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6 de novembro de 2025

Comunidades de Baixa Renda e Mudanças Climáticas.


  • 1 bilhão de pessoas, de 6,3 bilhões em 109 países, vivem em pobreza multidimensional.
  • Quase dois terços de todas as pessoas pobres, cerca de 740 milhões ou 64,5% de toda a população pobre, vivem em países de renda média.
  • Dos 1,1 bilhão de pessoas pobres, 887 milhões vivem em regiões subnacionais que enfrentam pelo menos um dos quatro riscos climáticos: calor intenso, seca, inundações e poluição do ar.
  • Dos 887 milhões de pessoas pobres expostas a pelo menos um risco climático, 309 milhões vivem em regiões subnacionais expostas a três ou quatro riscos climáticos.

O relatório do Índice Global de Pobreza Multidimensional (IPM) de 2025, pela primeira vez, sobrepõe dados sobre riscos climáticos e pobreza multidimensional para avaliar o grau de exposição das pessoas pobres a choques ambientais.

Mas quem é mais afetado pela crise climática?

  • Pessoas em situação de pobreza: Oito em cada dez pessoas vivendo na pobreza estão expostas a riscos climáticos.
  • Comunidades vulneráveis: Mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e comunidades indígenas são desproporcionalmente afetados devido ao acesso limitado a recursos e serviços.
  • Pessoas que dependem da natureza: Aqueles que dependem da agricultura, pesca e silvicultura para subsistência são particularmente vulneráveis, pois seus meios de vida são diretamente impactados pela mudança climática.
  • Refugiados e deslocados internos: Milhões de pessoas são forçadas a deixar suas casas devido a desastres relacionados ao clima, tornando-se refugiados climáticos e aumentando sua vulnerabilidade. 

Também se têm:

Comunidades de baixa renda e países em desenvolvimento

  • Mais vulneráveis a desastres climáticos (enchentes, secas, ciclones, etc.).
  • Têm menos recursos para se adaptar (como infraestrutura, seguro, assistência médica).
  • Agricultura de subsistência é comum — mudanças no clima ameaçam diretamente a segurança alimentar.

Crianças e idosos

  • Crianças sofrem mais com doenças causadas por calor extremo, poluição e escassez de alimentos.
  • Idosos têm menor resistência a temperaturas extremas e maior dependência de sistemas de saúde, que podem ser sobrecarregados durante crises.

Povos indígenas e comunidades tradicionais

  • Dependem diretamente da natureza para sua subsistência e cultura.
  • São afetados pela destruição de florestas, alterações nos rios, perda de biodiversidade.
  • Muitas vezes são excluídos das decisões políticas sobre o uso de seus territórios.

Moradores de áreas urbanas precárias (favelas, periferias)

  • Expostos a enchentes, deslizamentos e ondas de calor devido à má infraestrutura e urbanização desordenada.
  • Falta de acesso a serviços básicos como saneamento e saúde agrava impactos.

Trabalhadores rurais e agricultores

  • A crise climática muda padrões de chuva e estações, prejudicando colheitas e rendimentos.
  • Pequenos produtores sofrem mais por não terem acesso a tecnologias de adaptação.

Refugiados climáticos

  • Pessoas forçadas a migrar por causa de secas, aumento do nível do mar, enchentes, desertificação.
  • Em muitos países, não há status legal específico para proteger migrantes climáticos.

Importante ressaltar que essa é a primeira vez que um levantamento cruza dados de risco climático com os índices de pobreza multidimensional. A análise conclui que a pobreza não é um problema socioeconômico isolado, mas interligado a pressões e instabilidades planetárias. E estudo inédito ressalta que promessas climáticas nacionais na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, no Brasil, não podem deixar as pessoas mais pobres do mundo para trás.

Segundo as Nações Unidas: O relatório conclui que, entre aqueles que vivem em pobreza multidimensional aguda, que abrange saúde, educação e padrões de vida, 651 milhões estão sob dois ou mais riscos climáticos, enquanto 309 milhões enfrentam três ou quatro perigos simultaneamente. O estudo indica ainda que os riscos que mais afetam as pessoas pobres são o calor elevado, que impacta 608 milhões, e a poluição do ar, que atinge 577 milhões. As regiões propensas a inundações abrigam 465 milhões de pessoas pobres, enquanto 207 milhões vivem em áreas afetadas pela seca.

De acordo com o documento, cerca de 1,1 bilhão de pessoas, ou 18% dos 6,3 bilhões de habitantes dos 109 países analisados, vivem em condições de pobreza “multidimensional aguda”, sendo metade delas menores de idade. Os dados avaliados incluem mortalidade infantil, acesso à moradia, ao saneamento, à energia elétrica e à educação.

O administrador interino do PNUD – Programa das nações Unidas para o DesenvolvimentoHaoliang Xu, afirmou que quando os líderes mundiais se reunirem no Brasil para a COP30, “as promessas climáticas nacionais devem revitalizar o progresso estagnado do desenvolvimento que ameaça deixar as pessoas mais pobres do mundo para trás”.

Como disse Antônio Guterres – Secretário Geral da ONU: “A pobreza não é um fracasso pessoal, é uma falha sistêmica – uma negação da dignidade e dos direitos humanos”. Pessoas que vivem em situação de pobreza vivenciam muitas privações inter-relacionadas e que se reforçam mutuamente, que as impedem de realizar seus direitos e perpetuam suas carências,

E ainda segundo as Nações Unidas, no Sul da Ásia e a África Subsaariana são as regiões que concentram o maior número de pessoas pobres que vivem em regiões afetadas por riscos climáticos, com 380 milhões e 344 milhões, respectivamente. E no sul da Ásia, a exposição é quase universal, 99,1% das pessoas pobres da região estão expostas a um ou mais choques climáticos. O PNUD destaca que os impactos identificados não se limitam ao presente e devem se intensificar no futuro.

Impactos específicos acarretados pela crise climática

  • Saúde: A crise climática está ligada a problemas de saúde física e mental, incluindo estresse, ansiedade (ecoansiedade) e doenças relacionadas ao calor.
  • Segurança: A crise pode aumentar tensões sociais e econômicas, levando a conflitos, e a violência pode se agravar.
  • Meios de subsistência: O aumento de secas, inundações e outras condições climáticas extremas destrói colheitas e recursos naturais, prejudicando a segurança alimentar e o sustento de milhões de pessoas.
  • Deslocamento: As mudanças climáticas já forçaram milhões de pessoas a se deslocarem de suas casas, criando um número crescente de refugiados climáticos e deslocados internos. 

Vale ressaltar que o aumento do nível do mar em Bangladesh ameaça desalojar milhões de pessoas. Na África Subsaariana, secas prolongadas afetam o pastoreio e a produção agrícola. E no Brasil, eventos como a seca na Amazônia ou enchentes no Sul têm impactos diretos sobre populações vulneráveis.

Desta forma podemos concluir que existe uma grande disparidade entre os que mais contribuem para as emissões de gases de efeito estufa (os 10% mais ricos do mundo) e os que mais sofrem com seus efeitos (a metade mais pobre). Pois a crise climática exacerba as desigualdades sociais, políticas e econômicas preexistentes, pois as populações mais vulneráveis têm menos recursos para se adaptar e responder a esses eventos. 

Eduardo Cairo Chiletto

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