4 de julho de 2014

RAIOS FÚLGIDOS Hino Nacional ainda confunde parte da população

Antes de cada jogo da seleção brasileira, a professora aposentada Neusa Maria Bonfochi tenta cantar o hino nacional, mas a memória falha logo após a primeira estrofe. Termos eruditos como “raios fúlgidos”, “impávido colosso” e “terra mais garrida”, são difíceis de decorar e causam confusão para muita gente na hora de cantar. 

A professora lembra com carinho da sua infância quando os hinos pátrios eram ensinados aos alunos de sua escola todos os dias antes da primeira aula. “Quando eu estudava, e depois quando passei a lecionar, todos os dias as crianças faziam fila e cantavam o hino, hoje esse é um costume que se perdeu. Eu mesma já esqueço um pouco do hino”, avaliou 

Assim como a maioria da população, a dona de casa Antônia dos Santos, 27, também não consegue cantar corretamente nem mesmo as primeiras estrofes do hino e confessa não ter ideia do que significa termos como “margens plácidas”, logo no primeiro verso. “Tem termo que eu não faço ideia do significado, mas gosto muito de cantar o hino do meu país”, explicou. 

Torcer para Brasil é a maior diversão do aposentado José Gonçalo, conhecido como Sargento Brasileiro. Dentro de uma Caravan 78, pintada com as cores da bandeira do Brasil e com uma roupa verde e amarela extravagante, ele chama atenção diariamente nas ruas de Cuiabá por onde passa. 

A ideia de pintar seu carro surgiu justamente pelo seu amor à pátria. Tudo começou no ano 2000, quando ele comprou uma Caravan (originalmente na cor bege) e deu início à sua história de amor com o 'escudeiro', como é conhecido o carro. Desde então já até perdeu as contas de quantos adereços verde e amarelo ele já comprou. Na hora ele cantar o hino nacional, o patriota prova que conhece bem a letra e afirma que para ele os pequenos errinhos não importam, já que “o importante é o sentimento com que se canta”. 

O professor de português Henrique Castelo Branco explica que a linguagem rebuscada e as frases na ordem indireta dificultam a compreensão do hino. Além de possuir palavras pouco usuais, sua letra é rica em metáforas. O texto segue o estilo parnasiano, que prioriza a forma mesmo com sacrifício da clareza da mensagem. “Muita gente erra o hino, e quando acerta, mal sabe o significado”. 

Segundo ele, o primeiro verso do hino na ordem direta ficaria assim: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico”. “Lembrando que plácidas significa tranquilo”, explicou Castelo Branco. O professor chama atenção ainda para a palavra ‘garrida’, que significa alegre ou elegante. “Na ordem direta, este verso poderia ser lido como: ‘Teus campos risonhos e límpidos têm mais flores do que a terra mais garrida”. 

Apesar da linguagem pouco comum, o professor acredita que o Brasil é retratado no Hino Nacional de forma verdadeira. “Somos sim esse país gigante e fomos privilegiados por Deus com nossa natureza. O patriotismo precisa estar dentro de nós, não apenas em época de copa”.

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