30 de novembro de 2018

Peixes amazônicos têm lixo plástico no estômago




O que era uma suspeita, acabou de ser confirmado por pesquisadores brasileiros: nem os peixes amazônicos estão protegidos de uma das maiores pragas ambientais deste século, a poluição plástica.


Em um artigo científico divulgado na revista Environmental Pollutionpor um grupo de cientistas internacionais, entre eles, Marcelo Andrade, autor principal do estudo, da Universidade Federal do Pará (UFPA), é revelado o resultado de uma análise realizada com 172 peixes, de 16 espécies diferentes, da bacia do Xingu.

Os pesquisadores encontraram resíduos de plástico no estômago de 25% de todos os indivíduos analisados e em 80% das espécies, entre eles, pacus e piranhas e dourados.

“É a primeira evidência científica de ingestão de plástico por peixes de água doce na Amazônia. Sacolas plásticas, garrafas, equipamentos de pesca e outros produtos entram em corpos de água amazônicos e se degradam em meso e micro partículas, que podem ser ingeridas pelos peixes, direta ou indiretamente, através da cadeia alimentar”, alerta o artigo.

A escolha da região do Xingu se deu porque ali há uma enorme diversidade de espécies. Os peixes coletados tinham entre 4  cme 30 cm e pesavam até 2 kg.

Uma das constatações que mais impressionou os pesquisadores foi que, independente de serem herbívoros, carnívoros ou onívoros (que se alimentam tanto de carne, como plantas), todos tinham plástico em seus estômagos.

As partículas variavam entre 1mm e 15mm de comprimento. Elas eram feitas de 12 tipos de polímeros diferentes (substâncias químicas usadas na fabricação do plástico), entre eles, polietileno, rayon e polietileno tereftalato (PET).



Amostras de plásticos observadas no estômago dos peixes


“Foi uma surpresa muito triste porque nosso estudo inicial estava focado no entendimento da alimentação dos peixes, mas quando começamos a analisar o estômago deles encontramos plástico”, disse Tommaso Giarrizzo, da UFPA, em entrevista ao jornal The Guardian. “É alarmante porque a poluição está espalhada por toda a bacia Amazônica”.

Segundo Giarrizzo, agora é necessário um estudo mais aprofundado e que inclua o impacto ou não da descoberta sobre a alimentação dos moradores da região.

Plástico: a contaminação é geral!

No ano passado noticiamos aqui, neste outro post, que mais de 30% dos peixes pescados na costa do Reino Unido também tinham plástico em seus organismos. Bacalhau, sardinhas, cavalinha e até, crustáceos estavam contaminados com micropartículas plásticas. De acordo com o autor do artigo, Richard Thompson, o despejo de lixo nos oceanos, que se intensificou a partir da década de 60, atingiu proporções assustadoras.

Ao ser jogado no mar, o plástico é “quebrado” em minúsculas partículas. Com o passar do tempo, estes microrresíduos são encobertos por bactérias e algas, e assim, confundidos por alimentos pelos peixes.

A análise feita pela equipe da Universidade de Plymouth revelou que os animais marinhos estão ingerindo polietileno, nylon e acrílico.

E não é só nossa comida que está contaminada. Fibras plásticas estão presentes na água que o mundo inteiro bebe, inclusive, o Brasil. Em outro estudo, divulgado em 2017, foi constatado que, de dez amostras de água de torneiras de São Paulo, nove continham partículas de plástico.

Oito milhões de toneladas de plástico acabam parando nos oceanos por ano. Estima-se, que 5,2 trilhões de fragmentos plásticos estejam boiando ou depositados no fundo da água.

E anualmente, a produção deste material sintético aumenta cada vez mais. Em 1964, foram 15 milhões de toneladas de plástico fabricadas. Em 2015, este número pulou para 322 milhões de toneladas.

Um estudo conduzido em 2015, em mercados da Califórnia e Indonésia, dois pontos extremos do planeta, examinou o que havia nos estômagos dos peixes comercializados nestes locais. O resultado mostrou que um em cada quatro peixes tinha plástico em seu organismo.

Mais ampla ainda foi a pesquisa Plastics in Seafood”,  realizada pelo Greenpeace, no ano passado. Nela, dados de diversos países, entre eles, o Brasil, comprovam que a contaminação dos peixes com partículas plásticas é generalizada.

No mês passado, foi comprovado também que até o ser humano tem micropartículas plásticas em no organismo. Uma pesquisa internacional analisou as fezes de pessoas de oito países diferentes e, em todas elas, encontrou resíduos plásticos.

Leia também:
Principais marcas de água em garrafa do mundo estão contaminadas com microplástico, denuncia novo estudo
Rio de Janeiro é primeiro estado do Brasil a proibir produtos com microesferas plásticas
Microplástico contamina solo até de montanhas mais remotas da Suíça

Foto: José Sabino 




Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos


Nenhum comentário:

Postar um comentário