19 de março de 2014

Pau-rodado ou Chapa e Cruz!




Sandra Alves

Pau-rodado que sou, não consegui picar a mula! Pranchei de banda do arroz com pequi, mas depois de comer cabeça de pacu, larguei de mão de tentar ir embora. Talvez eu seja um pouco bocó de fivela! Certo, sossega o pito que vou para de rodear o toco!

É fácil amar o lugar onde você nasceu. Afinal de contas, já respirou a primeira vez ali mesmo, tomou aquela primeira palmadinha da parteira – hoje do médico, claro! – seu pai, seu avô, sua avó, seus tios, padrinhos, todo mundo ali. E nem se justificaria dizer que tô com saudade do mamãe! Espia lá! Nasci num lugar em que, simplesmente, nasci. Não tenho a menor ideia de como é a família lá, não me lembro das pessoas. São apenas duas as recordações: a terra era marrom; e tinha um primo que não servia muito aos anjos celestiais que jogava pó de milho nos meus olhos enquanto eu brincava.

Sempre quis ser uma pessoa do mundo, pretendia ficar de déu-em-déu; e não atarracar em ninguém! Até andei um pouco por estas estradas, até que a vida me fez bobó cheira-cheira! Dia desses mudei para Cuiabá! E aqui chegando, enquanto alguém já sabia de um apartamento para alugar; outro conhecia quem fazia a mudança; o terceiro tinha um conhecido que montava os armários; outro indicava a diarista; outro levava bolo-de-arroz; no sábado já tinha peixada no almoço e uma “gelada” à noite; no domingo Maria Isabel, farofa de banana e paçoca... Bom demás!

E o mais interessante é que todos esses eram de Cuiabá! Nem todos nascidos aqui, muitos pau-rodado, mas pau-rodado se entrega tanto a Cuiabá, que passa a ser Cuiabano! Aqui conheci uma senhora, sorridente, alto astral e conhecida de todos, virou minha mamãe, que não nasceu em Cuiabá, mas era Cuiabaníssima! E pouco a pouco muitas outras pessoas me deixaram coloiada nelas.

Tchá por Deus, correria do dia a dia, viagem de trabalho, outra cidade, sotaque e o taxista perguntou: “De onde você é?” - “Cuiabá!” – Respondi de pronto. Como não....! Só posso ser de Cuiabá! Trabalho, conquisto, ensino, aprendo, sofro, sorrio, choro... enfim, vivo e pertenço a Cuiabá! Ser Cuiabano não é só nascer em Cuiabá! Ser Cuiabano é um jeito de ser; é a receita do peixe; é dançar siriri e cururu; é a festa do Divino; é a viola de cocho; é o café da manhã com a Cuiabania; é a corrida de Reis; é o chá com bolo; é a alegria; “é o sol mais quente que há”!

Cuiabá é hoje cidade grande! Mas tem “povo hospitaleiro como não se viu jamais”, que acolhe todos que quiserem se achegar! Não oferece só oportunidade, oferece uma família, amigos, o sentimento de que você sempre foi daqui! E lá se vão muitos anos de Cuiabá! Já a maior parte de minha vida! Bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais! De tudo apenas uma certeza: o local de nascimento pode até me fazer pau-rodado, mas o coração me torna cuiabana de chapa e cruz!

Sandra Cristina Alves é tabeliã e registradora de imóveis, ex-analista do TJ/MT e escreve exclusivamente para este Blog toda segunda-feira. (sandrac.alves@terra.com.br)

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