9 de fevereiro de 2019

FAMÍLIA CONSEGUE NA JUSTIÇA COLOCAR SOBRENOME INDÍGENA NOS DOCUMENTOS E COMEMORA RECONHECIMENTO: ‘RESISTÊNCIA’



Maria Rosa e os filhos, Mirna, Stefany e Bruno Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri em Goiânia — Foto: Vanessa Martins/G1


Família consegue na Justiça colocar sobrenome indígena nos documentos e comemora reconhecimento: ‘Resistência’

Depois de dez anos lutando para ter mudança nos documentos, Maria Rosa, Mirna, Stefany e Bruno contam que, finalmente, sentem ter história respeitada. Índios moram em Goiânia.

Depois de dez anos de luta, a família Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri comemora o reconhecimento do sobrenome indígena nos seus documentos pessoais, em Goiânia. A servidora pública Maria Rosa e os filhos Mirna, Stefany e Bruno definem essa conquista como um resgate da própria história e uma forma de resistência contra o preconceito.

“Ter nosso sobrenome indígena é ter espaço, é dizer que estamos aqui”, afirma Bruno.


A família contou que soube que tinha o direito de ter o nome indígena nos documentos ainda em 2009, pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Desde então, eles tentaram fazer as alterações em cartórios de Goiânia e próximos da aldeia de onde a família morava, no Amazonas, mas sem sucesso.

Os índios também entraram em contato com uma advogada, que os acompanhou até o cartório e, ainda assim, não conseguiram. Até que em 2017 eles procuraram a Defensoria Pública do Estado de Goiás e abriram um processo judicial para terem o direito reconhecido.

Cerca de um ano depois, no final de 2018, a Justiça autorizou a mudança no nome deles. Nesta sexta-feira (8), Maria Rosa, Stefany e Bruno finalmente buscaram as identidades com os nomes novos. Só Mirna ainda aguarda a emissão do documento.

Maria Rosa e Mirna Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri — Foto: Vanessa Martins/G1

Recuperação histórica

A estudante de doutorado em arte e cultura visual Mirna Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri, de 33 anos, conta que seus antepassados indígenas lutaram para sobreviver a diversas invasões. Uma das formas de se proteger foi abrindo mão do sobrenome que os definia.

“Os registros que a gente tem de contato com pessoas não indígenas são do século XIX e foram contatos de massacre, escravidão. Uma das formas de sobrevivência foi se separar do grupo. […] O preconceito contra os povos indígenas na época foi uma das questões que fizeram a gente perder nosso sobrenome”, contou.

Dessa forma, o resgate do sobrenome é uma maneira de recuperar a história deles como povo indígena. Para o estudante de direito Bruno Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri, de 25 anos, ter o sobrenome indígena é uma forma de se fortalecer.

“Finalmente estamos tendo reconhecimento. Foram poucas conquistas, mas a gente tem presença. Com esse espaço que a gente conquistou, queremos dar mais visibilidade para os povos Kambebas e outros também, que não vamos abrir mãos dos nossos direitos”

Stefany, Bruno e Maria Rosa Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri com as identidades renovadas em Goiânia, Goiás — Foto: Vanessa Martins/G1

‘Troféu’

Aos 53 anos, a servidora pública e estudante de administração Maria Rosa Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri segura a nova identidade como um troféu. Ela contou que recuperar o nome da família é uma grande conquista.

“Tentamos desde o passado, quando [esse sobrenome] foi tirado de nós. Agora conseguimos ser reconhecidos. Pelo nosso nome, a origem do nosso povo, a nossa resistência para chegar até aqui e vamos conquistar muito mais”, afirmou.

A mais antiga do grupo a ter o nome alterado, ela conta que o sobrenome da família significa “povo da água”, já que eles fazem parte de uma aldeia que sobreviveu em regiões ribeirinhas e se escondendo nos rios durante as invasões.

Lembrando do histórico da família, a filha do meio e estudante de informática Stefany Arruda Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri, de 27 anos, afirma que espera que mais parentes saibam do direito de ter o sobrenome indígena reconhecido e também possam lutar em defesa dessa conquista.

“Vem da minha mãe, dos meus avós, das minhas bisavós. É o resultado de uma luta coletiva. […] É muito importante para nós ter esse nome, ter um reconhecimento e essa visibilidade”, defendeu.


Processo

O defensor público Tiago Bicalho contou que o processo é simples e de direito de todos os indígenas. Segundo ele, outras pessoas que se encontrarem na mesma situação que a família Kambeba Omágua-Yetê Anaquiri também podem reivindicar o seu direito.

“No caso dos indígenas, esse direito decorre de uma proteção constitucional, que assegura aos índios as suas tradições, as suas línguas, crenças. Então a importância de alterar esse registro e eles poderem usar o nome e sobrenome da sua etnia é importante para que não percam suas origens e possam leva-las adiante”, explicou.

Segundo o defensor, os interessados podem procurar a Defensoria Pública para garantir esse direito. Para facilitar o processo, é importante levar os seguintes documentos:

Certidão de nascimento e/ou casamento;


Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani);


Certidão Negativa dos Cartórios de Protesto;


Certidão Negativa Cível e Criminal.


Por Vanessa Martins, G1 GO

6 de fevereiro de 2019

O que é Ecoturismo. Ecoturismo ou turismo ecológico


É o "segmento da atividade turística que utiliza, 

De forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, 

Incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista,

Por meio da interpretação do ambiente, 

Promovendo o bem-estar das populações".

Turismo Sustentável: Entenda o que é turismo de base comunitária

Por Redação Pensamento Verde


O turismo comunitário gera benefícios econômicos e de conservação para as comunidades e o meio ambiente local.

O turismo em grande escala, estimulado por todo o mundo como fonte de renda, causa, muitas vezes, um impacto considerável nos locais onde ocorre. 

A chegada de visitantes traz consigo uma produção maior de resíduos, ruídos, pessoas, entre outros. Na contramão desta prática, está o turismo de base comunitária (TBC), conceito aplicado a diversas atividades relacionadas a comunidades que recebem visitantes.

O TBC consiste em visitas a lugares onde a comunidade local se envolve na apresentação dos patrimônios como atrações ou oferecendo um leque de mercadorias produzidas por eles próprios. A ideia é ajudar no desenvolvimento local, por meio do aquecimento da economia e práticas sociais e culturais que envolvam todos os membros da comunidade.

Uma definição muito utilizada é dada pelo Manual ITC Receitas para o Sucesso TBC, que diz: “O TBC é uma interação anfitrião-visitante, cuja participação é significativa para ambos e gera benefícios econômicos e de conservação para as comunidades e o meio ambiente local.”

O turismo de base comunitária propõe um modelo de desenvolvimento que privilegie o ser humano, que garanta condições de vida digna a todos os cidadãos, centrado em uma cultura de cooperação, parceria e solidariedade. 

Ele se coloca como uma alternativa ao turismo convencional, uma oportunidade importante de valorização de práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais e da promoção da interculturalidade.

O conceito prega que a chegada de visitantes deve se integrar na economia e no desenvolvimento das comunidades, preservando a cultura dos habitantes locais e utilizando as atividades tradicionais como atrações. 

Além disso, o uso sustentável dos recursos e a justiça ambiental devem ser preocupações coletivas.

Assim, o TBC acaba entrando na classificação de turismo sustentável, uma vez que prega o uso consciente dos recursos ambientais, a valorização dos costumes locais e a integração entre o homem e a natureza, de maneira que todos se beneficiem com a prática.

4 de fevereiro de 2019

Variedade de mandioca atinge produtividade média de 31,3 toneladas por hectare em MT


Pesquisa da Empaer demonstra que a mandioca da polpa amarela ultrapassou a média nacional e estadual de produtividade.
Rosana Persona | Empaer-MT 
Avaliação de 10 materiais genéticos oriundos da Embrapa - Foto por: Jorge Montezuma/Empaer
A | A
Com uma produtividade de 31,3 toneladas por hectare, materiais genéticos de mandioca biofortificados estão sendo avaliados e reproduzidos no Campo Experimental da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), no município de Tangará da Serra (239 km a Médio Norte de Cuiabá). Considerada mais nutritiva, com alto teor de vitamina A, boa produtividade e de ciclo precoce, produz a partir de oito meses. Algumas variedades de mandioca superam a produtividade média nacional de 14,4 toneladas por hectare.
Essas são algumas características de algumas variedades de mandioca biofortificada para atender os agricultores familiares interessados no cultivo. A coordenadora do projeto de biofortificados da Empaer, Marilene de Moura Alves, fala que ao todo são 10 variedades de mesa oriundas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que foram adaptadas para nossa região. Os experimentos foram implantados no ano de 2012 com nove materiais genéticos, e em 2017 com três materiais. Ela destaca, que já possuem manivas e mudas de mandioca disponíveis para o cultivo.
O pesquisador da Empaer e chefe do Campo Experimental, Welington Procópio, explica que os novos materiais possuem características que atendem demandas tanto de agricultores quanto de consumidores. São precoces, ou seja, produzem a partir de oito meses, enquanto as cultivares precoces disponíveis no mercado geralmente começam a produzir dez a doze meses após o plantio. As novas variedades também possuem elevado potencial produtivo, arquitetura favorável aos tratos culturais, facilidade na colheita e resistência às principais pragas e doenças.
Com materiais genéticos da Embrapa, a variedade BRS 399 atingiu a maior produtividade, 31,3 toneladas por hectare; e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a variedade IAC 576-70 produziu 26,3 toneladas por hectare.  A pesquisadora da Empaer, Dolorice Moreti, desenvolve pesquisa e validação de tecnologias com a cultura da mandioca desde 2012. Ela argumenta que a variedade biofortificada da polpa amarela ultrapassou a média nacional de produtividade, que é de 14,4 toneladas/hectare de mandioca, e também do Mato Grosso, que chega a 14,3 toneladas/hectare.
De acordo com a pesquisadora Dolorice, estão em avaliação 10 materiais genéticos, sendo que, por enquanto, apenas dois foram repassados para os produtores rurais dos municípios de Cuiabá, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Acorizal, Sinop e outros. “A mandioca é uma cultura de grande importância agrícola em Mato Grosso, importante fator de geração de trabalho e renda no campo e fonte de alimento para a população, principalmente para agricultura familiar”, enfatiza Dolorice.
A pesquisa conta com a participação do pesquisador da Embrapa Cerrados do Distrito Federal, Eduardo Alano, um dos responsáveis pelos clones biofortificados. Eduardo fala para que a pesquisa participativa funcione, ou seja, para avaliar os clones biofortificados com os produtores, é necessário seguir alguns critérios: material genético para levar para os produtores, interesse dos produtores em testar esses materiais e mecanismo de extensão rural ágil e eficiente.
No Campo de Tangará da Serra estão disponíveis ramas e mudas das variedades de mandioca BRS Jari, Gema de Ovo e Dourada. As pesquisas são realizadas também nos Campos Experimentais de Acorizal, Cáceres e Sinop.
BioFort
O foco dessas pesquisas e parcerias  é aumentar, sobretudo na alimentação dessas populações, a presença de ferro, zinco e vitamina A, micronutrientes importantes para melhorar a resistência do organismo e o desenvolvimento intelectual. A produção de manivas e mudas são para atender a demanda dos agricultores familiares do Estado, que deverão receber esses materiais para produção em larga escala com a finalidade de atender a merenda escolar e o mercado consumidor.
Os materiais foram fornecidos pela Embrapa que é a Coordenadora do Programa BioFort no Brasil. Em Mato Grosso, a Empaer é responsável.

2 de fevereiro de 2019

ALIMENTAÇÃO IDEAL: O QUE DIZ A CIÊNCIA SOBRE TOMAR OU PULAR O CAFÉ DA MANHÃ


É verdade que tomar um café da manhã equilibrado ajuda a restaurar nossa energia depois de uma uma noite de jejum - SEB_RA


Alimentação ideal: o que diz a ciência sobre tomar ou pular o café da manhã

Junto com clássicos como “cenouras melhoram a visão” e “Papai Noel não traz brinquedos para crianças que não se comportam bem”, uma das frases mais usadas no arsenal de pais cansados é que o café da manhã é “a refeição mais importante do dia”.

Muitos de nós crescemos acreditando que pular o café da manhã é um pecado alimentar – mesmo que apenas dois terços dos adultos no Reino Unido tomem café da manhã regularmente, segundo a Associação de Nutricionistas do Reino Unido (BDA, na sigla em inglês), e cerca de três quartos dos americanos, segundo o American Journal of Clinical Nutrition.

“O corpo usa muitas reservas de energia para o crescimento e a restauração durante a noite”, explica a nutricionista Sarah Elder. “Tomar um café da manhã balanceado ajuda a restaurar a energia, assim como a proteína e o cálcio usados à noite.”

Mas há divergências sobre se o café da manhã deve manter seu destaque na hierarquia alimentar. Assim como a crescente popularidade das dietas do jejum, há preocupação quanto ao teor de açúcar dos cereais e do envolvimento da indústria de alimentos nas pesquisas sobre café da manhã – e até a afirmação de um acadêmico de que o café da manhã é “perigoso”.

Mito ou realidade?

O café da manhã é um começo necessário para o dia ou uma jogada de marketing de empresas de cereais?

Atualmente, o que mais se estuda nesse campo é a relação do café da manhã com a obesidade, e as teorias divergem. Um estudo americano que analisou dados de saúde de 50 mil pessoas ao longo de sete anos apontou para um menor índice de massa corporal (IMC) nos que tornaram o café da manhã sua principal refeição.

Segundo os pesquisadores, o café da manhã aumenta a saciedade, reduz a ingestão diária de calorias, melhora a qualidade da dieta – já que os alimentos matinais são mais ricos em fibras e nutrientes – e melhora a sensibilidade à insulina nas refeições subsequentes.

Mas, como em qualquer estudo do tipo, não ficou claro se essa foi a causa ou se os que pulavam o café da manhã já tinham mais chances de estar acima do peso.

Para descobrir isso, outro estudo acompanhou 52 mulheres obesas em um programa de perda de peso de 12 semanas. Todas ingeriram a mesma quantidade de calorias no dia, mas metade tomou café da manhã, enquanto a outra metade, não.

Eles notaram que não era o café da manhã em si que fazia com que os participantes perdessem peso: era a mudança da rotina. As mulheres que antes do estudo tomavam café da manhã perderam 8,9 kg quando pararam de tomá-lo, em comparação com 6,2 kg do outro grupo. Enquanto isso, aquelas que pulavam o café da manhã perderam 7,7 kg quando começaram a tomá-lo – e 6 kg, quando continuaram a ignorá-lo.

Se o café da manhã não é uma garantia de perda de peso, por que há uma ligação entre obesidade e pular o café da manhã?

“Há muitos estudos sobre a relação entre a ingestão de café da manhã e possíveis impactos na saúde, mas isso pode acontecer porque aqueles que tomam café da manhã optam por ter hábitos mais saudáveis, como não fumar e fazer exercícios regularmente”, diz Alexandra Johnstone, professora de pesquisa do apetite na Universidade de Aberdeen.

Uma revisão de 2016 de dez estudos examinando a relação entre café da manhã e controle de peso concluiu que há “evidências limitadas” apoiando ou refutando a influência do café da manhã no peso e que mais evidências são necessárias.

Comer ou não comer?

O jejum intermitente, que envolve jejuar da noite ao dia seguinte, está se popularizando entre aqueles que buscam perder ou manter seu peso ou ainda melhorar a saúde.

Um estudo pequeno mostrou que ignorar o café da manhã – e comer apenas entre 9h e 15h – é benéfico – Direito de imagem: GETTY IMAGES

Um estudo-piloto publicado em 2018, por exemplo, descobriu que o jejum intermitente controla o açúcar no sangue e a sensibilidade à insulina, além de reduzir a pressão arterial. Oito homens com pré-diabetes receberam um dos dois esquemas alimentares: ingerir todas as calorias entre 9h e 15h, ou ingerir o mesmo número de calorias ao longo de 12 horas.

Os resultados para o primeiro grupo foram semelhantes ao do efeito de medicamentos para reduzir a pressão arterial, de acordo com Courtney Peterson, autora do estudo e professora-assistente de ciências da nutrição da Universidade do Alabama, em Birmingham, nos EUA.

Ainda assim, o tamanho reduzido do estudo mostra que mais pesquisas são necessárias sobre os possíveis benefícios de longo prazo.

Se pular o café da manhã pode ser bom, isso significa que o café da manhã pode ser ruim? É o que afirma o acadêmico Terence Kealey, da Universidade de Buckingham, para quem o café da manhã é até “perigoso”. Segundo ele, tomar café da manhã faz com que o nosso nível de cortisol atinja um pico maior do que ocorre mais tarde. Isso leva o corpo a desenvolver resistência à insulina a longo prazo e pode provocar o diabetes tipo 2, ele argumenta.

Mas Fredrik Karpe, professor de medicina metabólica do Centro de Diabetes, Endocrinologia e Metabolismo de Oxford, discorda. Em vez disso, segundo ele, níveis mais altos de cortisol pela manhã são apenas parte do ritmo natural do corpo.

E não é só isso. O café da manhã é fundamental para estimular o metabolismo. “Para que outros tecidos respondam bem à ingestão de alimentos, você precisa de um gatilho inicial envolvendo carboidratos que respondem à insulina. O café da manhã é fundamental para que isso aconteça”, afirma Karpe.

Um ‘gatilho’ inicial com carboidratos é fundamental para impulsionar o metabolismo – Direito de imagem:: GETTY IMAGES

Um estudo publicado em 2017 envolvendo 18 pessoas saudáveis e 18 pessoas com diabetes descobriu que pular o café da manhã interrompeu os ritmos circadianos de ambos os grupos e provocou picos de glicose no sangue depois de comer. Tomar café da manhã, concluem os pesquisadores, é essencial para manter nosso relógio biológico funcionando.

Peterson diz que, entre os que pulam o café da manhã, há aqueles que jantam em um horário normal – obtendo os benefícios do jejum intermitente – ou aqueles que jantam tarde.

“Para aqueles que jantam mais tarde, o risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares aumenta. Embora pareça que o café da manhã é a refeição mais importante do dia, na verdade pode ser o jantar “, afirma Peterson.

“Nosso controle de açúcar no sangue é melhor no início do dia. Quando jantamos tarde, ficamos mais vulneráveis porque o açúcar no sangue é pior. Há mais pesquisas a fazer, mas estou confiante de que não se deve pular o café da manhã e jantar tarde”, acrescenta.

Como o controle do açúcar no sangue é melhor pela manhã, o ideal é fazer uma grande refeição no início do dia – não tarde da noite – Direito de imagem: GETTY IMAGES

Ela explica que devemos pensar em nosso ritmo circadiano como uma orquestra.

Existem duas partes do nosso relógio circadiano. Metade no cérebro, análogo ao maestro de uma orquestra, e a outra metade nos órgãos, segundo a pesquisadora. E essa orquestra é definida por dois fatores externos: exposição à luz e o horário das refeições.

“Se você está comendo quando não há exposição à luz intensa, os relógios que controlam o metabolismo estão em fusos horários diferentes, criando sinais conflitantes quanto a aumentar ou diminuir a velocidade”.

Um café da manhã farto pode ajudar no controle de peso – Direito de imagem: GETTY IMAGES

Seria como duas metades de uma orquestra tocando músicas diferentes, explica Peterson, e é por isso que comer tarde prejudica os níveis de açúcar no sangue e a pressão arterial.

Pesquisadores das universidades de Surrey e de Aberdeen estão na metade de uma pesquisa que analisa os mecanismos por trás de como o horário em que comemos influencia o peso corporal. Descobertas iniciais sugerem que um café da manhã farto é benéfico para o controle de peso.

Comida saudável

Diferentes estudos do Circulation e do American Journal of Clinical Nutrition apontam que o café da manhã afeta mais do que apenas o peso. Pular a refeição tem sido associado a um aumento de 27% no risco de doenças cardíacas, um risco 21% maior de diabetes tipo 2 em homens e um risco 20% maior de diabetes tipo 2 em mulheres.

Uma razão pode ser o valor nutricional do café da manhã – em parte porque o cereal é enriquecido com vitaminas. Em um estudo sobre os hábitos de café da manhã de 1.600 jovens no Reino Unido, os pesquisadores descobriram que a ingestão de fibras e micronutrientes, incluindo vitamina C, ferro e cálcio, era melhor naqueles que tomavam café da manhã regularmente. Houve descobertas semelhantes na Austrália, no Brasil, no Canadá e nos EUA.

O café da manhã também está associado a um melhor funcionamento cerebral, incluindo na concentração e linguagem. Uma revisão de 54 estudos descobriu que tomar o café da manhã pode melhorar a memória, embora os efeitos sobre outras funções cerebrais tenham sido inconclusivos.

Uma das pesquisadoras do estudo, Mary Beth Spitznagel, diz que há indícios “razoáveis” de que o café da manhã melhora a concentração.

Tomar o café da manhã pode ajudar a melhorar a memória – Direito de imagem: GETTY IMAGES

“Se olharmos os estudos que focaram na concentração, metade aponta para benefícios, e a outra não encontrou nenhum”, afirma. “E nenhum estudo apontou que tomar café da manhã seja ruim para a concentração.”

O mais importante, alguns argumentam, é o que comemos no café da manhã.

Cafés da manhã com alto teor de proteína ajudam a reduzir os desejos por comida no final do dia – Direito de imagem: GETTY IMAGES

Os cafés da manhã ricos em proteínas são bastante eficazes na redução da ansiedade e do consumo de alimentos no final do dia, de acordo com uma pesquisa da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Comunidade Australiana.

Embora o cereal continue um favorito no café da manhã de vários países, um estudo recente da associação de consumidores Which? constatou que alguns cereais contém mais de três quartos da recomendação diária de açúcar em cada porção, e o açúcar foi o segundo ou terceiro ingrediente mais prevalente em sete de dez cereais em flocos.

Mas pesquisas sugerem que, se formos ingerir alimentos açucarados, é melhor fazer isso cedo. Cientistas da Universidade de Tel Aviv descobriram que a fome é mais bem regulada pela manhã. Eles recrutaram 200 adultos obesos para participar de uma dieta de 16 semanas, onde metade acrescentou sobremesa ao café da manhã e metade não. Aqueles que adicionaram a sobremesa perderam uma média de 18 kg a mais – no entanto, o estudo não conseguiu mostrar os efeitos de longo prazo.

Pesquisa sugere que, se vamos comer alimentos doces, o café da manhã é a melhor hora para fazer isso – Direito de imagem: GETTY IMAGES

Uma revisão de 54 estudos descobriu que ainda não há consenso sobre qual tipo de café da manhã é mais saudável e conclui que isso não importa tanto quanto simplesmente comer alguma coisa.

Conselho final

Embora não haja provas conclusivas sobre exatamente o que devemos comer e quando, o consenso é ouvir nosso próprio corpo e comer quando estamos com fome.

“O café da manhã é mais importante para as pessoas que estão com fome quando acordam”, diz Johnstone.

Por exemplo, pesquisas mostram que pessoas com pré-diabetes e diabetes podem achar que têm melhor concentração após um café da manhã com baixo índice glicêmico, como mingau, que é decomposto mais lentamente e provoca um aumento mais gradual nos níveis de açúcar no sangue.

Café da manhã com baixo índice glicêmico, como mingau (ou fufu ganense, feito de banana e mandioca) pode ser melhor para aqueles com diabetes – Direito de imagem: GETTY IMAGES

Cada corpo começa o dia de forma diferente – e essas diferenças individuais, particularmente na função da glicose, precisam ser pesquisadas mais de perto, diz Spitznagel.

Ao final, o segredo talvez seja não enfatizar demais uma única refeição, mas sim perceber como comemos o dia todo.

“Um café da manhã balanceado é realmente útil, mas fazer refeições regulares durante o dia é o mais importante para manter o açúcar no sangue estável, o que ajuda a controlar o peso e os níveis de fome”, diz Elder.

“O café da manhã não é a única refeição em que deveríamos estar prestando atenção”, completa.

Jessica Brown, BBC Future

1 de fevereiro de 2019

Os peixes: uma sensibilidade fora do alcance do pescador




Por Joan Dunayer / Traduzido do inglês por David Olivier

Tradução: Juliana Marques

Este artigo apareceu na revista americana Animal’s Agenda (número de julho-agosto 1991), que deu-nos amavelmente a autorização para esta tradução.

Para certos nomes de peixes, não foi encontrado o equivalente em francês. Eles são, segundo o caso, deixados em inglês, ou traduzidos literalmente com o nome em inglês entre aspas.

Blackie, peixe vermelho da variedade kinguio, nadava com muita dificuldade devido a uma grave deformação. Big Red, peixe vermelho maior, notou sua angústia. Desde o instante em que Blackie foi colocado em seu aquário na loja de animais, Big Red começou a notá-lo. “Big Red supervisiona sem descanso seu amigo doente, levanta-o suavemente nas suas costas grandes e passeia com ele pelo aquário”, conta um jornal sul-africano em 1985. Cada vez que a comida é colocada na superfície da água, Big Red carrega Blackie para que eles possam comer juntos. Faz um ano que Big Red demonstra sua “compaixão”, segundo o proprietário da loja.

Por outro lado, os seres humanos demonstram ter bem menos compaixão para com os peixes. Trágica e ironicamente, os humanos não reconhecem a sensibilidade dos peixes, a qual, sob várias perspectivas, pode chegar a ultrapassar a dos humanos.

O mundo perceptível dos peixes

As orelhas internas dos peixes percebem todo o mundo aquático que os humanos não podem perceber sem ajuda de hidrofones. Como não possuem cordas vocais, os peixes “falam”comprimindo suas vesículas nadadoras, fazendo ranger seus dentes faríngeos. Ao esfregarem suas espinhas umas nas outras, eles produzem sons que podem variar de zumbidos e de barulhos a ganidos e soluços. Segundo descobertas de especialistas de biologia marinha, a “vocalização” dos peixes comunica estados como paquerar, dar sinal de alarme ou mostrar submissão, ao mesmo tempo em que comunicam a espécie, o tamanho e a identidade individual do “locutor”. O satinfin shiner macho, por exemplo, ronrona quando faz a corte e emite batidas surdas quando defende seu território. A linha lateral, órgão sensitivo que a maioria dos peixes possui de cada lado do corpo, forma uma série de filamentos sensíveis alinhados da cabeça ao rabo, detectando também as vibrações. Enquanto o peixe nada, este órgão sinaliza para o peixe os objetos próximos graças às vibrações que envia, autorizando assim a navegação e a localização precisa das presas no escuro. 

A sensibilidade dos peixes à luz é maior que a nossa. Muitos peixes das profundezas vêem na penumbra onde um gato não vê nada. As espécies de água pouco profundas têm uma visão em dois níveis ao nascer do sol; os cones da retina, sensíveis à cor, avançam e os bastonetes, sensíveis à luz fraca, retraem-se em profundidade; enquanto, ao por do sol, o processo se inverte. Durante a transição, numerosos peixes se beneficiam da percepção da luz ultravioleta, que é suficiente para lhes indicar a silhueta dos insetos na superfície da água. Uma luz viva repentina, vinda, por exemplo, de uma lanterna, surpreende e desorienta um peixe que tem visão adaptada para a noite. Isso pode provocar sua fuga, sua imobilidade ou mesmo sua submersão. A luz pode também destruir os bastonetes.

Na maioria dos peixes, as papilas gustativas se localizam não somente na boca e na garganta, mas também nos lábios e no focinho. Muitas das espécies que se alimentam no fundo têm receptores gustativos também na extensão das suas nadadeiras pélvicas ou nas barbatanas de seus queixos, que servem como línguas externas. Os peixes-gatos podem provar o alimento a certa distância graças a milhares de receptores gustativos.

Que sensibilidade os peixes têm ao odor? Os salmões podem percorrer milhares de quilômetros ao longo de suas migrações e, muitos anos mais tarde, reconhecer o odor do curso da água de origem. As enguias americanas detectam o álcool a uma concentração de uma fração de bilhão de gota em 90 m3 de água (o conteúdo de uma grande piscina). Através deste único odor, certos peixes podem determinar a espécie, o gênero, a receptividade sexual, ou a identidade individual de outro peixe.

Os peixes reagem fortemente ao fato de serem tocados. No momento de paquerar, eles freqüentemente se esfregam de maneira delicada uns nos outros. Os registros efetuados pelo Narragansett Marine Laboratory revelaram que o robin dos mares [sea robin] ronrona quando é acariciado. Ricardo Mandojana, fotógrafo submarino, ganha a amizade de um peixe-judeu inicialmente desconfiado coçando levemente a sua face. Com o passar dos meses, o peixe, aparentemente impaciente por ser acariciado, vem ao encontro do mergulhador durante seus passeios.

Numerosas espécies de peixes têm centenas de receptores elétricos na pele, o que lhes permite detectar a forma do campo que eles mesmos produzem. Um objeto menos condutor que a água, como uma rocha, forma uma sombra no campo; um objeto mais condutor, como uma presa, aparece como um ponto brilhante. A imagem elétrica que o peixe percebe indica o local, o tamanho, a velocidade e a direção do movimento do objeto. Um peixe elétrico pode também “ler”a carga produzida por um outro, a qual depende do tamanho, da espécie, da identidade individual e das intenções (que podem ser, por exemplo, o desafio ou a procura de um parceiro sexual) daquele que o produz. O peixe-faca listado macho afirma seu domínio por meio de uma série de impulsos rápidos; seu rival potencial se submete parando de “falar”.

Produzindo ou não o mesmo sinal elétrico, numerosos peixes são sensíveis ao campo elétrico que produz todo ser vivo e podem, assim, detectar uma presa escondida na areia ou no cascalho. Theodore Bullock, especialista dos sistemas nervosos, notou que certos tubarões podem perceber um campo elétrico equivalente ao que produz uma pilha de 1,5V a 1500 km.

A capacidade que eles têm de sofrer

De acordo com outras sensibilidades, não há duvida sobre a capacidade dos peixes de sentir stress e dor. Quando são perseguidos, capturados, ou ameaçados de todas as maneiras, eles reagem como os humanos face ao stress pelo aumento da sua freqüência cardíaca, do seu ritmo respiratório e por uma descarga hormonal de adrenalina. O prolongamento de condições adversas, como grande confusão ou a poluição, ameaça lhes fazer sofrer de deficiência imunitária e de lesões orgânicas internas. Tanto pela bioquímica como pela estrutura, seu sistema nervoso central se parece intimamente com o nosso. Nos vertebrados, as terminações nervosas livres registram a dor; os peixes a possuem em abundância. Seu sistema nervoso produz também as encefalinas e as endorfinas, substâncias análogas aos opiáceos que possuem um papel contra a dor nos humanos. Quando estão machucados, os peixes se contorcem, ofegam, e exibem outros sinais de dor.

Fica lógico que os peixes sentem medo, e este tem uma função na aquisição do comportamento de fuga. Se um vairão for atacado uma vez por um brochet, ou se vir outro ser atacado, o odor de um brochet é suficiente para fazê-lo fugir. Os peixes que foram atacados por jovens brochets fogem assim que escutam o rangido de dentes desses últimos. O pesquisador R.O. Anderson mostrou que os Percas de boca grande aprendem a evitar rapidamente os anzóis simplesmente ao verem outros serem capturados. Centenas, talvez milhares de experiências foram feitas durante as quais os peixes foram levados a cumprir tarefas dentro do objetivo de evitar choques elétricos.

Numerosos cientistas reconheceram ter induzido os peixes ao medo. Entre as “observações do comportamento motivado pelo medo nos peixes vermelhos” feitos pelo psiquiatra Quentin Regestein, encontrou-se: “Um peixe assustado pode se enlaçar avançando ou fugir ou se agitar no mesmo lugar, ou ficar simplesmente mole se ele não suporta a situação”.

Os peixes gritam tanto de dor quanto de medo. Segundo Michael Fine, biólogo marinho, a maior parte dos peixes que produz sons “vocalizam” quando tocados, quando pegos, ou quando perseguidos. Numa série de experiências, William Tavolga fez murmurar peixes-sapos infligindo-lhes choques elétricos. Começaram também a murmurar logo que viam eletrodos.

Os peixes “animais de estimação”

Mesmo quando não há a crueldade da experimentação animal, a captura dos peixes negligencia as suas necessidades mais fundamentais. Nervosos e frágeis, eles estão mal adaptados a uma vida reclusa em aquário. Todavia, só nos Estados Unidos, centenas de milhões de peixes estão aprisionados.

Os peixes são mais sensíveis à temperatura do que qualquer outro animal de sangue quente. Uma variação brusca de apenas alguns graus pode matar um peixe vermelho. No entanto, alguns são colocados em pequenos reservatórios onde a temperatura pode variar rapidamente.

Os peixes de aquário não possuem nenhuma possibilidade de escapar das substancias tóxicas que penetram em sua água. Numerosos poluentes domésticos podem lhes prejudicar, entre eles a fumaça do cigarro, os vapores de pintura e as gotas de vaporizadores. Dentro de um bocal ou reservatório, o amoníaco que eles mesmos excretam pode se acumular e chegar a um nível tóxico. O próprio cloro em pequena quantidade pode, como o amoníaco, induzir a dificuldades respiratórias e espasmos nervosos. O nível de cloro da água da torneira pode facilmente ser fatal.

Os peixes de aquário são bombardeados em permanência por cenas e barulhos dos humanos. O simples fato de acender a luz num quarto escuro pode assustá-los ao ponto de lançarem-se contra o vidro, e se matarem. As vibrações vindas da televisão, do radio, ou de uma porta que bate podem também os assustar e machucar. Em You and Your Aquarium, Dick Mills previne que “qualquer choque ou batida no vidro do aquário pode facilmente chocar ou estressar os peixes”. Um pesquisador, H.H.Reichenbach- Klinke, descobriu que peixes freqüentemente expostos a musica forte desenvolvem lesões mortais do fígado.

Os peixes de aquário são deixados à mercê da agressão artificial, mas são privados da natural. Eles não têm necessidade de atividades como a procura de alimento através da vida diversificada dos recifes de corais. Ao contrário, eles percorrem as mesmas dezenas e centenas de litros, e aceitam passivamente dia após dia a mesma comida comprada pronta. Segundo Mills, os peixes de aquário sofrem seguidamente de tédio.

Os peixes vermelhos e outros peixes sociais necessitam da companhia de membros de sua espécie, sem a qual, comenta ainda Mills, “podem perecer”. Quando perdem um companheiro, observamos nos peixes sociais os sinais de depressão, tal como letargia, palidez ou nadadeiras moles. O zoólogo George Romanes comenta em Animal Intelligence o seguinte incidente: quando um proprietário de aquário se desfez de um dos seus dois ruff, o que ficou parou de comer durante três semanas até o dia em que trouxeram seu companheiro.

O mal que os aquarófilos infligem aos peixes ultrapassa amplamente o aquário. Inúmeros são os peixes que morrem antes de chegarem ao varejista, durante o transporte desde o local de captura, ou desde a “fazenda de peixes” (onde nascem atualmente 80% dos peixes ditos “ornamentais” dos Estados Unidos). Somente a captura mata ou machuca milhões. Eles são imobilizados com o auxilio de anestésicos, de dinamite ou de cianeto, depois capturados com a mão ou redes. William McLarney, biólogo de pesca, observou uma captura com bomba de cianeto:

Uma dúzia de peixes-esquilos vermelhos rapidamente foge em bando do seu habitat de coral a 8 metros de profundidade e se lança, sufocando e trepidando, até a superfície. Seu impulso os leva a até trinta centímetros acima da superfície, de onde caem com pequenos ruídos secos, e ao final bóiam, cansados, girando fracos em círculos. Sobre eles, um Mero de três libras tosse violentamente, as brânquias ardendo. Ele tenta nadar mas é derrubado, depois bóia sem ruído como uma bóia sinistra.

Nesse meio tempo, no fundo, peixes mais “comuns” para interessarem aos clientes “entram em convulsão ou escorregam sem movimento”.

A pesca comercial

A pesca comercial também dizima os peixes, matando milhares a cada ano. Em geral, para eles, a morte não é rápida nem indolor.

Na pesca de arrastão, o barco fecha, com uma rede, um círculo em torno de um cardume, depois iça, suspende o cardume e o joga dentro da salmoura líquida que é mantida a O grau Celsius. Aqueles que não morrem esmagados ou estrangulados são vitimas do choque térmico. Este método, empregado por pescadores que caçam os atuns de nadadeiras amarelas, provoca uma tempestade de protestos a favor dos golfinhos que nadam por baixo dos atuns e se enroscam nas redes com eles. Mas poucas vozes se elevam contra a morte dos próprios atuns. E os atuns são também animais sensíveis às vibrações, portanto é claro que eles também ficam aterrorizados e feridos pelos barcos motorizados e pelas explosões submarinas que levam os golfinhos a se agruparem em um lugar. A onda de pressão de uma detonação submarina pode romper a vesícula nadadora de um peixe.

Na pesca com rede, um barco se movimenta carregando atrás dele, na água, uma enorme rede. Todos os peixes que entram são empurrados pelo movimento de tração em direção à sua extremidade que possui a forma de um saco rendado. Durante uma ou mesmo quatro horas, os peixes capturados são puxados e pressionados uns contra os outros, juntamente com outros fragmentos e seixos que a rede colhe do fundo. Em Distant Water: The fate of the North Atlantic Fisherman, William Warner fala de uma captura: “o atrito dos peixes uns contra os outros devido à agitação e a compressão prolongada da rede lhes enfraquece as escamas incisivas”. “A fricção, de fato, deixa-os em carne viva”.

A descompressão à qual são submetidos torna-se insuportável quando são forçados a subir depois de certa profundidade. A queda da pressão provoca uma dilatação do gás encapsulado em sua vesícula nadadora, que não pode ser compensada rapidamente pela absorção da circulação sanguínea. Em seguida, a pressão interna faz com que a vesícula nadadora arrebente, ou os olhos saiam da órbita, ou o esôfago e estomago saiam pela boca. “Muitos dentre eles têm buracos onde deveriam estar os olhos”, comenta Warner numa de suas observações sobre um barco pesqueiro. Em outro momento, ele nota que, dentro da rede, há “uma grande espuma de bolhas… provindas de milhares de vesículas nadadoras rompidas”1“.

Os peixes relativamente pequenos, tais com as solhas espinhosas, são comumente esparramados sobre a pilha de gelo; a maioria morre sufocada ou esmagada pelas camadas seguintes de outros peixes. Os peixes maiores tais como os hadoques ou bacalhaus têm suas vísceras arrancadas imediatamente. William MacLeish descreve o método de triagem que ele viu ser praticado: a equipe de pescadores esfacela os peixes com bastões afiados, “jogando de um lado os bacalhaus, de outro lado os hadoques, lá ainda os rabos-amarelos” [Yellowtail] . Em seguida, os peixes não desejados (“lixo”), que representam muitas vezes a maioria da captura, são jogados sobre a margem, muitas vezes com um tridente (ancinho).

Somente numa tarde, os pescadores podem jogar no mar até 60000 km de redes; dentro das águas profundas do Pacifico, usam-se sobretudo redes móveis, mas pode-se também usar redes amarradas dentro das águas costeiras. Trata-se geralmente de redes de plástico que possuem bóias em uma de suas pontas e pesos na outra ponta. Essas bóias balançam como cortinas na superfície, geralmente até uma profundidade de 10 m. Além de provocarem a morte não intencional de mais de um milhão de mamíferos, de tartarugas e aves a cada ano, estas redes infligem um sofrimento enorme aos peixes.

Eles não vêem as redes e nadam diretamente para elas. Se são muito grandes para atravessá-las, os peixes geralmente ficam com a cabeça presa numa das malhas. Eles tentam então recuar, mas a malha lhes prende pelos opérculos das brânquias ou pelas nadadeiras. Muitos destes peixes vão então morrer sufocados. Outros lutam desesperadamente nas malhas cortantes e seguidamente sangram e morrem vazios de seu sangue, quer consigam ou não se libertar. Muitos dos pescadores não retiram as redes todos os dias,e a morte pode levar dias. Em Sports Illustrated (16 de maio 1988), o jornalista Clive Gammom descreve os bacalhaus pegos depois de dois dias. Muitos dentre eles estavam “sem olhos, sem nadadeiras, sem escamas”; numerosos outros foram devorados pelas pulgas do mar. Os peixes imobilizados são uma presa sem defesa (os predadores que eles atraem ficam seguidamente presos também às redes). Quando uma rede é erguida, os peixes são extraídos com gancho.

Certos pescadores comerciais pegam ainda os peixes maiores e preciosos (os peixes-espadas, os atuns e tubarões) com arpão, ou com anzóis individualmente. Mas comumente eles os prendem por longas linhas flutuantes. Este método, igualmente empregado para os peixes menores, consiste em desenrolar uma grande quantidade de fio (até 50 km) contendo centenas ou milhares de anzóis munidos de iscas.

A pesca de lazer

Em torno de 40 milhões de habitantes dos Estados Unidos – 16% – maltratam os peixes por “esporte”. Muitos adeptos da pesca de lazer afirmam que as vitimas não sofrem. Todos os dados conhecidos indicam o contrário.

O pesquisador John Verheijen e seus colaboradores estudaram a reação das carpas ao anzol num fio. Assim que são presas, as carpas agitam a cabeça, cospem como se tentassem cuspir a comida, pulam pra frente e mergulham. Obtemos a mesma reação inicial administrando-lhes choques elétricos dentro da boca. Quando são presas e mantidas numa linha estendida durante o período de alguns minutos, elas cospem o gás de sua vesícula nadadora; assim que a linha é solta, elas entram na água. Fazem exatamente o mesmo quando submetidas a um choque elétrico intenso e prolongado. De uma maneira incrível, elas reagem do mesmo modo quando as assustamos lhes prendendo num espaço reduzido ou lhes fazendo sentir o cheiro de um membro ferido de sua espécie. Os pesquisadores concluíram que o anzol suspenso num fio provoca certa combinação de terror e de dor.

Durante a luta do peixe preso ao anzol, seu glicogênio muscular (forma de estoque de glicose) é consumido e exterminado, assim como o acido láctico se acumula rapidamente em seu sangue. Em alguns minutos, a metade das reservas de glicogênio de uma truta arco-íris é desgastada pelo esforço violento que ela fornece. No número de maio de 1990 do Field and Stream, o cronista Bob Stearns reconhece que o acido láctico pode “imobilizar” um peixe “de modo bem mais rápido e intenso que as câimbras e outras dores musculares que nós, humanos, sentimos quando exercitamos demais os músculos”. Quanto mais o peixe luta, maior é a acumulação de acido láctico. Porém, os pescadores sentem prazer em “trabalhar” duro durante a pesca. No numero de julho de 1990, Stearns exalta uma “pequena esposa de pescador” que pesca um peixe espada durante mais ou menos cinco horas: “Cada vez que o peixe ficava lento, ela aproveitava a ocasião: puxando-lhe, pressionando e forçando-o a gastar suas próprias reservas de energia, não lhe dando um único instante de descanso”. Antes de ser tirado da água, muitos peixes morrem de cansaço. 

Para muito outros, o pior dos sofrimentos ainda está por vir. Tipicamente, o pescador puxa os peixes médios e grandes para dentro do barco fisgando-os com a ajuda de um arpão. Às vezes eles são esfolados vivos. Muitos pescadores têm o habito de fisgar as presas ainda vivas numa corda ou uma rede que eles deixam por horas na água. Uma corda é fincada em cada peixe, geralmente pela boca e saindo por uma abertura das brânquias. Uma rede, munida de fechos que parecem enormes alfinetes, serve para emparelhar os peixes, geralmente através da mandíbula. A maioria dos peixes da pesca de lazer morre sufocada. Mesmo fora da água a morte pode ser lenta. Na edição de outubro de 1980 de Field and Stream, Ken Schulz descreve uma Perca depois de uma hora fora da água: ela tinha as nadadeiras e brânquias vermelhas e “continuava a sufocar”.

A pesca em que o pescador libera a presa inflige, no mínimo, terror, dor e uma incapacidade temporária ou seguida, permanente ou fatal. O editor adjunto de Field and Stream, Jim Bashline, admite em um artigo do número de maio de 1990 que é freqüente ver o peixe “se debater violentamente quando o pescador puxa o anzol, que ele foge e bate brutalmente no fundo do barco ou do solo rochoso”. As quedas, a manipulação dos fios ou a mão e outras agressões ainda machucam a pele superficial delicada e transparente do peixe. Esta camada mucosa externa o protege contra infecções e protege os tecidos subjacentes contra a entrada ou saída excessiva de água; todas as condições que podem ser fatais. Experiências que também foram feitas confirmam que os peixes podem morrer de envenenamento por causa do próprio ácido lático, e isso muitas horas depois de estarem exaustos, e terem ficado muito tempo completamente paralisados. O próprio anzol é sempre uma fonte de machucados. O peixe que tem a boca gravemente dilacerada pode ficar incapaz de se alimentar. Muitos peixes são ainda soltos com o anzol preso nas brânquias ou nos órgãos internos, no caso de o terem engolido.

A pesca constitui também uma tortura infligida a aqueles que são empregados como isca. Os pequenos peixes, como os Vairões (ou Tanictis) utilizados com este fim, são geralmente presos pelas costas, lábios, ou mesmo pelos olhos. Já que as feridas tendem a atrair as espécies predatórias que são procuradas, certos pescadores infligem ainda outras às suas iscas, cortando as nadadeiras ou quebrando-lhes as costas.

A administração dos peixes para a pesca de lazer

A fim de assegurar a estabilidade do número de presas, os criadores de alevinos nos Estados Unidos soltam, por ano, nos estuários das águas centenas de milhões de peixes, principalmente salmões e trutas. Ted Williams, que se descreve ele mesmo “um antigo cão de guarda dos administradores”, qualificou as criações de peixes de “lixos genéticos”. Num artigo publicado em setembro de 1987 no Audubon, ele escreve: “Depois de anos de reprodução consangüínea, as trutas dos criadores tendem a ser deformadas. Os opérculos branquiais não fecham mais, as mandíbulas são tortas, as caudas são esmagadas”. Certas más mutações são cultivadas intencionalmente; assim, a agência governamental de gestão da fauna selvagem do Estado de Utah tem produzido massivamente albinos, sensíveis à luz, para servirem de presas fáceis de serem capturadas.

Williams deplora as condições de criação de trutas dos criadores e fala de “tanques de concreto infectos e superlotados, que eliminam as escamas e as nadadeiras dos peixes”. Ele adiciona que os peixes são despreparados para a vida selvagem. Mesmo se as trutas fogem quando sentem um movimento acima delas, as que vêm dos criadouros ficam lá, esperando para serem alimentadas (os pescadores não reclamam). Williams, ele mesmo apaixonado pela pesca de linha, abre a barriga de uma truta de um criadouro, e encontra numerosos tocos de cigarro que o peixe, habituado a comer granulados, tinha engolido.

Mark Sosin, adepto da pesca de lazer e John Clarke, biólogo de pesca, escreveram um livro para os pescadores de linha, Through the Fish’s Eye: An Angler’s Guide to Gamefish Behaviour (“Através do olho do peixe: um guia sobre o comportamento dos peixes”) , no qual eles ingenuamente definem como objetivo da administração da criação dos peixes: “fornecer o melhor peixe para o prazer do pescador”. Com o objetivo de reduzir a população dos pequenos peixes que não lhes interessam e aumentar a claridade da água, os administradores esvaziam parcialmente com freqüência certos lagos e tanques, deixando assim as espécies não desejadas sofrer da falta de alimento, da falta da cobertura de água, de espaço para evitar os predadores. Friamente, Sosin e Clarke aconselham: “Quando um lago ou tanque fica fortemente povoado de espécies não desejados, a melhor solução pode ser aniquilar todos os peixes e recomeçar de novo. Podemos geralmente secar o lago, ou envenenar todos os peixes (…) Uma vez todos os peixes mortos, a bacia pode ser cheia de novo e povoada segundo a combinação desejada de espécies predatórias e presas”. A combinação desejada é, deve-se compreender, aquela que desejam os pescadores de linha e “administradores da fauna” cujos salários vêm em grande parte das licenças de pesca.

A maioria dos humanos sente pouca simpatia pelos peixes. Porque os enxergam como uma massa, ou como idênticos através de espécie, as pessoas negligenciam facilmente os peixes como indivíduos. Porque o mundo deles é um mundo aquático cujos meios de comunicação escapam aos nossos sentidos, porque sua aparência física difere tanto da nossa… Por todas essas razões, muitos humanos não lhes reconhecem a sensibilidade. O resultado é que o mau trato destes animais é socialmente aceitável. À medida que o número de pessoas conscientes acreditar na sensibilidade dos peixes, estes começarão a receber a compaixão e o respeito que merecem.

No domínio dos sentimentos, Big Red tem muito a nos ensinar.

Nota

1 “Os peixes que são largamente consumidos- atuns, arengues e bacalhaus pequenos- são todos pescados entre a superfície e em torno de 800metros de profundidade. Mas a concorrência e a raridade de bancos obrigam os barcos pesqueiros a mergulharem os fios cada vez mais profundamente. Resultado: os peixes que até agora desconhecíamos chegam ao mercado. Como o Peixe rato (ou Peixe prego), que vive a mais de 1400 metros de profundidade.

“Para responder às necessidades dos novos pescadores, uma sonda acaba de ser colocada por Micrel, uma sociedade da Bretanha, em colaboração com o Ifremer (Instituto francês de pesquisa e exploração do mar)”.

Libération, 16 de outubro de 1991; NdT.

Texto publicado nos Cahiers antispécistes n° 1 (outubro 1991)

Joan Dunayer

Escritora, editora e defensora dos direitos dos animais. Graduada de Princeton University, tem mestrados em literatura inglesa, educação inglesa e psicologia. Seus artigos e ensaios apareceram em revistas, jornais, livros universitários e antologias. Ela é a autora de Speciesism and Animal Equality.

Turismo – problema ou solução?


cm.turismoatarde@gmail.com | Foto: 

Ilha Skopelos, Grécia

Começa o ano de 2019. Novo Governo, velhos problemas. Afinal, é o turismo problema ou solução? Se for encarado como solução, muito tem que ser feito para incrementar uma das atividades que mais cresce no mundo atual, e que traz recursos, fazendo girar a economia, especialmente no ramo de serviços.

Hoje o turismo é uma atividade segmentada, focada no atendimento cada vez mais especializado no que o cliente busca. Não é apenas o ato de viajar para curtir um determinado local, é viajar para se obter uma experiência única, especial, verdadeira.

Assim entre os maiores segmentos desse mercado, por afluência de turistas, temos o turismo de lazer; de negócios ou compras; de eventos (congressos, convenções, feiras, encontros e similares); terceira idade ou melhor idade; desportivo; ecológico; rural; de aventura; religioso; conhecimento; cultural; científico; gastronômico; estudantil; familiar e de amigos; de saúde ou médico-terapêutico. Fora outros que estão sendo criados neste momento, para atender determinada faixa de pessoas ou clientes.

A segmentação traz enorme vantagem, como economia de escala para as empresas turísticas, aumento da concorrência no mercado, criação de políticas de preços e de propaganda especializada, e promoção de maior número de pesquisas científicas, o que reflete em melhoria na oferta de empregos, maior arrecadação e, em consequência, melhor atendimento das necessidades em educação, saúde e segurança, que são os campos onde o Estado realmente não pode faltar.

Embora o Brasil possua um potencial espetacular em termos de belezas naturais, biodiversidade, clima e território, o turismo ainda é muito incipiente em nosso país. Se buscarmos a base de dados do anuário estatístico do Ministério do Turismo, de 2018, que compila os números de 2017, veremos assustados que embora tenha melhorado em relação ao ano de 2016, pois saltamos de 6 milhões e 546 mil turistas para 6 milhões e 588 mil (nossa, como cresceu!!!), o afluxo de turistas estrangeiros é ridículo se comparado a outro destinos no mundo, como por exemplo a Europa, que atraiu em 2015, cerca de 608 milhões de pessoas.

O investimento em infraestrutura e na educação voltada para o atendimento desse mercado de trabalho, poderia gerar resultados permanentes e bastante promissores, como por exemplo, a República Dominicana, um país que divide a mesma ilha onde se situa com o Haiti, o mais pobre país das Américas, e é o mais rico do Caribe, oferecendo basicamente o turismo como fonte de renda para a sua população, e obtendo bastante sucesso até o momento.

Ao compararmos aquela pequena ilha caribenha a uma parcela do litoral brasileiro, por exemplo ao Estado possuidor do maior litoral entre os demais Estados da Federação, a Bahia e seus 1100 km de praias, vemos que as praias baianas nada ficam a dever em relação às dominicanas, pelo contrário, as daqui nunca fecham por conta de furacões, que assolam aquela parte do mundo durante um período do ano.

Eis o porquê de se entender o ramo de serviços como alternativa bastante razoável a outros setores mais tradicionais, como o de commodities ou até mesmo o industrial, que vicejam na maré dos mercados, ora em crise, ora em alta. Além é claro, de considerarmos, o constante crescimento da automação da indústria e da agropecuária, implicando no aproveitamento da mão-de-obra ociosa, oriunda da substituição do ser humano por máquinas. Nesse ponto o turismo e o setor de serviços, surge como alternativa viável e lógica, necessitando também de uma mudança de paradigmas em relação ao trabalho e como encaramos o trabalhar quando outros descansam.

A implantação de um resort ou outro empreendimento turístico qualquer, por exemplo, implica na contratação de centenas de funcionários para o atendimento das diversas demandas existentes, como recepção, recreação, atendimento a portadores de necessidades especiais, informática, lavanderia, cozinha, arrumação, jardinagem, manutenção predial, motoristas, fora toda a parte logística que funciona ao redor do empreendimento para suprir as demandas em alimentação, vestuário, material de limpeza e construção etc e nem consideramos aqueles outros empreendimentos que podem se beneficiar da chegada de turistas à região, como restaurantes, lojas de souvenires, bares, cafés, artesanato etc.

Em suma, o turismo em um país como o nosso talvez seja a verdadeira solução para o atendimento das necessidades crescentes da sociedade, por mais e melhores empregos e oportunidades de crescimento profissional. Seria bom se voltássemos nossas atenções para este setor, ainda pouco explorado nesse continente chamado Brasil.

O turismo é um problema ou solução?

Confira a coluna de Carlos Morais sobre turismo.

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SERVIÇOS | FOTO: CARLOS MORAIS

O turismo é um problema ou solução?



EUA preparam ação coletiva contra a Vale 



Depois do caso da Petrobras, que pagou R$ 10 bilhões a acionistas norte-americanos antes mesmo que o processo apresentado contra a estatal fosse concluído, será a vez da Vale; dois escritórios de advocacia dos EUA anunciaram que pretendem entrar com ações coletivas contra a empresa na Justiça do país após as perdas causadas aos investidores pelo rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho (MG)

28 de Janeiro de 2019 às 19:30 // Inscreva-se na TV 247 

247 - Depois do caso da Petrobras, que pagou R$ 10 bilhões a acionistas norte-americanos antes mesmo que o processo apresentado contra a estatal fosse concluído, será a vez da Vale. Dois escritórios de advocacia dos EUA anunciaram que pretendem entrar com ações coletivas contra a empresa na Justiça do país após as perdas causadas aos investidores pelo rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho (MG).

"A Rosen Law está preparando uma ação coletiva para recuperar as perdas sofridas pelos investidores da Vale", afirma comunicado dos advogados enviado a investidores, segundo reportagem do Estado de S.Paulo. O escritório afirma estar investigando se a mineradora brasileira pode ter "emitido ao público informações de negócios materialmente falsas".

O escritório Tha Schall afirma estar investigando se a Vale soltou "informações falsas e enganosas" aos investidores, que omitiam os riscos com a barragem e, por isso, burlam as regras do mercado acionário dos EUA.

Vale desaba 24,5% e perde mais de R$70 bi em valor de mercado após tragédia em MG

SÃO PAULO (Reuters) - As ações da Vale fecharam em queda de mais de 20 por cento nesta segunda-feira, pior desempenho diário da sua história e equivalente uma perda de 72,8 bilhões de reais em valor de mercado, após a tragédia com o rompimento de uma barragem de mineração da companhia em Brumadinho (MG), que deixou até o momento 60 pessoas mortas e quase 300 desaparecidas.

Os papéis da mineradora fecharam em queda de 24,52 por cento, a 42,38 reais, derrubando o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, que fechou em baixa de 2,29 por cento. O volume de ações negociado foi o maior desde a estreia da Vale na bolsa. Em termos financeiros, foi o maior giro do pregão desta segunda-feira, totalizando 8,15 bilhões de reais.

Os primeiros relatórios de analistas do setor de mineração recomendaram cautela com as ações dado o horizonte nebuloso à frente em razão de potenciais desdobramentos da desastre, que aconteceu pouco mais de três anos depois que uma barragem da Samarco - uma joint venture da Vale com a BHP - rompeu em Mariana (MG), levando a 19 mortes e poluindo o rio Doce.

Os analistas Leonardo Correa e Gerard Roure, do BTG Pactual, afirmaram terem sido "verdadeiramente surpreendidos" com o evento, citando que, desde o acidente com a Samarco, a Vale investiu em uma série de medidas para inspecionar e garantir que as operações existentes fossem seguras.

Desde o rompimento da barragem de Brumadinho na sexta-feira, a Vale já teve contra si a decretação de quatro bloqueios judiciais e a aplicação de outras duas sanções por órgãos administrativos no valor total de 12,1 bilhões de reais, segundo levantamento feito pela Reuters nesta segunda-feira.

A mineradora também suspendeu sua política de remuneração aos acionistas, o que na prática significa o não pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio.

Por Paula Arend Laier

TCU determina que Presidência da República fortaleça o Incra e faça concurso público


A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) de hoje (31/01/2019), na Edição 22, Seção 1, Página, 51. O material está contido na Ata nº 50, de 12 de dezembro de 2018, nos itens 9.2.2, 9.4 e 9.8.1

Em sessão extraordinária do plenário, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou, entre outras decisões, que a Presidência de República/Casa Civil apresente, em 90 dias, plano de ação com metas de implementação de estratégia e ações no sentido de:

– dotar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) das condições adequadas de prestar assistência técnica e extensão rural a seu público-alvo;

– não se omitam diante de quaisquer propostas de consolidação de assentamentos, apresentando avaliação dos investimentos e condições necessários para garantir a sustentabilidade econômica do assentamento e a vida digna aos assentados;

– reforce o apoio do governo federal à estruturação do Incra de forma a reforçar a oferta de assistência técnica contínua e aestimular a realização de novos concursos para o órgão

A decisão está publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 31/01/2019 – na Edição: 22, Seção 1, Página, 51. O material está contido na ATA Nº 50, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2018, especificamente nos itens: 9.2.2 , 9.4, 9.8.1.

(…)

9.1. Determinar à Casa Civil da Presidência da República que, em articulação com o Grupo Gestor do Plano Progredir (GGPP), com fulcro no Decreto nº 8.889/2016, art. 1º, inciso I, do Anexo I, e Decreto nº 9.160/2017, art. 5º, inciso 1º, coordene e apresente, em 90 dias, plano de ação com metas de implementação, seus responsáveis e estratégia de intercâmbio das ações entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), o Ministério do Trabalho (MTb) e o Ministério da Educação (MEC), tratando no mínimo de questões, como:

(…)

9.2.2. adote, em 120 dias, medidas necessárias para rever o entendimento que impossibilita Sead e Anater de atenderem agricultores assentados da reforma agrária ou dote o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) das condições adequadas de prestar assistência técnica e extensão rural a seu público-alvo (§ 141);

(…)

9.4. Determinar ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), enquanto estiverem vigentes os §§ 6º e 7º do art. 17 da Lei 8.629/1993, e com base nesse mesmo § 6º e até que seja analisada a avaliação solicitada no item (2.c) deste relatório à Casa Civil, que não se omita diante de quaisquer propostas de consolidação de assentamentos, apresentando avaliação dos investimentos e condições necessários para garantir a sustentabilidade econômica do assentamento e a vida digna aos assentados, independente de transcorridos os períodos previstos pelos citados parágrafos, desde a criação do assentamento (§ 163)

(…)

9.8. Recomendar à Casa Civil da Presidência da República que:

9.8.1. reforce o apoio do Governo Federal à estruturação do Incra e das Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emateres) e entidades estaduais similares, de forma a reforçar a oferta de Ater contínua e a estimular a realização de novos concursos por esses órgãos para a contratação de técnicos extensionistas, tendo em vista a natureza contínua e relevante dos serviços prestados (§ 251);

http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/61357555/do1-2019-01-31-ata-n-50-de-12-de-dezembro-de-2018-61357227

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DEU NO ESTADÃO União suspeita que Estados maquiaram dados para decretar calamidade financeira



Tesouro avisa que cobrará contabilidade detalhada de todos poderes


ESTADÃO


 


Estados em crise e que decretaram calamidade financeira estão entre os que apresentam as maiores disparidades entre os dados declarados ao Tesouro Nacional e as informações levantadas pela própria União, um indício forte da maquiagem nas contas avalizada pelos próprios Tribunais de Contas dos Estados (TCEs). Dos cinco Estados com maior disparidade, três - Minas, Rio e Goiás - já decretaram calamidade financeira. Mato Grosso e Roraima também decretaram calamidade.

Para tentar interromper essa prática, o Tesouro passará a cobrar uma contabilidade minuciosa das despesas de todos os poderes, incluindo auxílios, bônus e outras vantagens pagas aos servidores - um nível de detalhe inédito. Na contabilidade de alguns Estados, esses "penduricalhos" não entram na conta de gastos com salários, maquiando, portanto, uma exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determina desembolso máximo de 60% da receita com esses pagamentos.

Com a chamada "Matriz de Saldos Contábeis", Estados e municípios deixam de repassar dados meramente declaratórios sobre seus gastos. Eles são agora obrigados a enviar informações de sua própria contabilidade, o que dará ao Tesouro ferramentas para fazer diversas análises sobre os gastos e expor as divergências.

O sistema já está em funcionamento desde 2018, mas neste ano a cobrança será mais rigorosa, incluindo um "ranking" dos governadores e prefeitos que dão mais transparência a seus gastos nessa plataforma. O projeto é considerado um aliado essencial na tentativa de dialogar com os TCEs para rever interpretações da LRF que permitiram o aumento dos gastos com pessoal e estão por trás da crise financeira que já levou sete Estados à calamidade financeira.

Como já mostrou o Estadão/Broadcast, os Tribunais de Contas negociam o fim das maquiagens que retardaram o diagnóstico da real situação fiscal dos Estados, a partir de um acordo com Tesouro, a Atricon (associação dos membros dos tribunais) e o Instituto Rui Barbosa (a escola de contas das cortes). A primeira reunião ocorre nos dias 6 e 7 de fevereiro em Brasília, com participação de 21 dos 33 tribunais. 

O Tesouro comparou os dados extraídos a partir da contabilidade dos Estados e os declarados pelos próprios governos estaduais em um relatório do 4.º bimestre de 2018. No caso do Rio, apenas 9,4% das quase 1,4 mil informações bateram nos dois critérios. Mesmo com um desconto de arredondamento do Tesouro, esse índice fica em 45% - ou seja, mais da metade das informações ainda tem discrepâncias.

Em Minas, que esbarra justamente na contabilidade para conseguir aderir ao Regime de Recuperação Fiscal, programa de ajuda financeira aos Estados, apenas 18,9% dos dados batem, mesmo já retirando diferenças de arredondamento. Em Goiás, o índice é de 32,87%. Procurados, o Rio informou que, a partir deste ano, vai enviar os dados com base na Matriz de Saldos Contábeis. Minas e Goiás não retornaram os pedidos da reportagem. 

Com o novo mecanismo, segundo a subsecretária de Contabilidade Pública do Tesouro Nacional, Gildenora Milhomem, a constatação de que não só os Estados e municípios, mas também os Tribunais de Contas ficarão expostos tem sido um incentivo adicional para que os conselheiros aceitem abrir o diálogo. "Os tribunais, ao longo de muitos anos, foram omissos e até permissivos para que se chegasse a essa situação de déficit fiscal nos Estados."

Ela lembra que o Rio Grande do Sul, outro em calamidade financeira, também esbarra na contabilidade para aderir ao programa de socorro federal. Ao seguir as resoluções do TCE-RS, o governo gaúcho acaba descumprindo a LRF. O TCE-RS informou ter criado em agosto de 2018 um grupo interno para reavaliar suas normas. "Esse grupo deve concluir seus trabalhos em maio de 2019", diz o Tribunal.