27 de dezembro de 2020

TURISMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL REFLEXÕES PARA 2021


   Foto do @vivertur utilizada no Desafio ASHOKA

    de Turismo Sustentável da Rede BATUC


Não, eles não pararam. O turismo convencional na sua forma mais exacerbada de atividade causadora de impactos negativos (o turismo de massa), ao lado dos seus coirmãos chamados especulação imobiliária, grandes obras, agronegócio, mineração e trabalho precário não pararam de causar e tentar causar estragos durante a pandemia nos territórios de povos e comunidades tradicionais e seus entornos no Brasil. Uma rápida vasculhada na internet permite verificar que em diversos estados empreendimentos de gosto e eficácia duvidosa continuam tentando se instalar nesses locais em nome do “desenvolvimento”, do “progresso”, e de outros "nobres" propósitos, mais que vez em quanto ainda tem a coragem de utilizar a alcunha de “eco”, de “sustentável” e com certeza a da moda, a de  “turismo seguro”.  Para quem, para que e a que custo nós já temos a ideia, é só dar uma olhadinha no engarrafamento de jatinhos da história do extremo sul da Bahia, playground de grã-finos proibidos temporariamente de brincar de gastar no exterior ( https://www.bnews.com.br/noticias/interior/turismo/291454,engarrafamento-de-jatinhos-causa-suspensao-temporaria-de-pousos-no-sul-da-bahia.html )

É, parece que “entrou água” no tal modelo nacional de desenvolvimento de “crescer para dividir” no país que cresce em concentração fundiária, de renda e de ampliação da pobreza e da miséria, e não faz reforma agrária, reforma urbana, e nem regulariza de vez as terras indígenas e os territórios quilombolas.

Seguimos também sem políticas nacionais de turismo sustentável, de turismo responsável, de turismo solidário, de turismo comunitário e de ecogastronomia, enquanto deixam definhar as políticas de economia solidária, de agroecologia e de educação do campo (podendo incluir aí a educação popular, quilombola e indígena) que dariam todo o sustentáculo à essas modalidades de turismo alternativas ao modelo excludente e invasor que o turismo de massa e seus coirmãos nos impõem.

A boa notícia e o convite à reflexão é que em contraste a esse cenário de caos, incluso a pandemia, um conjunto de pessoas, redes, instituições e coletivos outros não deixaram de buscar saídas para promover as diversas forma de turismo no percurso da sustentabilidade (parafraseando Helena Costa https://editora.fgv.br/produto/destinos-do-turismo-percursos-para-a-sustentabilidade-2412).

A ASHOKA Brasil e a CTG Brasil criaram o Desafio de Inovações em Turismo Sustentável Trilhando a Transformação, premiando 3 iniciativas: Rota da Liberdade de São Paulo, Rede BATUC – Turismo Comunitário da Bahia e Turismo CO2 Legal - Guardiões do Clima também da Bahia (https://www.ashoka.org/pt-br/story/vencedoras-do-trilhando-transforma%C3%A7%C3%A3o). Além disso lançaram o Mapeamento de Inovações de Turismo Sustentável.

Também em 2020 a Transforming Tourism Initiative, uma rede global aberta de organizações não governamentais, profissionais de turismo e instituições acadêmicas que lutam por uma transformação do turismo que possa contribuir para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável lançou em setembro a Carta Aberta “ COVID 19 – Ahora es el momento de transformar el turismo ( COVID-19 – Agora é o momento de transformar o turismo) disponível no http://www.albasud.org/noticia/1259/covid-19-ahora-es-el-momento-de-transformar-el-turismo . Bom ressaltar a participação brasileira nesse coletivo internacional com a ong Projeto Bagagem (outrora fazendo o papel de secretaria executiva da Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário-TURISOL) e com o Labor Movens, grupo de pesquisa da Universidade Federal do Tocantins, coordenado pela professora Angela Teberga.

            Em 2018, durante o Fórum Social Mundial-FSM em Salvador, integramos a equipe de coordenação do II Fórum Global Sobre Turismo Sustentável ( http://turismoporummundomelhor.blogspot.com/2018/03/o-turismo-comunitario-e-sustentavel-no.html ) que emitiu a Carta de Salvador que ainda atual nas suas indignações, compromissos e recomendações merece ser estudada e avaliada, pois em janeiro de 2021 se aproxima uma nova edição do FSM ( https://wsf2021.net/ ).

            Também em 2018 o SESC São Paulo promoveu o excelente evento Seminário Internacional Turismo e Direitos num Mapa de Contradições https://www.sescsp.org.br/programacao/152590_SEMINARIO+INTERNACIONAL+TURISMO+E+DIREITOS+NUM+MAPA+DE+CONTRADICOES#/content=programacao ) que gerou um acúmulo de conhecimentos de turismo na linha crítica extremamente importante para nossas reflexões. Lá estivemos e podemos reencontrar muitos colegas da Rede TURISOL e conhecer de perto pesquisadores do Brasil e do exterior que já admirávamos como Thiago Sebastiano de Melo da UnB, Ernest Cañada da Universidad de Barcelona e ALBASUD), Marcelo Vilela da USP e Flávia Roberta da OITS América e SESC/SP.

             Fora isso, 2020 foi um grande laboratório de visibilidade das correntes alternativas de turismo através dos eventos virtuais que trataram do tema, tanto acadêmicos como governamentais e da sociedade civil do qual eu destaco o Terra Madre Brasil do Movimento Internacional Slow Food, que teve uma mesa sobre o tema com a Acolhida na Colônia ( https://www.facebook.com/slowfoodbrasil/videos/economia-solid%C3%A1ria-turismo-de-base-comunit%C3%A1ria-e-desenvolvimento-territorial/417561286086663/ ).

            O Projeto Mandacaru em apoio ao às ações do Comitê Científico do Consórcio de Governadores do Nordeste no combate a covid 19 também tem promovido discussões e documentos importantes na linha do turismo com sustentabilidade (instagram:projmandacaru). 

            O convite que fica para a virada do ano e seus primeiros meses é refletirmos sobre o futuro do turismo sustentável (incluindo o solidário, o social, o responsável e o comunitário) no Brasil, sua urgência, a necessidade de um fórum nacional, a retomada do extinto Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável – CBTUR em nova modelagem, a inclusão da sociedade civil na discussão e execução da política nacional de turismo e seu rebatimento nos estados e municípios, a discussão de uma nova centralidade na discussão no planejamento da atividade turística para uma base territorial e não nas zonas e regiões turísticas onde apenas empresários e governos têm vez e a ampliação de marcos legais das correntes alternativas de turismo como o Rio de Janeiro, a Bahia e Minas Gerais tem Lei Estadual de Turismo Comunitário e outros querem seguir esse fluxo como o Ceará e o Sergipe.

                              Fica o convite para mais sustentabilidade no turismo brasileiro e de preferência sem pandemia a partir dessas humildes reflexões. Feliz 2021.


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