23 de junho de 2014

Músico e produtor musical de Cuiabá inova e cria a 'guitarra de cocho'

Responsável pela criação é Caio Espíndola Schlösser, de 27 anos.

Chamada de 'Original', guitarra de cocho deve ser usada em álbum.

Carolina HollandDo G1 MT

Guitarra de cocho: a 'evolução' da viola de cocho (Foto: Carolina Holland/G1)

A viola de cocho, um dos símbolos da cultura mato-grossense, ganhou uma nova versão emCuiabá. As cinco cordas - na maioria das vezes, quatro de tripa animal e uma de aço - deram lugar a quatro, sendo todas de aço. O instrumento, cujo som embala as rodas de cururu e siriri no estado, agora pode soar rock'n'roll. A viola saiu de cena. E deu lugar à guitarra. Mas não qualquer uma. A guitarra de cocho.

O autor da novidade é o músico e produtor musical cuiabano Caio Espíndola Schlösser, de 27 anos. Chamada por ele de 'Original', a primeira guitarra de cocho de que se tem notícia foi feita por uma questão de necessidade. Guitarrista e vocalista da dupla Billy Brown e o Incrível Magro de Bigodes ('Eu sou o Billy', ressalta), ele queria que o primeiro álbum deles tivesse forte elemento regional.

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“Eu queria trazer Cuiabá pra dentro da banda. Não sabíamos ainda qual instrumento, mas tinha que ser algo daqui. A viola de cocho é percussiva, não é harmônica e nem melódica. E o que eu precisava, mais do que tudo, era de uma harmonia numa melodia. Eu nem tinha pensado nesse som dela. E aí veio a grande ideia: 'Cara, e se eu colocar um captador nela?'”, conta.

Porém, algumas pessoas alertaram para os riscos da ideia, como o fato de a madeira ser muito macia e, por isso, correr o risco de ressonar demais. “Mas, era exatamente isso que eu estava procurando. Eu precisava dessa ressonância”, disse Espíndola. Então, há duas semanas ele foi até uma loja de artesanato e comprou uma viola de cocho. Entretanto, o produtor musical ainda tinha certas restrições ao instrumento.

"Nunca tinha tocado em uma viola de cocho. Eu nem gostava do som, para você ter uma ideia. É um instrumento que parou na evolução, é tribal. É mais percussivo", confessa. Ainda assim, arriscou, usando a própria experiência adquirida na regulagem de instrumentos. Instalou o cordal de um cavaquinho. Depois, colocou cordas de nylon, mas o som não ficou legal.

Na segunda tentativa, escolheu quatro cordas de guitarra que achava que dariam um bom equilíbrio. Deu certo. "Fiquei chocado. Ela responde diferente. Tem muita coisa que é particular e peculiar dela. Achei muito legal. É um campo totalmente novo", conta. Esse foi o primeiro instrumento criado pelo músico, que é autodidata, cresceu em família evangélica e começou a se interessar por música aos 8 anos de idade.


Receptividade

As adaptções na viola de cocho poderiam ser vistas quase como uma heresia por parte da população mais tradicional e Espíndola sabia disso. A prova de fogo à qual ele e a 'Original' se submeteram foi na abertura do Festival de Siriri e Cururu, na última semana, em Cuiabá.

"Eu estava muito nervoso. Porque eu sabia que os caras que estariam lá são referência. Se eles me xingassem, todo mundo ia me xingar", admite o músico. A reação, entretanto, foi positiva. "Os caras gostaram muito! Adoraram! E estou falando dos ribeirinhos mesmo, com chapéu de palha e viola de cocho grandona. Esses caras é que eram importantes pra mim", diz.

Próximos passos

A criação deu tão certo ('Um monte de gente está me ligando dizendo que quer uma') que o músico pretende patentear a guitarra de cocho. "Eu quero e vou fazer isso. Me disseram que, o fato de eu ter apresentado num evento, então já foi documentado. De qualquer forma, já comecei a correr atrás disso", disso.

Enquanto a patente não vem, o músico trabalha na produção do primeiro álbum da dupla e de mais três guitarras de cocho, que farão referência a três guitarras clássicas. "Uma vai ser a Les Paul de cocho [Les Paul], a outra vai ser a Stratococho [Stratocaster] e a outra será a Telecocho [Telecaster]".

Viola de cocho: um dos símbolos da cultura mato-grossense (Foto: Marcos Bergamasco/Secom-MT)

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