24 de julho de 2019

Roteiros valorizam a cultura, geram renda e engajam jovens. Lideranças compartilharam experiências no evento 'Turismo Indígena', realizado pelo ISA e pela Garupa em São Paulo


Os guias e o capitão da comunidade Uábada II posam junto com casal de turistas (Marcela e Caio) durante a expedição Serras Guerreiras de Tapuruquara

Cinco lideranças de comunidades que decidiram abraçar o turismo indígena de base comunitária se reuniram pela primeira vez, em São Paulo, para compartilhar experiências, discutir a relação com agências e operadoras de turismo e contar como a atividade é vista por seus povos.

O evento Turismo Indígena: oportunidade para fazer amigos, gerar renda e proteger o território, realizado pela ONG Garupa e pelo Instituto Socioambiental (ISA) no Unibes Cultural, em São Paulo, mostrou que mesmo como uma atividade recente há uma diversidade de iniciativas que ganhou corpo nos últimos anos com a regulamentação da Funai, publicada em 2015. (Saiba mais.).

“É importante dar mais visibilidade e entendimento sobre o que é o turismo indígena, que tem potencial para promover o bem estar das comunidades indígenas", afirma Marcos Wesley de Oliveira, coordenador do Programa Rio Negro do ISA.

Para Monica Barroso, diretora-executiva da Garupa, o encontro foi uma “rara oportunidade de escuta e aprendizado com lideranças indígenas.” “Mais do que desafios, pudemos tatear um novo campo de possibilidades que convida a todos, comunidades, operadoras, viajantes, a repensar crenças, práticas e relações”, afirma.

De xamanismo a escalada, de pesca esportiva a imersões culturais, os roteiros de turismo indígena de base comunitária partem do interesse das comunidades em desenvolver uma atividade que valorize a cultura, seja uma alternativa de renda, engaje jovens e tenha como resultado a proteção de seus territórios.

Salomão Ramos Yanomami fala sobre o Projeto Yaripo durante o evento

Para as lideranças presentes, o turismo é uma oportunidade de gerar renda, fazer amigos e principalmente romper com preconceitos.

"A gente não quer viver do turismo. A gente quer formar pessoas. Mudar o olhar preconceituoso, estereotipado", afirmou Tiago Karai, do povo Guarani Mbya, Terra Indígena Tenondé Porã (SP). "O turista deve sair da experiência com outra visão sobre o que é a vida na aldeia", resumiu Dina Yawanawá, do povo Yawanawá, Terra Indígena Rio Gregório (AC).

Regulamentação e protagonismo indígena

Entre as lideranças, o protagonismo indígena vem para superar um problema antigo vivido pelas comunidades. O turismo em Terras Indígenas, concordaram, sempre aconteceu sem regulamentação e, muitas vezes, explorado por agências atuando como atravessadores, com falta de transparência.

"Em muitas Terras Indígenas o turismo já acontecia com determinantes de fora para dentro", afirmou José Augusto Lopes Pereira, da Coordenação-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai. "A gente optou por conhecer o que estava acontecendo."

Os Planos de Visitação, redigidos pelas comunidades e obrigatórios para iniciar a atividade, criam condições para que os indígenas sejam autores dos roteiros de visitação, desde sua concepção até o receptivo.

Os documentos detalham as atividades a serem realizadas, com público-alvo, quantidade máxima de visitantes, distribuição do trabalho nas comunidades, manual de conduta e plano de negócios.

"O projeto deve melhorar a vida da comunidade e não afetar a cultura originária", disse Salomão Ramos Yanomami, da comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami (AM). Ele é o coordenador do projeto Yaripo, como é chamado o Pico da Neblina na língua Yanomami. (Clique para conhecer o plano de visitação do projeto Yaripo.)

"Agora a gente tem controle, faz a vigilância do rio. Todos que trabalham com turismo gostam muito", relata Jaciel Manoel Rodrigues, do projeto Serras Guerreiras de Tapuruquara, nas Terras Indígenas Médio Rio Negro I e II (AM).

Roberto Pereira Lopes relembrou como empresas exploravam de forma desordenada o rio Marié, Terra Indígena Médio Rio Negro I (AM), sem estudos de capacidade de pesca, monitoramento ou fiscalização. "As escolas eram barraquinhas, agora temos um bom centro comunitário, compramos painéis solares e radiofonia", afirmou.

Saiba mais sobre as iniciativas

Turismo Xamânico (AC)

Dina Yawanawá conta sobre as vivências nas aldeias.

As aldeias Yawanawá da Terra Indígena Rio Gregório recebem visitantes desde 2011. Cada aldeia tem sua especificidade, entre culinária, xamanismo e banhos com ervas. "O turista assina um termo de compromisso quando nos visita. Ele traz renda e nos ajuda a manter nossa cultura", diz Dina Yawanawá.

Clique e saiba mais sobre a próxima atividade na aldeia Sete Estrelas, Terra Indígena Rio Gregório.

Tenondé Porã (SP)
Próxima à capital paulista, a Terra Indígena Tenondé Porã, com 16 mil hectares, oferece diversas experiências a visitantes. "Queremos valorizar as trocas culturais com vivências e passeios", disse Tiago Karai.

Saiba mais: www.tenondeporã.org.br

Assista ao vídeo do Plano de Visitação:

Projeto Yaripo (AM)
A reabertura do Pico da Neblina, na Terra Indígena Yanomami, está próxima. O Plano de Visitação está aprovado e a expectativa é que as primeiras expedições aconteçam em 2020. "Queremos que o Brasil conheça esse projeto e respeite o trabalho dos Yanomami", afirma Salomão Ramos Yanomami, coordenador do Projeto Yaripo.

Assista ao vídeo do projeto:

Serras Guerreiras de Tapuruquara (AM)
O projeto Serras Guerreiras de Tapuruquara já realizou oito expedições a comunidades nas Terras Indígenas Médio Rio Negro I e II. São dois roteiros, um mais cultural e outro mais aventureiro. "A gente torce pelo sucesso no turismo, para a gente gerar recurso sem degradar a natureza", disse Jaciel Manoel Rodrigues, vice-presidente da Associação das Comunidades Indígenas do Rio Negro (ACIR).

Saiba mais: www.serrasdetapuruquara.org.br

Assista ao vídeo do projeto:

Pesca no rio Marié (AM)
Conhecido como “rio de gigantes”, o Marié é o cenário de uma nova modalidade de pesca esportiva sustentável em parceria com 15 comunidades indígenas. Em 2018, foi registrado o recorde mundial de Tucunaré Açu. "Temos agora um vigilante indígena para monitorar o rio. E tem muito mais peixe do que antes", diz Roberto Pereira Lopes.

Clique e saiba mais sobre o recorde de Tucunaré Açu.

Embarcação leva pescadores ao Rio Marié

O evento Turismo Indígena fez parte das comemorações de 25 anos do ISA.

Turismo em Terra Indígena

Roberto Almeida

ISA

Imagens: 

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Os guias e o capitão da comunidade Uábada II posam junto com casal de turistas (Marcela e Caio) durante a expedição Serras Guerreiras de Tapuruquara|Marcelo Monzillo-ISA


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Arquivos: 

AnexoTamanho mariri2019setre_estrelas1_1.pdf999.06 KB



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