Produção de mudas
clonais de cafeeiro
Avanços na padronização dos cortes e
dimensões de estacas
A utilização de mudas de melhor qualidade, elevado
vigor e de procedência idônea é um dos principais
fatores para o sucesso da implantação de uma lavoura produtiva e sustentável de café. O cultivo do cafeeiro
conilon (Coffea canephora) é a principal atividade agrícola
do Estado, o que reforça a necessidade constante de aprimoramento das técnicas que proporcionam a produção de
mudas de qualidade superior.
A propagação vegetativa do cafeeiro conilon pelo método de clonagem por estaquia é a técnica de maior relevância
para a produção de mudas dessa espécie no Brasil, onde pelo
menos 90% do total anual das mudas são obtidas por esse
método. Esse fato é devido ao emprego predominante de cultivares clonais melhoradas, que são compostas por diversos
genótipos que precisam ser propagados assexuadamente.
As mudas originadas desse processo são capazes de
manter características importantes das plantas matrizes,
como desenvolvimento mais rápido e uniforme da lavoura,
com precocidade produtiva, maiores níveis de produtividade, maior uniformidade de maturação dos frutos, possibilidade de escalonamento na colheita, maior peneira e melhor
qualidade dos grãos, entre outras.
Dessa forma, para que
se obtenha êxito na produção das mudas clonais de cafeeiro conilon, é necessária a atenção para diversas etapas
do processo, com destaque para a preparação das estacas
clonais, pois são elas que darão origem às novas plantas.
Etapas do processo
Para a obtenção de estacas de boa qualidade, é importante a manutenção de jardins clonais ou lavouras conduzidas adequadamente em relação à nutrição, ao manejo hídrico, ao manejo fitossanitário e à entrada de luminosidade nas
plantas, de modo que as brotações se mantenham vigorosas
e saudáveis (livres do ataque de pragas ou doenças e não
estejam estioladas).
Geralmente, realiza-se a coleta das brotações quando
elas apresentam crescimento suficiente para extração de
três a seis estacas aptas/brotos.
A retirada das brotações
das plantas deve ser feita, preferencialmente, em horários
mais frescos do dia no sentido de manter a turgescência
dos tecidos vegetais.
E devem ser conduzidas imediatamente para as proximidades do viveiro, em locais sombreados e com disponibilidade hídrica para regar, mantendo as
brotações hidratadas até a sua preparação individual.
Os processos de coleta das brotações e de preparação
das estacas devem ser feitos para cada material genético
(genótipo), de forma que não haja mistura de clones no viveiro que possa, consequentemente, alterar o planejamento da implantação das lavouras.
Durante o manuseio das brotações, é importante que
sejam utilizados utensílios que estejam desinfectados com
cloro ou algum produto químico específico.
As ferramentas
devem estar afiadas e compatíveis com o preparo das estacas a ser realizado.
Inicialmente devem ser eliminadas as
estacas das extremidades das brotações, tendo em vista
a maior lignificação daquelas da base, e composição ainda
demasiadamente tenra daquelas próximas ao ápice.
Devem
também ser eliminadas as estacas que não apresentem
as duas folhas e um par de ramos plagiotrópicos (ramos
produtivos ou laterais).
Da parte útil da brotação, recomenda-se que as estacas sejam separadas em lotes de acordo
com a posição no broto para que as mudas cresçam mais
uniformemente nos canteiros.
Após os cortes, as estacas devem passar por tratamento fitossanitário, de acordo com as recomendações técnicas do profissional responsável pelo viveiro, e devem ser
transportadas para os canteiros, onde serão acomodadas
nos recipientes preparados para o crescimento das mudas.
Essa etapa deve ser realizada no menor prazo possível.
Padronização dos cortes
e dimensões de estacas
Tendo em vista a hipótese de que a qualidade e o crescimento das mudas clonais de cafeeiro conilon poderiam ser
favorecidos pela alteração das dimensões das estacas utilizadas na propagação, foram conduzidos cinco experimentos
sobre as dimensões e tipos de cortes nas estacas para
a produção de mudas clonais na Fazenda Experimental de
Marilândia (FEM), uma das bases de pesquisa do Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
(Incaper), localizada no Município de Marilândia-ES (noroeste do Estado do Espírito Santo).
Os experimentos foram realizados em viveiro para produção de mudas de café conilon
com telado preto para promoção de 50% de sombra. Foram avaliadas características relacionadas ao crescimento
vegetativo, ao desempenho fotossintético, à produção de
biomassa e ao índice de qualidade das mudas de cafeeiro
conilon.
Foram estudados seis tratamentos relacionados a diferentes tipos de corte para o ápice e para a base das
estacas, empregando-se cortes retos ou em bisel, comparando-os com a testemunha.
Testou-se o comprimento do
ápice das estacas, que variou entre 0,5 cm e 2,5 cm acima
da inserção dos ramos plagiotrópicos; o comprimento da
base das estacas, variando entre 2,0 cm e 6,0 cm abaixo
da inserção do par de folhas; o comprimento dos ramos
plagiotrópicos remanescentes variando entre 0,5 cm e
2,5 cm; e a proporção de corte das folhas variando entre
30% e 90% com base no comprimento da nervura central
do limbo foliar (Figura 1)
RESULTADOS DA PESQUISA
Tipo de corte basal: O emprego de corte reto na base
da estaca promoveu maior produção de biomassa total e
desenvolvimento foliar, melhor qualidade da muda e distribuição mais uniforme na emissão de raízes principais na
área do corte.
Tipo de corte apical: O corte em bisel no ápice da estaca favoreceu o crescimento das mudas, com destaque
para a maior produção de biomassa total, além de facilitar
o escoamento de água nessa região da estaca clonal.
Comprimento apical: A mudança do comprimento do
ápice das estacas causou alteração no crescimento final
das mudas. Observou-se que comprimentos apicais entre
1,5 cm e 1,6 cm contribuíram para uma maior produção de
biomassa e área foliar.
Comprimento basal: A variação do comprimento da base
das estacas modificou o crescimento das mudas. Comprimentos basais entre 5,0 cm e 6,0 cm promoveram melhor
desenvolvimento foliar, produção de biomassa e qualidade
das mudas.
Comprimento dos ramos plagiotrópicos remanescentes: Comprimentos entre 1,5 cm e 2,0 cm favorecem a
expansão foliar, o acúmulo de biomassa e os índices de
qualidade.
Proporção de corte das folhas: A alteração da proporção de corte das folhas influenciou o crescimento, enfolhamento e trocas gasosas das mudas.
No geral, proporções entre 40% e 60% aumentaram o crescimento da
parte aérea das mudas, o seu desenvolvimento radicular
e foliar, a produção de biomassa, a fotossíntese e a qualidade das mudas.
RECOMENDAÇÃO ATUALIZADA
Os resultados das pesquisas desenvolvidas demonstram que as recomendações para produção de mudas clonais de cafeeiro conilon podem ser aprimoradas de acordo
com a Figura 2.
Dessa forma, recomendam-se:
• Corte reto na base da estaca;
• Corte em bisel no ápice da estaca;
• Comprimento basal entre 5,0 cm e 6,0 cm;
• Comprimento apical entre 1,5 cm e 1,6 cm;
• Comprimento dos ramos plagiotrópicos remanescentes entre 1,5 cm e 2,0 cm;
• Proporção de corte das folhas entre 40% e 60% do
comprimento da nervura central.
FONTE: https://biblioteca.incaper.es.gov.br/digital/bitstream/item/4105/1/DOC286-mudasclonaiscafeeiro-Incaper.pdf