26 de março de 2017

Etnoturismo Indígena em Mato Grosso - Na aldeia, ‘Wazare Haliti.’


O estado do Mato Grosso investe no turismo indígena - Márcia Foletto / Agência O Globo

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Com música e dança, os turistas são recebidos na aldeia Wazare, primeira parada do roteiro indígena montado em Mato Grosso, um ano depois de a Funai ter fixado as normas para as visitas turísticas. Dangore dare dore é o primeiro verso da música que os parecis cantam para os visitantes, que falam da unificação de todos os elementos da natureza e pedem bênção aos bons espíritos para os turistas.

Para desbravar o Oeste brasileiro por Mato Grosso e conhecer mais de perto a cultura de parte dos mais de 800 mil indígenas brasileiros, a viagem é longa. Campo Novo do Parecis, porta de entrada do turismo indígena, fica a quase 400km de Cuiabá, vencendo estradas de razoáveis a ruins. E as aldeias ficam a 60km e 70km da cidade, em estrada de terra. Não se deve esquecer que este é o terceiro maior estado do país, atrás apenas de Amazonas e Pará. O logo aí para o mato-grossense pode significar três horas de estrada. Depois de horas em ônibus ou carro, deparar-se com uma clareira, rodeadas de hátis (as casas dos parecis-halitis), recebidos por indígenas em trajes de festa, cantando e dançando, impressiona.

O cacique Roni Pareci é o líder da aldeia e pioneiro em integrar as duas culturas. Montou há cinco anos a aldeia com cerca de 30 moradores, perto do Rio Verde, onde pescava com o pai. Decidiu criar sua própria aldeia ao não conseguir convencer os avós, pais e tios a receberem turistas. Procurou a Prefeitura, e teve apoio para estabelecer o roteiro. Aos 39 anos e formado em Educação, senta-se ao lado dos convidados e conta histórias da tribo, responde às perguntas sobre hábitos, crenças e tradições.

— Queremos acabar com o preconceito, mostrar nossa cultura, preservar a identidade e aproveitar os avanços da tecnologia, na saúde. Queremos integração.

Casas sem divisões

Na escola na aldeia Wazare, as crianças aprendem português e o aruaque, a língua nativa. Todos os professores são indígenas. Três gerações compartilham a mesma háti. São amplas casas, sem divisões, onde ficam pais, filhos, netos. As casas têm formato elíptico, com duas portas nas extremidades, uma voltada para o nascente e outra para o poente. São feitas de aroeira e cobertas por folhas de guariroba. Têm todo o conforto, TV, geladeira e carro parado ao lado. Em breve, será possível dormir em uma háti, ajudar nas tarefas domésticas. Mas esse tipo de roteiro ainda está sendo formatado.

A dança é a mesma que os nativos apresentam na festa da menina-moça, um rito de passagem, assim que a menina menstrua. Os homens balançam os cocares para elogiar as meninas. As pinturas representam força e sabedoria. Em zigue-zague, espelham-se na tela do palmiteiro do brejo, muito duro, significa força. O desenho trançado mostra o início da confecção das cestas:


— Se não for feita desde o início com dedicação, não se consegue chegar ao fim da cesta — explica Evandro Zenazokenae, que fica na cidade parte do tempo, e estuda Enfermagem.

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