nossos recursos naturais.

A agroecologia surge como uma ciência multidisciplinar, além de um movimento social com organizações de camponeses, indígenas e mulheres, que proporciona a união de saberes técnico-científicos e de povos tradicionais, destacando os saberes do campo para a promoção e conservação da sociobiodiversidade.

Ela promove a segurança alimentar, estimula as feiras, conservação de sementes crioulas - consistindo em uma ruptura com o uso de sementes geneticamente modificadas oferecidas por grandes multinacionais -, além de integrar arte, cultura e políticas públicas. Torna-se importante instrumento de conscientização e mudança frente à atual pandemia, em que há a necessidade de se repensar o modelo do agronegócio vigente para enfrentarmos a crise civilizatória.

Existem algumas práticas utilizadas na transição agroecológica, como a rotação de culturas, em que a cada ciclo são cultivadas espécies diferentes em uma mesma área, para não se esgotar os nutrientes do solo; a utilização de adubos verdes com uso de plantas leguminosas, onde suas raízes, consorciadas com bactérias chamadas rhizobium, fixam nitrogênio da atmosfera no solo; os policultivos, com a associação de várias espécies na mesma área e ao mesmo tempo, como por exemplo: hortaliças, milho, mandioca etc; e a cobertura do solo com palhas ou vegetação, que protege os solos tropicais contra a insolação direta, o impacto das gotas de chuva e do vento, nutre a fauna do solo e incorpora essa cobertura através de sua decomposição, produzindo matéria orgânica, entre outros benefícios.

O solo é nosso maior patrimônio

Quando falamos da utilização do solo, podemos levar em consideração aspectos que não são exclusivos da alimentação, como também para as construções civis, água, promoção da saúde, educação, arte, lazer etc. Desta forma, devemos compreender a importância que o solo tem nas nossas vidas e dos serviços ecossistêmicos por ele prestados.

O solo é um ambiente complexo onde há interações químicas, físicas e biológicas. A vida do solo é representada por animais invertebrados, fungos e bactérias, que são a grande chave para a manutenção do solo como um organismo vivo através de vários processos, em que os organismos mobilizam os nutrientes e os disponibilizam para as plantas. Assim, devemos preservar a fauna que transita pelo solo, como por exemplo as minhocas – consideradas as “engenheiras do solo” –, que promovem a fertilidade através da produção de matéria orgânica e a permeabilidade ao cavarem túneis, contribuindo para um melhor enraizamento.

Entendendo-se que a matéria orgânica é um elemento primordial para a manutenção de um solo sadio, é importante realizar um manejo que não seja nocivo e que promova a conservação dos seres que ali vivem, colaborando para o equilíbrio e o respeito à natureza, onde o solo é a base de toda a vida.

*Maria Clara Estoducto Pinto é bióloga, professora e mestranda em Agricultura Orgânica pela UFRRJ/Embrapa Agrobiologia.

A Natureza é uma forma de inteligência que o homem não compreende

“Sem a Natureza em equilíbrio, não podemos viver bem. Vimos isso em Friburgo em 2011 e vemos agora com o coronavírus, frutos do desequilíbrio”, diz Carolina Ribeiro

POR POR CAROLINA RIBEIRO*
(Foto: Thiago Lima)


O que a pandemia do coronavírus tem a ver com a agricultura orgânica e a sustentabilidade? No caso do Brasil, você pode encontrar uma geleia de blueberry da Dinamarca no supermercado, mas não vai encontrar uma geleia de pitanga da Mata Atlântica. Nada a ver, né? De primeira parece que uma coisa não tem a ver com a outra, mas na verdade tem. Na era da globalização, ganhamos uma diversidade de trocas, sejam elas culturais ou em forma de bens, produtos e serviços (e claro, não vamos nos esquecer das trocas viróticas!).

“Você pode encontrar uma geleia de blueberry da Dinamarca no supermercado, mas não vai encontrar uma geleia de pitanga da Mata Atlântica”

POR CAROLINA RIBEIRONo entanto, de certa forma começamos a transformar o mercado dos alimentos numa verdadeira rota transatlântica, da qual muitos se orgulham, por poderem diversificar seus cardápios e apreciar iguarias exóticas, mas deixam de pensar no impacto gerado por esta rota e até mesmo até que ponto aquele alimento, que veio de uma terra distante, vai proporcionar os nutrientes requisitados pelo local aonde a pessoa de fato vive. 

Pense... o quão sustentável é comer um macarrão italiano, ou um molho de tomate orgânico da Turquia, ou a geleia de berries da Europa? Você conhece as frutas da Mata Atlântica ou do bioma aonde vive? E o produtor de trigo do seu país, sabe onde fica? Passamos a ver a comida como um mero produto, não como algo vivo e que nos nutre, que nos conecta com a vida terrestre. Desvalorizamos o agricultor, porque ser designer é mais moderno e interessante e valorizamos mais o trabalho da pessoa que programa o computador do que a pessoa que cuida da Natureza. 

Com o avanço da era industrial e da globalização (incluindo a alimentar) nos afastamos do que está mais próximo, do que é nativo, do que contém as propriedades locais. A Natureza é muito perfeita. É uma forma de inteligência que o homem ainda não compreende nem 1%. Ela provém os nutrientes necessários, através dos alimentos e das épocas do ano. No outono ela nos dá alimentos ricos em vitamina C e óleos para aguentarmos o inverno, e no verão ela provém outras, mais adequadas para a estação. 

Toda planta cresce e floresce no tempo certo e que é mais adequado para o todo. Tudo programado perfeitamente. Se a ciência não sabe nem 1%, imagina o ser humano moderno, urbanoide, que não sabe nem que a cenoura vem da terra? O que esta pessoa espera da vida? Ser alimentada por uma máquina um dia? Se a Natureza for destruída, quem vai operar a máquina, ou qual insumo (alimento) você vai colocar nela pra processar seu alimento de verdade? A conta não fecha. Sem a Natureza em equilíbrio, não podemos viver bem. Vimos isso em Friburgo em 2011 e vemos agora com o Corona vírus, frutos do desequilíbrio. 

Perdidos na magia do tech

A Natureza já prescreveu a dieta e dita diariamente diversas lições, só não paramos mais para observá-la, pois estamos sempre ocupados demais com o trabalho, com a tela e com os “afazeres da vida”. E agora que a Natureza nos força a parar, temos a oportunidade de olhar um pouco mais pra dentro e perceber que cultivamos uma distância, ao invés de aproximação. 

O ser humano não evoluiu ao longo de milhões de anos porque interagiu com a tecnologia. Ela sempre foi uma aliada para viver em harmonia e superar dificuldades, mas jamais a força formadora do ser, por si só. Se colocamos a tecnologia para agir por nós a tal ponto que nos distanciamos tanto da Natureza, a consequência disso certamente será uma involução. Pois, novamente, não evoluímos construindo tecnologia apenas, mas aprendendo a conviver com a Natureza e seu todo, que nos sustenta.

No processo de desconexão, que começou na era da Revolução Industrial, começamos a voltar-nos para tudo que não fosse natural e valorizamos a Natureza transformada em plástico ou outro objeto e rejeitamos um encontro com uma floresta. Comemos carne mas não aguentamos um cheiro de curral. Amamos a praia, mas não suportamos o sol. Queremos as matas, mas não aguentamos os mosquitos. O ser humano se perdeu na magia do tech. Foi pra longe, mas ainda há volta. 

O ser humano precisa aprender a plantar, a ser independente, a ser humano de verdade e a evoluir de forma natural, conhecendo melhor o espaço que lhe cerca. Precisa perder o nojo pela terra, o nojo pela Mãe. Não é preciso desprezar a tecnologia, afinal ela é ótima em muitos sentidos, mas precisamos rever onde a colocamos em nossas vidas, e onde colocamos as outras coisas. 

Qual o valor que você dá pra vida e pras coisas? O quanto você precisa pra ser feliz? Há uma tristeza coletiva, um vazio... porque fomos pra muito longe, nos desconectamos. Botamos sapatos nos pés e cimentos nas paredes e no chão. Fechamos as portas para a vida natural para viver outra artificial e regada de bens importados, consumismos e bastante cloro pra desinfetar. Achamos que terra é mais suja que asfalto e calçada. Os valores se inverteram completamente e criamos uma mentalidade de aversão. Veja: aversão ao que nos sustenta.

O alerta contido no Covid-19

A sustentabilidade começa comigo, com você e com todos nós. Porque o Covid-19 é um chamado para a sustentabilidade (ambiental-social-econômica). Do que adianta uma nação virar potência mundial ofertando uma péssima qualidade de vida para a sua população? Fábricas inundando o mundo de plástico e pessoas passando fome. 

Os Governos do mundo estão causando uma verdadeira tragédia ambiental, social e econômica e precisamos pensar em formas de tomarmos as rédeas para um futuro melhor para nossos filhos e netos. No Brasil, do que adianta sermos a maior biodiversidade do mundo e permitirmos o desmatamento da pouca floresta que nos resta? A Mata Atlântica já foi reduzida a 7%. O que mais vamos sugar da Terra?

Precisamos romper concreto, valorizar a Natureza e a vida e ordenar o desenvolvimento sustentável para nossos governantes. São muitos os desafios pela frente, há muita insegurança. Mas se nos conectarmos novamente com a Terra, vamos aprender que há muita segurança, independência e esperança. 

Podemos cuidar da nossa Terra! Mas só podemos fazer isso juntos, em coletividade! Se estivermos em harmonia e conectados com ela, é pura cooperação e abundância! Nossa casa está sendo destruída e nada fazemos. Somos meros observadores, passivos. 

Acredito que a pandemia do Covid-19 serve como um alerta (mais um), da necessidade de trabalharmos e cooperarmos mais como uma sociedade, assim como abelhas e formigas fazem tão elegantemente. Nessas horas percebemos que não estamos acima nem abaixo de nenhuma espécie, de nenhuma raça. Estamos co-evoluindo com estes seres que aqui habitam conosco e que nos ensinam (pasmem!) até mesmo a nos organizar, construir, cultivar, criar imunidade... Tudo que aprendemos é um reflexo na Natureza, não o contrário, é nossa grande Mãe.

Este é o chamado para a reconexão com a Natureza, com os valores da vida e do equilíbrio e harmonia, e que possamos invocar nossos guerreiros interiores para entrar nesta batalha de amor, pela Vida.

*Carolina Olga Ribeiro é agricultora orgânica, responsável pela cadeia produtiva do Sítio Cultivar, em Nova Friburgo, incluindo a produção de sementes para uso próprio e para trocas. É mestra em Agricultura Orgânica pela UFRural-RJ, atuando na área de conservação de sementes orgânicas. É pós-graduada em Agricultura Biodinâmica pela Universidade de Uberaba-MG e Instituto Elo.

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