2 de novembro de 2017

QUEM MORRE ?

QUEM MORRE?

(De Pablo Neruda)

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir
uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere
o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em
detrimento de um redemoinho de emoções justamente as
que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está
infeliz com seu trabalho, quem não arrisca o certo
pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se
permite pelo menos uma vez na vida fugir
dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da
sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de
iniciá-lo, não pergunta sobre o assunto que
desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre
algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre
que estar vivo exige um esforço muito maior que o
simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um
estágio esplendido de felicidade.
Pablo Neruda.

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