1 de dezembro de 2017

CLUBE FEMININO É REDESCOBERTO COMO O PRIMEIRO PRÉDIO MODERNISTA DE CUIABÁ

MEMORIA DA CIDADE
Clube Feminino é redescoberto como primeiro prédio modernista de Cuiabá
O edifício foi palco de uma primavera "proto-feminista" na cidade e se tornou um dos principais espaços culturais e de lazer de Cuiabá
Lázaro Borges
, da Redação
Maria Bárbara Thame Guimarães, de 23 anos, faz parte de uma geração bem diferente daquela dos anos 1920, quando o Clube Esportivo Feminino foi fundado em Cuiabá. Se o “feminismo” daquela época ainda pregava pela completude da mulher ao homem, o feminismo da estudante de Aquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) é independente e quase sempre ativista.
Foi em parte este ativismo que fez a jovem escolher o Clube Feminino para o seu Trabalho Final de Graduação (TFG). No trabalho, que ainda não foi concluído, ela propõe transformar um prédio do antigo clube em um centro de atendimento às vítimas de violência doméstica.

Ednilson Aguiar/Olivre
Maria Bárbara Thame Guimarães está no último semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMT
Mas ao fazer a pesquisa histórica sobre o tema, Maria Bárbara acabou descobrindo mais do que esperava. Ela constatou que o prédio da primeira sede do Clube Feminino, inaugurado em 1940, foi o percursor do estilo modernista em Cuiabá.
“Eu queria fazer uma reabilitação em algum edifício já existente, mas eu não queria um prédio colonial. Porque eu acho que o patrimônio que deve ser preservado não é só o colonial. Eu e meu orientador, Ricardo Castor, pensamos no Clube Feminino”, explicou ela.
A estudante e o orientador pensavam na carga simbólica de transformar um antigo grêmio de mulheres da alta sociedade em um espaço planejado para abrigar mulheres vítimas do machismo, quase sempre de classes mais baixas.
Incógnita
Construído com uma tecnologia convencional, usando tijolos de barro e, ao menos aparentemente, sem o concreto – que é essencial para construções modernistas como a de Oscar Niemayer – a obra do Clube foi possivelmente a percursora do estilo no estado, ao dar sinais de que uma nova cidade e uma nova sociedade surgiria dali.
“Quando eu fui lá pela primeira vez, tirei fotos, eu disse ‘isso é moderno’. Mas é um moderno muito inicial, só que ele tem traços fortes de moderno. E isso é muito louco porque ele é de 1940 e o modernismo só foi chegar aqui em Cuiabá e em Mato Grosso entre as décadas de 50 e 60”, comentou.
A grande “incógnita” sobre o prédio, segundo Maria Bárbara, é de quem seria o responsável pelo projeto e porque ele foi feito naquele estilo. A construtora responsável, a Coimbra Bueno, veio do Rio de Janeiro para atender uma demanda do governador Julio Muller, que construiu também o Cine Teatro e o Grande Hotel.
Egéria cuiabana
Fachada do antigo prédio do Clube Feminino em 1978: com traços modernistas, o edifício foi feito com uma tecnologia ainda colonial
“As outras obras do governo Júlio Muller têm outras linguagens. Elas são Art Déco, elas são neocoloniais. Elas não são modernas. Então isso é uma incógnita para mim até porque infelizmente a gente não encontrou nenhum registro de autor do projeto”, explicou.
Em seu trabalho, a estudante aponta que o edifício apresenta uma série de traços daquilo que se convencionou chamar na época de estilo internacional, como janelas em fita, telhado plano, planta livre e honestidade estrutural.
Tais características de um modernismo ainda iniciante só voltariam a aparecer mais de dez anos depois. O marco inicial do modernismo na cidade, segundo estudos anteriores, seria o Palácio Alencastro, sede da prefeitura municipal construída entre 1959 e 1965.
Utilização do espaço
O Clube Feminino não é mais o mesmo. Hoje o espaço amplo, que já foi palco de grandes bailes e festas de carnavais, abriga a Secretaria Municipal de a Cultura, Esporte e Turismo. O edifício foi desapropriado em 1977 pela prefeitura, com a ideia de transformá-lo em um Teatro Municipal, mas o projeto nunca saiu do papel. Apesar do uso pela Secretaria, grande parte do prédio continua sem utilização.
O aproveitamento do espaço, portanto, serviu de mote ao trabalho da estudante. O prédio ficou de 1970 a 1977 sem uso. Mais tarde, quando desapropriado, ele permaneceu alguns anos sem uso, até ser finalmente ocupado pela Secretaria, no final dos anos 80.
“Eu não vejo problema de ser ocupado por um órgão público, o problema é que a conservação dele é muito arbitrária. Não é consultado um arquiteto, alguém qualificado em conservação patrimonial”, finalizou ela.
FONTE: http://olivre.com.br/geral/clube-feminino-e-redescoberto-como-o-primeiro-predio-modernista-de-cuiaba/10902

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