Um projeto está ajudando a salvar tartarugas que estavam ameaçadas de extinção no Rio Araguaia, no Mato Grosso. No terceiro episódio da série Ilha do Bananal, a equipe do Fala Brasil viajou até lá para acompanhar de perto o projeto "Amigos da Natureza".
A esperada chuva de setembro finalmente chegou depois de 121 dias, em Cuiabá, neste domingo (20.09). Em Várzea Grande, em alguns bairros também está garoando, uma chuva fina. A esperança de que ela dê um alívio ao clima de deserto com umindade baixa modifique nesta semana que começa a primavera, e traga um alívio a população mato-grossense. A fumaça que cobre as cidades e o Pantanal de Mato Grosso deve dar uma trégua com a chegada das chuvas e ventos. O tempo previsto para hoje é sol com muitas nuvens. Com pancadas de chuva à tarde e à noite. Mínima de 25° e máxima de 35° na capital.
Além do apoio operacional das instituições, os recuperandos construíram recintos para abrigar animais silvestres resgatados e caixas para transportar onças
Nara Assis
Com informações Sesp-MT
Reeducandos que construíram recintos para animais silvestres – Foto por: Nara Assis / Sesp-MT
As forças de segurança pública de Mato Grosso somam esforços à força-tarefa de combate a incêndios florestais no Pantanal. Além do apoio operacional da Polícia Militar Ambiental, Corpo de Bombeiros Militar (CBM-MT), Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) e Polícia Judiciária Civil (PJC-MT), 11 reeducandos estão atuando na construção de recintos para abrigar os animais resgatados.
Eles também fizeram a cerca do Posto de Atendimento Emergencial a Animais Silvestres do Pantanal (PAEAS Pantanal), montado na entrada da Transpantaneira, em Poconé (100 km de Cuiabá), e construirão outras unidades de suporte de trabalho para médicos veterinários e biólogos que prestam atendimentos aos animais. A estrutura do local foi apresentada pelo coordenador da força-tarefa, coronel BM Paulo André Barroso, a um grupo de diligência do Congresso Nacional que esteve na Transpantaneira no sábado (19.09).
Atualmente, o PAEAS Pantanal possui três recintos para abrigar os animais que são encontrados feridos pelo fogo. Os reeducandos ainda fizeram grandes caixas de madeira, próprias para o resgate e transporte de onças feridas. Um deles, D.K., de 29 anos de idade, é operador de máquinas e, por enquanto, está operando o caminhão-tanque do CBM-MT nas ações de combate ao fogo. Ele irá operar ainda uma máquina especializada na realização de aceiros que deve chegar nos próximos dias.
Segundo o recuperando, é motivo de satisfação auxiliar na conservação do meio ambiente. “É uma oportunidade boa para nós, e ver os animais sendo trazidos para cá, tendo um local para receber tratamento e depois podendo voltar para a natureza é uma alegria”. Junto aos demais, eles receberam treinamento dos bombeiros para fazerem aceiros e atuarem em incêndios urbanos e de pequena proporção que não comprometam a segurança deles. Para cada três dias trabalhados, é garantido um dia a menos de pena, em cumprimento à Lei de Execução Penal n° 12.433/11.
O secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Bustamante, ressaltou a importância da integração entre as instituições e também o apoio de Organizações Não Governamentais (ONGs), Prefeitura de Poconé, entidades de turismo e outros integrantes da sociedade civil.
“O trabalho que está sendo feito é resultado da soma de esforços de várias pessoas, e empregar a mão de obra de reeducandos é uma das iniciativas da Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública) que, além de contribuir com a causa, promove a ressocialização”.
As madeiras utilizadas nas construções, assim como alguns maquinários, são frutos de apreensões pela fiscalização. A secretária de Estado de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, frisou que o PAEAS foi viabilizado graças a um trabalho conjunto.
“É uma ação que tem o emprenho do Governo do Estado, por meio de várias Secretarias, investimentos do Programa REM-MT (da sigla em inglês, REDD+ para Pioneiros), apoio das Ongs, Prefeitura, Sindicato dos Produtores Rurais, voluntários, e o trabalho dos reeducandos, que tem sido primordial neste momento”.
Na avaliação do coordenador da força-tarefa, coronel BM Paulo André Barroso, a mobilização dos parlamentares e de toda a sociedade em torno das ações de combate ao fogo no Pantanal “é motivo para acreditar que é possível mudar as coisas e fazer melhor”.
durante visita ao Pantanal MT, neste sábado, com a Comissão Externa do Senado Federal e Câmara Federal. Objetivo é propor ações que ajudem a preservar o bioma, que sofre com focos de incêndios.
O presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso – ALMT, deputado Eduardo Botelho (DEM), defendeu a o trabalho em parceira da ALMT com o Congresso Nacional para a criação de um Estatuto do Pantanal, promovendo ações de proteção ao meio ambiente para que tragédias como essa não se repita no bioma.
“A destruição é muito grande. Então, vamos trabalhar para criarmos o Estatuto Estadual e Nacional permanente do Pantanal para criar obrigações às pessoas que vivem no Pantanal, aos empresários, para o estado e União para que venham a tomar providências urgentes e quando começar algo assim não chegue nesse nível porque podemos perder 30% da fauna e flora do Pantanal”, questionou Botelho.
O governador Mauro Mendes afirmou que as pessoas que insistem em iniciar incêndios florestais de forma criminosa em Mato Grosso “sofrerão graves consequências na vida econômica”.
A declaração foi dada à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre (RS), na manhã desta segunda-feira (21.09).
Mendes registrou que o sistema de monitoramento via satélite permite detectar “com muita precisão” se um incêndio ocorreu de forma criminosa ou acidental. Segundo o governador, já foram detectadas ocorrências de incêndios de ambos os tipos no Pantanal.
“Um acidente de rede elétrica, com um fio de alta tensão, causou um dos maiores incêndios. Temos imagens também de um cara colocando fogo na leira [sulco aberto na terra] e, a partir daí, gerou um grande incêndio que atingiu a propriedade dele e propriedades vizinhas”, citou.
De acordo com o governador, já foram aplicadas mais de R$ 190 milhões em multas por uso irregular do fogo somente neste ano.
Os infratores que não pagarem as multas, segundo Mendes, serão duramente responsabilizados. Além das multas ambientais, a Delegacia de Meio Ambiente também investiga na esfera criminal os autores dos incêndios.
“Aqueles que estão apostando na ineficiência do Governo, vão ter uma triste surpresa. Eu não gostaria de multar ninguém, mas também não gostaria de ver o Pantanal queimando por incêndios criminosos. Essa multa vai para a dívida ativa do Estado. Se não pagar, colocamos esse cidadão no cadastro de inadimplentes, no Serasa, no SPC, e isso vai trazer graves consequências para a vida econômica dessas pessoas”, garantiu.
Combate aos incêndios
O Governo do Estado tem atuado forte no combate aos incêndios florestais desde março, quando foi lançado o Plano de Ação contra o Desmatamento Ilegal e Incêndios Florestais em Mato Grosso.
Já foram mais de R$ 22 milhões investidos de recursos próprios, contando com 40 equipes espalhadas por todo o estado para o combate ao fogo, seis aeronaves, três helicópteros e mais de 2500 profissionais envolvidos, desde bombeiros militares, voluntários, integrantes da Defesa Civil e do Exército.
Porém, em virtude das condições climáticas desfavoráveis, como a baixa umidade e falta de chuvas há cerca de 120 dias, o Governo de Mato Grosso tem buscado novas parcerias para minimizar os impactos do fogo para o meio ambiente e qualidade de vida do cidadão.
A pedido do governador, o Governo Federal garantiu o repasse de mais R$ 10 milhões e o envio de agentes das forças de segurança nacional para reforçar o combate aos incêndios.
“Nós reforçamos as equipes, mais aviões foram alugados, compramos retardantes, e com isso conseguimos minimizar a situação. Também criamos locais para tratar os animais que ficaram feridos, para proteger nossa fauna e flora”, pontuou Mendes.
Esta data foi estabelecida em nosso país no início do período militar, em 24 de fevereiro de 1965, estabelecendo que a data seria comemorada todos os anos em 21 de setembro, um dia antes do início da primavera. Segundo o site Uol, o Brasil é o segundo país com a maior cobertura vegetal do mundo, ficando atrás apenas da Rússia. De acordo com os dados da Global Forest Watch, o nosso país perdeu quase 54 milhões de hectares de cobertura arbórea entre 2001 e 2018. Estima-se que 66% desta perda ocorreu devido a fatores de urbanização e de agropecuária para fins comerciais.
Mesmo com tantas dificuldades e tanto desmatamento, na outra ponte, grupos promovem ações de sustentabilidade. É o caso do projeto Cuiabá Mais Verde que reuniu na manhã desta segunda-feira (21) dezenas de voluntários para o lançamento simbólico do projeto que visa plantar mais de 2 mil mudas de árvores na Capital. O lançamento aconteceu na Avenida Helder Cândia, em frente ao Colégio Plural e contou com todas as medidas de biossegurança em relação ao Coronavírus.
Após a abertura do evento, que iniciou com a fala da idealizadora do projeto e advogada Silvia Mara, 40, e instruções sobre o plantio adequado de mudas, os voluntários foram convidados a colocar a mão na terra e plantar 50 mudas de árvores, neste lançamento. Tanto as mudas, as covas de plantio e a irrigação da vegetação foram providenciadas pela Prefeitura Municipal de Cuiabá. Empresas também auxiliaram com o projeto.
“Primeiramente, gostaria de agradecer a todos os que estão aqui presentes. Muito obrigada aos voluntários, participantes do nosso grupo, pela dedicação, empenho e vontade em fazer p Projeto Cuiabá Mais Verde sair do papel, sem vocês nada disso estaria acontecendo. Agradeço também a Prefeitura Municipal de Cuiabá e todos os seus servidores que abraçaram o nosso projeto e não estão poupando esforços para nos ajudar. Muito obrigada a todas as empresas e pessoas físicas que doaram o suficiente para que pudéssemos montar toda estrutura.” Disse Silvia em agradecimento às pessoas que fazem o projeto acontecer.
O projeto começou quando Silvia publicou em um grupo no Facebook, uma foto, em um trecho da avenida Helder Cândia (estrada da Guia/ MT- 010), duplicada, com sinalização e ciclovia que foi inaugurada em outubro do ano passado, pelo Governo do Estado, na Capital. Na foto, ela questiona que não há arborização no trecho e estende que na cidade falta árvores para amenizar o calor, proporcionar sombra, frutos, melhorar significativamente a qualidade do ar e inúmeros outros benefícios.
Após a publicação no Facebook, Silvia ingressou um grupo de conversas no Whatsapp e trabalha junto com outros voluntários espalhados por Cuiabá, Mato Grosso e até pelo Brasil. O grupo é aberto, desde que se faça um cadastro obrigatório.
A ação de lançamento do projeto contou, além do plantio ocorrido na manhã desta segunda, com a entrega de 200 mudas para quem passava pela avenida. A Semob garantiu a segurança de tráfego. Além disso três lives sobre a temática: “arborização urbana” com profissionais voluntários do projeto estão previstas para acontecer hoje (21), quarta (23) e sexta-feira (25), sempre às 19h, no Instagram do projeto: @projetocuiabamaisverde para toda a comunidade.
Em entrevista exclusiva para o Futuro com floresta, realizada dia 18/09/2020, Cláudia Sala de Pinho falou sobre os atuais incêndios florestais no Pantanal e sobre como as comunidades tradicionais estão sendo impactadas nesse cenário. O Pantanal teve até o momento quase 20% do seu território queimado após a pior seca no bioma nos últimos 50 anos. Claudia é Bióloga, Pantaneira, Coordenadora da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira, Articuladora da Rede de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (Rede PCTS), Presidenta do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais – CNPCT e Conselheira do Conselho Nacional do Patrimônio Genético – CGEN.
Foto: Claudia Sala de Pinho
Futuro com floresta: Qual o sentimento da população tradicional que vive no Pantanal neste momento?
Cláudia: Nós das comunidades tradicionais pantaneiras estamos num momento bastante crítico no Pantanal. A gente já vinha sendo afetado pela questão da pandemia e agora soma com a questão dos incêndios florestais. Nós estamos num momento de bastante reflexão e também buscando ajuda de várias formas. Pouca gente menciona a questão das vidas que estão sendo perdidas no Pantanal. Quando eu falo vidas, a gente está falando de uma diversidade de animais, plantas e microorganismos que não puderam ser salvos. O nosso sentimento é de incapacidade, de não ter como fazer nada. É muito difícil essa situação. Paira no ar uma perda… de muitas coisas juntas. Por que para nós está tudo conectado… a nossa vida humana tem uma conexão muito grande com as coisas no Pantanal. Com as coisas, com as árvores com a água, com os pássaros, com os animais de uma forma geral. Nós estamos sentindo o Pantanal agonizando, esse é o nosso sentimento, que muitas vidas estão se perdendo. Nesse cenário avassalador a gente se sente impotente.
Futuro com floresta: O fogo já chegou a atingir territórios tradicionais? Esses territórios estão ameaçados se o fogo não for controlado? Quais são os impactos que vocês já podem prever, que irá alterar o cotidiano da vida no Pantanal?
Cláudia: O fogo tem atingido já vários territórios tradicionais diretamente. Essa semana, por exemplo, uma comunidade no município de Barão de Melgaço, uma comunidade tradicional Pantaneira, perdeu todo o seu apiário, que era de mais ou menos 100 caixas de abelha e o fogo chegou muito próximo, muito próximo das casas. Em outras comunidades se faz vigilância dia e noite para ver para onde que o vento vai, de que forma que vai, há quantos quilômetros ele está da comunidade. É uma vigilância dia e noite. Existe ainda que indiretamente a questão da fumaça que atinge várias comunidades, mesmo quando a comunidade não foi atingida diretamente pelo o fogo Nós temos casos muitos graves de crianças com problemas respiratórios , ardência nos olhos . Isso está afetando diretamente a saúde de muitos membros das comunidades.
A gente pensa também muito nessa questão dos territórios tradicionais tanto pós pandemia, quanto pós incêndio porque os impactos que a gente está percebendo agora podem ser intensificados, por incrível que pareça, também com a presença das chuvas. Porque a chuva vai levar todas essas cinzas para os rios, para os córregos, corixos, baia. E a gente teme por uma dequada* que é normal, é natural no Pantanal , mas que pode ser intensificada agora com essa questão dos incêndios e com certeza isso irá mudar toda a forma e o modo de vida das comunidades tradicionais pantaneiras. Sobre a questão do extrativismo, podemos ter uma insegurança alimentar muito grande, muitas das áreas onde se coletava os frutos e sementes foram destruídas. E com a situação das cinzas a gente não sabe como vai ficar a questão do peixe. Então existe aí um cenário muito incerto, do pós-incêndio com a chegada das chuvas. Queremos que a chuva chegue, é preciso, é urgente, a gente ta aí com várias conexões, para que realmente a chuva desça, mas a gente sabe que a chuva por si só ela não vai resolver o problema dos incêndios. Ela vai apagar o fogo, mas a destruição, a gente não tem ainda muita dimensão.
Futuro com floresta: Abrir áreas para pastagem de gado foi a causa do incêndio, segundo investigações da Polícia Federal. Na visão das comunidades pantaneiras quais foram as causas do incêndio? Quem são os responsáveis pelo que está acontecendo?
Cláudia: Sobre a questão das pastagens. O pantanal tem muitas áreas de pastagem natural e o manejo do gado é feito também por comunidades tradicionais. É claro que a proporção de área e a quantidade de gado é pequena, perante muitas fazendas. Mas essa questão a de que o incêndio ele foi provocado, isso está bastante certo, não só porque já tem investigação, tanto da Polícia Federal quanto dos órgãos ambientais. Tem imagens de satélites feitas por várias instituições que tem feito esse acompanhamento, que sabem onde iniciaram o fogo. A gente sabe que é uma forma de limpeza, o fogo nessas áreas. Só que não dessa forma como foi agora. Não foi só num ponto o início do fogo. Para nós, comunidades tradicionais, o maior responsável, com certeza é o governo que aniquila a política ambiental de prevenção ao fogo, que destitui os órgãos responsáveis por fazer a prevenção a fiscalização e o monitoramento. Todas as vezes que a gente tem um órgão do governo com recurso menor, o governo está assumindo a responsabilidade de que as coisas não vão caminhar bem. Colocar fogo nessa área do Pantanal é uma forma indireta de dizer que concorda com a política de destruição ambiental que o governo federal vem implantando no país.
Abrir novas áreas para a pecuária, abrir novas áreas pro agronegócio, essa responsabilidade, ela não pode cair sob as comunidades tradicionais como muitos tentaram fazer no início dos incêndios florestais, dizendo que quem tinha colocado fogo eram os ribeirinhos, eram as comunidades tradicionais. Precisamos realmente analisar as responsabilidades do Estado brasileiro, do governo atual e também daqueles que concordam com esse tipo de política.
Futuro com floresta: Qual é a melhor alternativa de convivência com o bioma? Como há anos os povos e comunidades tradicionais contribuem para preservação da vida no Pantanal?
Cláudia: O Pantanal é o que é hoje porque existiram e existem comunidades tradicionais, dentre elas a pantaneira. Temos povos indígenas, quilombolas, os que se autoafirmam ribeirinhos e dentre eles as comunidades tradicionais pantaneiras. O manejo no Pantanal sempre foi muito presente. Eu costumo dizer que a gente não sabe qual é a data dos primeiros habitantes do pantanal porque nós sempre estivemos aqui. Os nossos ancestrais estiveram e continuam estando no Pantanal. Por isso que esta questão do incêndio, das energias da agonia dos animais, das plantas, ela mexe muito com a gente. Porque todas as formas de vida do Pantanal importam, porque todas as formas de vida do Pantanal estão conectadas e essa é a melhor forma de conviver, de co-viver, de moldar o Pantanal: respeitar todas as formas de vida e seus espaços. Nós temos áreas no Pantanal manejadas pelas comunidades tradicionais que hoje foram afetadas pelos incêndios, principalmente na questão da extração vegetal e da pecuária e a agricultura de pequena escala, a agricultura familiar.
As comunidades sempre manejaram o Pantanal de forma sustentável sabendo qual é o limite do Pantanal, quais são os períodos, respeitando os ciclos das águas e das chuvas. Para nós é muito importante que a nossa casa que é o Pantanal esteja em pé, porque abrigar as diversas formas de vida na nossa casa é uma forma de contribuir diretamente com o restante da sociedade seja para amenizar o aumento dos gases de efeito estufa, as mudanças climáticas de forma geral, seja na produção de alimentos, seja na conservação do ciclo hidrológico ou simplesmente contemplando o Pantanal que é um patrimônio da humanidade.
Nós temos dentro Pantanal comunidades tradicionais que estão aqui há muitos e muitos séculos, que tem uma tarefa muito importante, uma contribuição social muito importante que algum tempo atrás foi usurpada das comunidades por meio da criação das Unidades de Conservação. Na época não houve nenhum consulta às comunidades, elas simplesmente foram expulsas dos seus lugares.
Então a gente vê que esse incêndio no Pantanal junto com outros impactos que o Pantanal vem sofrendo e que de alguma forma não tinha destaque na grande mídia, são formas que possibilitam a exclusão. É o modelo econômico e social capitalista de oprimir as comunidades tradicionais, de extinguir as comunidades tradicionais do Pantanal.
Tem aí vários e vários empreendimentos. Para nós, comunidade Pantaneira, o Pantanal não é só a parte úmida ele é todo esse complexo da bacia do Pantanal, a beirada do Pantanal é Pantanal. Um complexo de empreendimentos de Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs) em vários rios que deságuam no Pantanal. É como se cortassem uma veia que sustenta o Pantanal quando colocam essas PCHs. E temos também agora o licenciamento dos portos fluviais. Tudo isso para implantar a hidrovia. E agora com essa questão da seca a gente sabe o quanto o Pantanal é sensível e o quando qualquer mudança e qualquer alteração trás um desastre muito grande pro ambiente pantaneiro. Tem trechos no Rio que não tem 70 cm de água e vai acontecer o que quando passarem embarcações pesadas pelo Pantanal? É acabar com aquilo que a gente ainda tem.
Entenda o que é a dequada*
A dequada é um fenômeno natural, caracterizado pela alteração das características da água. Ocorre sempre na subida das águas, quando o nível do rio Paraguai passa dos 3,5m. Ocorre a deterioração da qualidade da água, dependendo das características do regime hidrológico de cada ano, pois está relacionada com a quantidade de biomassa de plantas terrestres que sofrerá decomposição na cheia subseqüente.
Carta da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira aos Parlamentares da Câmara dos Deputados, por ocasião da diligência Queimadas no Pantanal.
Nós, Comunidades Tradicionais Pantaneira nos autorreconhecemos na identidade coletiva, alicerçados por marcos legais internacional como a Convenção 169 da OIT e nacional como a Constituição Federal, o Decreto 6040/2007 e Decreto 8750/2016. Nós, vivemos e convivemos no Pantanal, a maior área úmida contínua do planeta e seu entorno, nas regiões serranas, temos nosso modo de vida, secularmente há várias gerações, moldando e se adaptando aos contrastes dos ciclos das águas, e seus diversos ambientes naturais, a floresta, o cerrado e área de transição. Temos nossos conhecimentos tradicionais alicerçados nas vivencias e experiências ambientais, ecológicas e culturais, oralidade e observação, costumes e cultura próprios na percepção, uso, manejo e conservação deste bioma. Nossos antepassados e ancestrais estiveram e estão presentes no Pantanal, não conseguimos datar os nossos habitantes originários, mas sabemos que somos frutos da miscigenação dos povos indígenas que habitam e habitaram a região antes da chegada dos europeus somadas aos negros vindos do continente africano. Nós que ao longo dos séculos temos existido e resistido as todas formas de mudanças no Pantanal ocasionadas pela ação humana ou impostas por ela, e suas consequências, que muitas vezes nos têm colocado em situação de vulnerabilidade e invisibilidade social, ou até mesmo tentado nos extinguir e não reconhecer nossa existência neste lugar.
Somos os guardiões do Pantanal, este é nosso território sagrado, e nele estão todos os ensinamentos e a vivência que precisamos para desenvolvermos nossa vida com dignidade, onde os diferentes espaço se conectam, seja pela agricultura familiar, pesca, extrativismo e outras formas de ocupação. Muitos de nós desenvolvemos atividades como peões, vaqueiros, capatazes, coletores,bem como desenvolvemos funções ligadas aos ciclos das águas, como piloteiros, isqueiros, pescadores, dentre outros. Contribuímos significadamente com nosso modo de vida, para a mitigação ou adaptação aos efeitos adversos das mudanças climáticas, bem como para manter o Pantanal como um dos biomas até então mais conservados.
Neste momento, somos atingidos pela Pandemia do COVID19 e incêndios florestais, dois eventos avassaladores em nossos territórios. O Estado brasileiro tem sido omisso e negligente com nossa situação, nos colocando em situação de miséria e vulnerabilidade, fingindo não nos enxergar. De acordo com o exposto, vimos apresentar nossas demandas, exigindo que nossos direitos como comunidade Tradicional Pantaneira sejam reconhecidos e efetivados, em ações mínimas para minimizar os efeitos colaterais dos incêndios florestais que atingiram nossos territórios. Assim, apresentamos:
Participação de representantes da Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira na Comissão da Câmara Federal que discutirá questões dos Incêndios no Pantanal.
Criação de um grupo de trabalho específico pós incêndios no Pantanal, junto à Assembleia Legislativa de Mato Grosso, com participação efetiva de representantes de Comunidades Tradicionais Pantaneira para construção e implantação de politicas públicas.
Construção de um plano emergencial a nível estadual, de caráter proativo e protetivo para atendimento as comunidades tradicionais, com informações nítidas e realistas da situação sócio ambiental e cultural do Pantanal.
Criação e formação de brigada junto às comunidades tradicionais em pontos focais no Pantanal.
Disponibilização de recursos financeiros diretamente para as organizações de base das comunidades tradicionais para restauração ambiental e ecológica, recuperação de nascentes e reflorestamento dos territórios tradicionais atingidos pelo fogo.
Implantação de sistema de tratamento de água potável e de qualidade em comunidades tradicionais pantaneira, cuja seca originou escassez de água ou que a água do rio não pode ser consumida.
Financiamento em crédito rural (PRONAF) para custeio e investimentos em implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção, beneficiamento, industrialização em áreas comunitárias ´para geração e melhoria de renda com produtos do agroextrativismo.
Fortalecimento dos programas de aquisição de alimentos (PAA).
Implantação de bancos de sementes, produção de mudas nativas nas comunidades tradicionais.
Fomento para valorização da medicina tradicional com a implantação de farmácias tradicionais.
Diante disso, reafirmamos que somos resilientes, resistentes e continuaremos a existir nesta casa chamada Pantanal, e que sempre vamos lutar pelos nossos direitos, caminhando nas pegadas de nossos ancestrais, na busca da construção de uma sociedade socioeconômica, justa e inclusiva que combata as desigualdades, as violências, a pobreza e que nos assegure minimamente à condição humana e a busca pelo direito à vida digna.
Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneira Poconé, 20 de setembro de 2020.
Foto em destaque: Juliana Arini Palmo, fotógrafa, storyteller, Dó Bemol, jornalista e mãe-azul
Fantástico teve acesso aos detalhes do inquérito que investiga a origem de focos de queimadas no Pantanal. Dono de fazenda réu por corrupção é um dos investigados por fogo.
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No Pantanal, imagens mostram caminho do fogo e PF suspeita de ação criminosa em fazendas
Um patrimônio natural do Brasil agoniza em meio a uma onda devastadora de incêndios. Quem vai salvar o Pantanal? As chamas já consumiram 20% da vegetação. Animais em desespero tentam escapar do fogo, que se espalha com rapidez no clima seco. A região enfrenta a maior estiagem dos últimos 50 anos, consequência do aquecimento global.
Mas, a exemplo do que acontece na Amazônia, as queimadas no Pantanal podem ser resultado principalmente da intervenção humana. É o que uma investigação da Polícia Federal busca descobrir e o Fantástico teve acesso com exclusividade às informações do inquérito. Com a ajuda de imagens de satélite, os agentes identificaram o início de alguns focos de incêndios. A principal suspeita é de que, nos casos investigados, a ação tenha sido criminosa.
Em uma das regiões mais preservadas da região, perto do Parque Nacional do Pantanal, na divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o fogo teria começado de forma criminosa, dentro de fazendas.
“A Polícia Federal tem por competência constitucional e atribuição apuração de danos ambientais que atinjam áreas de proteção da União”, destaca Leonardo Rafaini, delegado da Polícia Federal. O nome dessa operação é "Matáá", que significa fogo no idioma de uma tribo indígena do Pantanal.
A investigação começou com a análise de imagens de satélites da Nasa. Um dos exemplos: no dia 30 de junho, aparece um primeiro foco de incêndio em uma fazenda. “A única causa natural para os incêndios florestais são as descargas elétricas atmosféricas, os raios”, afirma Alexandre Martins Pereira - analista ambiental do Prevfogo-Ibama. Em 30 de junho, não houve raios e o incêndio só pode ter sido provocado pelo homem. No dia seguinte, surgem outros focos, inclusive na fazenda vizinha. O incêndio cresce muito, como mostram as imagens. Situação parecida se repetiu em outras duas fazendas. E os focos começaram em datas próximas, no mês de julho - o que chamou ainda mais a atenção dos policiais.
No caso das quatro fazendas do Pantanal, o passo seguinte da investigação foi checar se as informações da Nasa batiam com as do banco de dados do Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. “É possível identificar a origem, o local dos focos e onde houve o provável início dos incêndios”, diz o delegado.
O resultado do Inpe: as queimadas começaram mesmo dentro das quatro fazendas e se espalharam, reforçando a suspeita de incêndio proposital. Depois, policiais seguiram as coordenadas dos satélites, filmaram - e fotografaram - o que sobrou do incêndio nas fazendas. Segundo a Polícia Federal, a devastação passou dos limites das fazendas e atingiu uma área total de cerca de 33 mil hectares, incluindo áreas de preservação permanente. A principal suspeita é que, nesse caso, houve o uso indevido do fogo para limpeza das pastagens.
Esse ano, já queimaram quase 3 milhões de hectares no Pantanal. E muitos focos começam por causa de uma prática comum, nem sempre autorizada pelos órgãos ambientais: atear fogo na pastagem para renovar o pasto. Depois da queima, com a primeira chuva, o capim rebrota vigoroso para engordar o gado. O problema é que com a seca e o vento, as chamas se alastram por fazendas vizinhas, atingem reservas ambientais, matam animais silvestres e devastam a vegetação nativa.
Uma das quatro fazendas investigadas pela Polícia Federal se chama Bonsucesso. Ainda havia focos de incêndio quando os agentes sobrevoaram o lugar, no mês passado.
O dono da Bonsucesso é o pecuarista Ivanildo Miranda. Ele é acusado de participar de escândalos recentes em Mato Grosso do Sul e aceitou fazer delação premiada. Ivanildo é réu em um processo de corrupção envolvendo políticos e empresários. O advogado dele, Newley Amarilla, falou sobre a investigação dos incêndios no Pantanal: “O senhor Ivanildo, meu cliente, não ateou fogo, nem mandou atear fogo em lugar nenhum”. O advogado não sabe dizer como o fogo começou: “Queimou cerca de 500 a 700 hectares. Não é possível até agora medir, embora o fogo já tenha sido extinto”.
Esta semana, policiais cumpriram mandados de busca e apreensão nas fazendas. O inquérito ainda está em andamento. A pena pode chegar a mais de 15 anos de prisão por danos ao Pantanal.
A frutinha roxa, quando cai no asfalto e se mistura com água, vira uma graxa. Técnicos estão plantando espécies nativas do cerrado entre os pés de jamelão.
Por Jornal Nacional
Goiânia começa a banir um causador de acidentes nas ruas: o jamelão
Uma capital do Centro-Oeste brasileiro começou a substituir mais de dez mil árvores.
Em Goiânia, uma árvore foi banida por tirar o sossego de motoristas e motociclistas, provocando acidentes. O que tem derrubado motos e feito carros derraparem é uma frutinha roxa: o jamelão.
Em Goiânia, há 20 anos, milhares de pés foram plantados. Fazem sombra. São bonitos. Quando a frutinha cai no canteiro central, não tem nenhum problema porque ela acaba secando. Acontece que muitas vão parar no asfalto. Aí, é acidente na certa.
Os veículos esmagam os jamelões. Quando chove, vira uma graxa.
“Jamelão com água é um perigo enorme para os motociclistas e motoristas”, confirma o agente da prefeitura.
O Adelei de Souza perdeu um irmão assim. Edmundo passava de moto por uma avenida. A pista estava cheinha de jamelão. Ele perdeu o controle, subiu no canteiro, bateu na árvore e morreu.
“É triste a gente pensar isso, acontecer uma tragédia dessa, uma frutinha matar uma pessoa querida da gente”, disse Adelei.
Agora as árvores estão com os dias contados. É uma megaoperação em vários bairros. Em cinco segundos, um jamelão a menos em Goiânia.
Na capital, existem 13 mil árvores da espécie. Os técnicos da Agência de Meio Ambiente estão mapeando casos mais urgentes: ou porque os pés estão doentes ou porque tem muito galho sobre o asfalto.
“Tem que cortar mesmo porque pode ter um risco de queda. É uma árvore com uma certa idade, ela está no fim do ciclo de vida dela mesmo”, explicou a bióloga Vanessa de Castro.
Entre os pés de jamelão estão sendo plantadas espécies nativas do cerrado. Quando as mudas estiverem maior, mesmo os pés de jamelão saudáveis serão cortados.
“É uma substituição gradativa. Tirar 13 mil arvores de uma só vez afeta a qualidade de vida de toda a população da cidade, afeta o clima, fora o impacto sobre fauna, sobre a umidade”, disse a bióloga.
Os jamelões vão ficar agora somente em praças e jardins, bem longe do trânsito.