11 de dezembro de 2013

Dignidade, teu nome é Mandela


Conexão Internacional é uma seção do portal mt.gov.br para além das fronteiras do Brasil. Nesta primeira edição nosso personagem não poderia ser outro: Nelson Mandela, definido em atigo de Wadh Damous e Cid Benjamin como um ícone da Humanidade.
WADIH DAMOUS* E CID BENJAMIN** 
Rio de Janeiro


Aos 95 anos, morreu nesta quinta-feira a maior personalidade de nossa época: Nelson Mandela.


Enganam-se aqueles que o vêem apenas como ícone da luta do povo negro. Ele é muito mais do que isso: é um ícone da Humanidade. Preso durante 27 anos, boa parte dos quais em trabalhos forçados, quebrando pedras – o que lhe trouxe problemas nos pulmões e nos olhos -, barbaramente torturado e mantido em isolamento em prisões de segurança máxima por mais de 20 anos pelo odioso regime racista do apartheid, então vigente na África do Sul, Mandela não só não se deixou abater e destruir. Mas fez mais do que isso: manteve uma dignidade impar e uma lucidez que o fizeram a maior figura política do século 20.



Acusado de terrorista pelo regime do apartheid, por ter dirigido o setor armado do então proscrito Congresso Nacional Africano (CNA) e condenado à prisão perpétua, Mandela tornou-se um símbolo na luta pelos direitos humanos em todo o mundo.

Quando, em 1982, o regime racista começou a fazer água e precisou organizar algum diálogo com a comunidade negra, ofereceu a liberdade a Mandela. Mas queria uma concessão: a condenação pública da resistência pela luta armada. Como a luta armada já tinha sido abandonada pelo CNA e substituída pela luta de massas contra o apartheid, os racistas consideravam que Mandela, já preso há 20 anos, aceitaria a condição. Eles não sabiam com quem estavam tratando. Mandela afirmou que quem deveria abdicar da violência e se desculpar por ela eram os opressores e não os oprimidos. E se recusou a qualquer negociação com o governo racista enquanto estivesse preso: “Somente homens livres podem negociar”, afirmou. 


Em 11 de fevereiro de 1990, poucos dias depois de o CNA ter sido legalizado, o regime racista foi obrigado a libertar Mandela incondicionalmente. Ele já estava sendo obrigado a organizar a sua distensão e sem a presença de Mandela não haveria interlocução com os negros, que constituem 80% da população sul-africana. 
Pouco depois houve a primeira eleição livre na história da África do Sul e Mandela foi eleito presidente por maioria absoluta. 
O país era um barril de pólvora, à beira de uma guerra civil fratricida. 


Mais uma vez, então, Mandela mostrou-se não só um homem digno, mas um estadista à altura dos maiores da história da Humanidade. 
Embora tivesse todas as justificativas para ter se tornado uma pessoa ressentida, promoveu a reconciliação nacional e a reconstrução do país. Para isso, fez aprovar, em parceria com o bispo Desmond Tutu, outra figura maiúscula – uma anistia política que beneficiava inclusive torturadores e assassinos da polícia política do regime do apartheid. Mas essa anistia tinha uma condição: esses criminosos teriam que comparecer aos tribunais e confessar o que fizeram. Qualquer omissão poderia levar a processos, condenação e prisão.

Foi uma enorme catarse na África do Sul. A população sabia das iniqüidades cometidas nos porões do regime, mas não tinha idéia de sua dimensão. 
Mas, com isso, aconteceu o que desejava Mandela: foram criados anticorpos para que tais crimes tão cedo não se repitam no país. 
A reconciliação foi feita, mas sem jogar a sujeira para baixo do tapete.

A grandeza, a generosidade e a lucidez política de Mandela evitaram que muito sangue fosse derramado na África do Sul e salvaram milhões de vidas humanas. 
Por isso, não é só o povo negro que tem uma enorme dívida com Mandela. 

Essa é uma dívida da Humanidade. 

Viva Mandela – a maior figura da nossa época! 




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