21 de fevereiro de 2019

Cooperativismo cresce 200% em Mato Grosso puxado por agronegócio

No estado, resistência ainda é entrave para progresso das cooperativas. Para especialista de universidade dos EUA, é preciso haver modernização.

Por Leandro J. Nascimento

Do G1 MT

Cooperativa em Sorriso para recebimento de grãos
(Foto: Leandro J. Nascimento/G1)


Em dez anos o cooperativismo cresceu 200% em Mato Grosso, puxado principalmente pelo agronegócio estadual, segundo o Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado (OCB/Sescoop). Atualmente, mais de um milhão de pessoas estão envolvidas direta ou indiretamente com esta atividade, perfazendo um universo de 34% da população.

Mesmo em alta, o cooperativismo agrícola ainda enfrenta uma série de desafios para despontar em alguns setores, a exemplo do que congrega os produtores de soja e milho. Entre eles, quebrar a resistência do próprio agricultor em fazer parte desta atividade, como pontua o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro.

A resistência, lembra o dirigente, deve-se às chamadas mágoas de um modelo ultrapassado de cooperativismo paternalista e sem profissionalismo. "Neste modelo antigo a cooperativa centralizava o poder, as compras, decidia os créditos. Não era um modelo transparente", avaliou.

Uma pesquisa realizada pela Associação mostrou que, na safra 2010/11, 13% dos produtores de soja e milho participavam de cooperativas. Conforme o levantamento, juntos, plantavam 26% das lavouras.

"O produtor só quer se unir quando as coisas estão ruins. Cada grupo deve achar seu próprio modelo [de cooperativismo]", alertou Carlos Fávaro.

A meta é que entre cinco a dez anos, o percentual de cooperados dentro do grupo produtor de soja e milho avance de 13% para 50%, estima o presidente da OCB/Sescoop em Mato Grosso, Onofre Cezário. "Cooperativa é uma empresa. É preciso identificar este ramo de atuação", afirma o dirigente.

Em Mato Grosso, onde participou do Seminário de Cooperativismo realizado pela Aprosoja em Sorriso, a 420 quilômetros de Cuiabá, o professor da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, Fábio Chaddad, disse que o agrupamento em cooperativas agrícolas tornou-se a melhor opção para se proteger das volatilidades de mercado. "É o caminho. Primeiro porque a cooperativa defende a margem do produtor, tanto na compra de insumos e ganhos na venda de produtos. Segundo porque uma cooperativa passa informação de mercado para o produtor que uma traiding não passa. Pode se preparar e enfrentar essa onda de altos e baixos de mercado com muito mais informação, mais preparo", afirmou.

Cooperativas ganham espaço em Sorriso, cidade de
Mato Grosso (Foto: Leandro J. Nascimento/G1)


Conforme o especialista, cooperativas dos 'tempos modernos' estão conquistando espaço pautando-se em princípios como gestão operacional profissional, capital social e governança. “Cooperativa tem que ser bem gerida, bem administrada, com profissional capacitado para isso", pontuou.

Ainda segundo ele, o envolvimento do produtor, o capital social, a relação de confiança e transparência entre os associados e associados a governança, para garantir que cooperativa gere resultados e distribua estes resultados também entre os produtores são importantes.

Cooperativas mudam perfil
Em Sorriso, município que mais produz soja no mundo, produtores que investiram na ideia colhem os benefícios deste sistema. Somente a Cooperativa Agropecuaria Terra Viva (Cooavil), criada para minimizar as dificuldades de armazenagem de grãos, conta com 22 grupos produtores (cerca de 40 cooperados). A atuação é exclusiva para armazenagem.

De acordo com o presidente da Cooperativa, João Carlos Turra, somente na última safra receberam 1,74 milhão de sacas de soja e 1,860 milhão de milho. Uma área de cinco hectares conta com uma estrutura com espaços para descarregamento, classificação e armazenagem de grãos.

Já na Cooperativa Agropecuária e Industrial Celeiro do Norte (Coacen), que representa 154 associados de Sorriso e região, agricultores são beneficiados pela compra coletiva de insumos. Gilberto Peruzi, presidente da Coacen, diz que que a cooperativa auxilia o produtor na chamada 'porteira para fora'. “A cooperativa auxilia o produtor da porteira para fora, porque da porteira para dentro ele é competente", avaliou o responsável.

Além das cooperativas agrícolas, o cooperatismo de crédito também cresce a passos largos. Somente em Mato Grosso, 18% ao ano, conforme a OCB. A meta nos próximos anos é que em termos nacionais, represente até 10% do sistema financeiro nacional. 

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