4 de junho de 2020

Quilombolas denunciam desmatamento ilegal em sítio histórico na Chapada

Já foram quase 1 mil hectares, sendo que 500 foram desmatados nos últimos 15 dias, segundo apuração da Secretaria de Meio Ambiente de Goiás


(foto: Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema))Autoridades estão apurando um desmatamento ilegal de mais mil hectares no Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, na região da Chapada dos Veadeiros, em Cavalcante (GO). A situação foi denunciada pela comunidade quilombola kalunga da região.

A Secretaria de Meio Ambiente de Goiás (Semad) apurou que já foram desmatados ilegalmente quase 1 mil hectares desde dezembro do ano passado, sendo que mais de 500 hectares foram degradados nos últimos 15 dias em duas fazendas do local, próximo ao complexo de cachoeiras do Rio Prata.

“Eles foram abrindo devagar os primeiros 500 hectares e os últimos 500 fizeram praticamente de uma vez só”, explicou a secretária Andrea Vulcanis, que está indo ao local, mas já tem uma equipe na região. Também está lá apurando a situação a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente de Goiás (Dema).


Não há licença Apesar de estar dentro do sítio histórico, as duas fazendas são de propriedade privada, não tendo sido ainda desapropriadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No entanto, não possuem licença expedida, conforme informou a Semad, para realizar o desmatamento.
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Qualquer ação no território calunga precisa de autorização da comunidade, o que não aconteceu. Vulcanis explicou ainda que mesmo se o pedido de licença tivesse sido feito à Semad, ele teria sido negado. “E no tamanho que está sendo proposto, seria preciso de um Eia/Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental) e uma série de ações. Não pode acontecer dessa forma não”, disse. De acordo com ela, o desmatamento é grande e a situação é séria. 

A ação foi descoberta por calungas nesta semana, e denunciada por eles na última terça-feira (2/6). As fazendas ficam em região distante que, sem o turismo, realizado pelas comunidades calungas, não tem muito fluxo de pessoas.

A área específica fica dentro da comunidade do Prata. O presidente da Associação Quilombola Kalunga (AQK), Jorge Moreira de Oliveira, afirma que a situação aconteceu “escondida”. “Quando a gente veio saber, já estava grave”, disse. 

As fazendas ficam dentro do quilombo calunga do Prata, na região do Rio com o mesmo nome e do qual a comunidade depende. “Sem contar que ali tem lindas cachoeiras que é de onde muitos calungas tiram renda com o turismo. Está fechado agora por causa da pandemia”, explicou. De acordo com ele, foi apurado até o momento que o desmatamento seria para plantio de soja. “Está dentro do nosso território, que a gente preserva há mais de 300 anos”, disse.

Os Kalunga são maior comunidade de remanescentes de quilombolas do Brasil - descendentes de escravos que fugiram e formaram comunidades. No Estado de Goiás, ficam nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre.

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