1 de agosto de 2018

Turismo de Base Comunitária: a experiencia da Bahia / Entrevista Alberto Viana.


Turismo de Base Comunitária: a experiência da Bahia | Entrevista com Alberto Viana


Por Leonardo Pinho 

UNISOL BRASIL 

Atividade em quilombo da Rota da Liberdade, na Bahia.


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Aqui em Valinhos, o Instituto PluriCidade apresentou uma proposta de criação do Pólo de Ecoturismo da Serra dos Cocais, baseado na experiência exitosa do Pólo na cidade de São Paulo. Essa proposta já foi apresentada na Câmara de Vereadores pelo vereador Henrique Conti e esta com o número PL 103/2018.

A criação de uma política pública que fomente o Pólo de Ecoturismo é uma estratégia de valorização das iniciativas existentes e de fomento de novas, criando oportunidades de geração de renda e de empreendedorismo local.

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A oportunidade é agora!! A Prefeitura de Valinhos já lançou o calendário de discussão do Plano Diretor e da Lei de Zoneamento, que inclusive esta super apertado e no meio do processo eleitoral, o que claramente prejudica a participação qualificada da sociedade civil. Por isso, já deixo o convite aqui para o dia 07 de Agosto, às 18h30, na Rua Vicente Rossi, 155 (rua de cima da Câmara de Vereadores – sede da Sociedade São Vicente de Paulo) para a Aula Pública sobre Plano Diretor e Participação Cidadã. Precisamos nos mobilizar para propor idéias e estratégias inovadoras para um novo modelo de desenvolvimento para nossa cidade.

Estive recentemente na Bahia conhecendo diversas iniciativas de agricultura familiar e produção orgânica desenvolvidas pelo Projeto Redes – Unisol Brasil em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária/Ministério do Trabalho. Fiquei impressionado com as diversas iniciativas que o Governo do Estado está realizando em parcerias com organismos e organizações internacionais, na valorização da produção da agricultura familiar.

Nessa oportunidade, pude entrevistar o Alberto Viana de Campos Filho, que é pesquisador da temática do turismo comunitário, geógrafo, turismólogo, mestre em educação do campo e tem formação em turismo rural comunitário pela Universidade de Buenos Aires e em Turismo Sustentável pela ONU/OIT Campus de Turim. É associado do Movimento Internacional SlowFood onde é responsável pela coordenação do Projeto SlowFoodTravel Brasil. Editor do blog www.turismoporummundomelhor.blogdpot.com.bre o perfil no face: Mundo Melhor Turismo & Humanidades. Integra o movimento da economia solidária na Bahia e foi um dos fundadores do setorial de turismo da UNISOL Brasil.

Confira a entrevista e vejam como o ecoturismo, o agroturismo, o turismo de base comunitária são importantes vetores de desenvolvimento local.

Léo Pinho: Que iniciativas e políticas públicas de incentivo ao turismo de base comunitário (TBC) há na Bahia?

Alberto: Assim como ocorre a nível nacional, o turismo comunitário da Bahia se ressente da falta de políticas públicas efetivas e continuadas. Hoje há 2 projetos em andamento  de iniciativa do ICMBIO (um como comunidades do entorno no Parque Nacional da Chapada Diamantina nos municípios de Itaetê e Andaraí e outro em uma comunidade do entorno da Resex Marinha do Iguape no município de Maragojipe). No âmbito das universidades há 3 iniciativas: um programa na Universidade do Estado que incentiva o TBC em alguns bairros do seu entorno em Salvador, uma articulação da UFSB, no extremo sul do estado, com comunidades indígenas e na UFBA o trabalho da Incubadora Tecnológica ITES, que fomenta o ViVerTur na Ilha de Itaparica, na comunidade de Matarandiba.

No mais, há um grande esforço de ONGs, pesquisadores e técnicos voluntários, que com recursos próprios e eventuais doações fazem trabalhos de capacitação, assessoria técnica, divulgação e apoio na participação em eventos, formação de rede e nos processos de incidência para construção de um marco legal, como temos apoiado com outros profissionais junto à Assembléia Legislativa do Estado da Bahia. Depois de mostrar ao mundo que sabe fazer TBC de qualidade no Fórum Social Mundial 2018, a Bahia quer ser o segundo estado do país a ter uma lei estadual depois do Rio de Janeiro, que o fez em fevereiro desse ano. Já a nível nacional, a grande luta é obter o reconhecimento do Ministério do Turismo de que o turismo comunitário merece atenção como outros governos latinos já o fazem.

Foto feita por Alberto

Léo: O TBC está sendo indutor do desenvolvimento local nas comunidades ?

Alberto: Eu diria que sim. Principalmente nos casos em que o turismo comunitário é realizado sob os princípios da economia solidária. Nesses casos há uma autogestão das comunidades, que promovem uma integração entre os demais setores de produção com o turismo e todos ganham. Considero o caso do Núcleo de Turismo Étnico Afro Rota da Liberdade de Cachoeira Bahia bem emblemático, pois com as visitações, hospedagens e roteiros, ganha o guia local ou condutor de visitantes, ganha quem elabora e serve a alimentação, ganha o produtor de ostra, de mel, de pescado, de artesanato, de azeite de dendê e a educação e a cidadania avançam com ganhos não econômicos pelo enraizamento e estímulo ao pertencimento que o TBC provoca ao valorizar suas origens. E o visitante pode ainda trocar o real pela moeda social local e usar em mercados, bares e restaurantes do território quilombola e incentivar mais ainda a economia local e, consequentemente, o desenvolvimento. O mesmo ocorre no Assentamento Baixão na Chapada Diamantina, em Itaetê, onde a cada grupo que se hospeda nas residências ou na pousada comunitária há um incremento nas compras nos pequenos mercados, na padaria da comunidade e nas hortaliças e frutas orgânicas dos lotes produtivos.

Léo: Além das políticas públicas quais são as parcerias que estão desenvolvendo?

Alberto: Há iniciativas de busca de apoio e reconhecimento com ONGs da Europa para financiar projetos de fomento ao TBC e da América Latina, onde já houveram visitas preliminares que aprovaram o potencial de comunidades de Salvador, do Recôncavo e da Baia de Todos os Santos, que ficaram de retornar até o fim do ano para discutirem projetos para iniciar em 2019. As outras parcerias são com agências de viagens e operadores locais para a formatação de pacotes que incluam as comunidades e seus empreendimentos econômicos solidários nos roteiros de quem vem fazer um turismo convencional na Bahia, mas que podem visitar uma comunidade e até apoiar um projeto social através do turismo de voluntariado. Outra iniciativa é de dar visibilidade ao turismo comunitário, que já acontece em comunidades rurais como assentamentos, comunidades quilombolas, indígenas e da pesca artesanal e dos bairros populares de Salvador através das redes sociais e do blog www.turismoporummundomelhor.blogspot.com.br, que conta hoje com mais de 150 mil acessos de mais de 20 países do mundo. Outro destaque é a parceria que as comunidades fazem entre si, com visitas mútuas, trocas de experiências e de muita solidariedade. Um grande exemplo para nós que militamos na economia solidária.

Leonardo Pinho é Presidente da Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC), da Central de Cooperativas UNISOL Brasil e membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos.

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