3 de julho de 2014

Expressões do futebol caem na boca do povo

CAROLINE LANHI

Redação/Secom-MT
Evandro Birello
Radialista recorda de jargões como mandou para escanteio e matou no peito
Radialista recorda de jargões como mandou para escanteio e matou no peito
Depois que Charles Miller apresentou o futebol ao Brasil, o esporte caiu na boca do povo – literalmente. Termos específicos do esporte acabaram ganhando novos sentidos. A popularização do rádio deu ainda mais força a esse processo, pois os locutores buscavam prender a atenção do ouvinte com jargões. Desde então, seja ano de Copa do Mundo ou não, o brasileiro transporta jargões do futebol para situações do dia a dia e vice e versa. 

Mandou para escanteio, matou no peito e saiu jogando, levou uma bola nas costas e chegou com o pé no peito são algumas expressões com origem no futebol que há anos fazem parte da vida do radialista e narrador esportivo William Gomes – que até já fez uma lista de 400 jargões esportivos para colaborar com uma pesquisa acadêmica. A relação de palavras não está mais com ele, mas bastam alguns minutos de papo para o narrador incluir os jargões na conversa. 

Na língua, explica a doutora em linguística Alice Saboia, cada vez que surge uma nova situação, acaba se tomando emprestada a linguagem de acontecimentos análogos. Assim, do mesmo modo que jargões futebol ganham novos sentidos em situações corriqueiras, o esporte também busca em outras áreas metáforas para explicar uma jogada. “A linguagem pode ser específica, mas não é exclusiva de determinada área. Ela pode ser reaplicada em situações que se assemelham, mas que não são da mesma natureza”. 

Da guerra, por exemplo, foram emprestados termos como “bomba” e “tiro”, que remetem a um chute forte. Já o famoso “frango” é realmente a tentativa frustrada de agarrar a ave, só que dentro de campo essa ave nada mais é do que a bola. Nessa lista ainda podemos acrescentar termos como “chapéu” e “carrinho”. “A linguagem é sempre reaplicável a novas realidades e isso não é diferente com o futebol”, esclarece a professora, acrescentando que no caso do futebol, que é de origem inglesa, o esporte também teve a linguagem adaptada no Brasil. 

Para o radialista William Gomes, os jargões e bordões esportivos são expressões que mudam ao longo dos anos, pois também são influenciados pela época em que foram

Flávio André/Casa de Guimarães/Secopa
A linguagem é sempre reaplicável a novas realidades e isso não é diferente com o futebol, diz professora
A linguagem é reaplicável a novas realidades e com o futebol não é diferente, diz professora
 criados. Enquanto alguns se tornam eternos outros caem no esquecimento. Quem se lembra da época que a bola era chamada de balão de ouro ou simplesmente couro? Foi na Copa de 1962, explica o radialista. E esse é apenas um dos “apelidos” conferidos ao objeto, que já foi chamado de esfera, gorduchinha e deusa branca, recorda Gomes. “As expressões retratam um momento. À medida que se renova o quadro de profissionais do esporte se renova a linguagem utilizada”. 

Muito tempo se passou, mas os jargões “ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha”, emplacados pelo ex-locutor esportivo Osmar Santos – que fez história em emissoras como Jovem Pan, Record e Globo –, não saíram por completo da vida do gerente comercial Edimir Bispo dos Santos, 56. São os primeiros que veem à mente dele quando o assunto é futebol. Edimir apenas lamenta a falta de novos jargões e frases de impacto tão bons quanto os de antigamente. "Na época do rádio eram criadas muitas expressões. Hoje, com a tecnologia, isso diminuiu muito”, avalia. 


Josi Pettengill/Secom-MT
Nelson Severino escreveu Folclore do Futebol de Mato Grosso
Nelson Severino escreveu Folclore do Futebol de Mato Grosso
Essa mesma análise é feita pelo cronista esportivo Nelson Severino, autor do livro Folclore do futebol de Mato Grosso: casos de todos os tempos. O escritor defende que na época do rádio os locutores esportivos eram mais criativos, afinal era preciso prender a atenção do ouvinte dada às dificuldades tecnológicas da época. Na Copa de 1958, por exemplo, a transmissão era interrompida várias vezes durante o jogo, tudo por questões técnicas. “A voz simplesmente sumia”, recorda Nelson. 

Já em Mato Grosso, entre tantas expressões e histórias que surgiram no período de “ouro” do futebol no estado, Nelson registrou no livro uma que considera especial. Apesar de ter chegado a Cuiabá apenas em 1976, o escritor conta que em 1965, quando o Mixto ganhou o Campeonato Mato-grossense de Futebol sobre Dom Bosco, com um placar de 2x2, o narrador esportivo Márcio Arruda saiu com o bordão que faria história. 

O Dom Bosco ganhava de 2x0 até que o Mixto, após os 40 minutos do segundo tempo, conseguiu marcar dois gols. “Contra o Dom Bosco tudo é possível”, disparou Márcio Arruda ao fim do jogo. “Dombosquino de primeira hora, Márcio de Arruda, cujo desabafo raivoso ficou famoso nos meios esportivos da capital, não se conformava como o seu time havia perdido o campeonato”, registrou o autor.



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