22 de junho de 2014

Samurais azuis decidem seu futuro onde tudo começou

GUILHERME BLATT

Redação/Secom-MT
O Kemari foi um jogo popular no Japão entre o século VII e o século XIII. Era um esporte não competitivo, em que o objetivo principal era não deixar a bola cair no chão, sem que seus participantes pudessem usar as mãos. Com o tempo, o jogo foi esquecido, mas nos últimos tempos está sendo resgatado por grupos tradicionais. Ao lado de outras modalidades como o Cuju chinês e o calcio Fiorentino, o Kemari é considerado uma das modalidades precursoras do futebol. 

Lars Baron
Keisuke Honda: camisa 4 é o japonês mais habilidoso
Keisuke Honda: camisa 4 é o japonês mais habilidoso
O futebol como nós conhecemos chegou à terra do sol nascente trazido por imigrantes ingleses. Não há um consenso sobre quando a primeira partida foi realizada, mas um clube da cidade de Kobe alega ter participado de um jogo em 1888. Como comparação, Charles Miller trouxe a primeira bola de futebol ao Brasil em 1895. 

O esporte só começou a se popularizar no Japão a partir da década de 90, com a criação da primeira liga profissional de futebol, a J. League, em 1992. Antes disso, os japoneses jogavam apenas em campeonato amadores e o futebol perdia de longe em popularidade para o beisebol e para as artes marciais. Para elevar a qualidade dos jogos disputados no país, os japoneses investiram na contratação de jogadores estrangeiros, principalmente os brasileiros. Entre eles, o principal destaque: Arthur Antunes Coimbra, o Zico.

Não seria exagero dizer que Zico mudou a história do futebol japonês. O craque brasileiro que brilhou com a camisa do Flamengo e da seleção brasileira chegou ao Japão em 1991, com 38 anos, depois de um breve período de aposentadoria do futebol brasileiro. Zico foi contratado pelo Kashima Antlers que estava na segunda divisão, buscando o acesso para primeira temporada da J. League. O time do brasileiro conquistou o acesso para a divisão principal e no ano seguinte foi vice-campeão japonês. 

Depois de três temporadas, Zico se retirou do futebol definitivamente e os seus gols chamaram a atenção do mundo para o fato de que, além de grandes prédios e tecnologia de ponta, também existia futebol no Japão. Outros jogadores brasileiros continuaram se destacando nos primeiros passos da liga japonesa, como o meio-campista Leonardo e o atacante Careca. Depois, Zinho, César Sampaio, Muller, Evair e Dunga, jogadores com passagem pela seleção brasileira, também jogaram na terra do sol nascente. 

Jamie McDonald/Getty Images-Fifa
Alberto Zaccheroni comanda o Japão em sua quinta Copa do Mundo
Alberto Zaccheroni comanda o Japão em sua quinta Copa do Mundo
Depois de pendurar as chuteiras, Zico continuou sendo uma referência para os japoneses. Após a Copa do Mundo de 2002, realizada em parceria pelo Japão e pela Coreia do Sul, o Galinho de Quintino assumiu o comando da seleção nacional e classificou o país para a Copa de 2006. Outro grande momento foi a conquista da Copa Asiática de 2004. Zico é o treinador que mais vezes dirigiu a seleção japonesa e também detém o recorde de vitórias. 

Hoje o Japão é comandado pelo italiano Alberto Zaccheroni e sua participação no cenário internacional vem crescendo ano após ano. Se antes da implantação da J. League os japoneses nunca haviam participado de uma Copa do Mundo, desde a estreia em 1998, esta já é a quinta participação consecutiva dos samurais azuis, como são conhecidos em referência aos soldados japoneses e a cor da camisa da seleção. Desde 1992, os japoneses também conseguiram os seus quatro títulos na Copa Asiática. 

A seleção conta hoje com jogadores que se destacam nos principais campeonatos europeus, como os meias Shinji Kagawa do Manchester United e Keisuke Honda, do Milan da Itália. Doze dos 23 jogadores convocados por Zaccheroni para a Copa do Mundo atuam em clubes da Europa, sendo sete na Alemanha, país que mais aproveita os asiáticos. Um cenário bem diferente da estreia japonesa na Copa de 1998, quando todos os 22 jogadores convocados atuavam no futebol japonês e só depois da copa o meia Hideotoshi Nakata foi contratado por um clube italiano. 

Em junho de 2013, os japoneses estiveram no Brasil para a disputada da Copa das Confederações. Eles participaram do jogo inaugural do torneio, quando foram derrotados pelo Brasil por 3x0. Os samurais azuis se despediram da competição logo na primeira fase, depois de perder os três jogos, mas mesmo assim chamaram a atenção por conta de sua atuação contra Itália, em que mesmo perdendo por 4x3, os japoneses apresentaram um jogo envolvente, tiveram mais posse de bola e chutaram mais vezes a gol. O técnico Zaccheroni lamentou a derrota, mas comemorou a experiência adquirida e o futebol jogado. 

Um pouco antes da disputa da Copa das Confederações, no dia 4 de junho, o Japão havia se garantido como o primeiro país classificado para a Copa do Mundo por meio das eliminatórias. A classificação veio após um empate com a seleção australiana. 

No Brasil, os samurais ainda não venceram. Foram derrotadas pela Costa do Marfim em Recife e empataram sem gols com a Grécia, em Natal. Assim, o jogo contra a Colômbia nesta terça-feira (24.06) na Arena Pantanal é decisivo para o objetivo japonês de alcançar as oitavas de final, repetindo as suas melhores campanhas, obtidas em 2002 e 2010. 

Com todo respeito ao Kemari e também aos ingleses que levaram a primeira bola de futebol ao Japão no século XIX, mas aqui no Brasil os jogadores japoneses vão ter a possibilidade de se encontrar com suas origens, aonde tudo realmente começou. 

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