14 de junho de 2014

Gerações ostentam nomes de ídolos do futebol‏


ANDRÉA HADDAD
Redação/Secom-MT

Lenine Martins/Secom-MT
Sócrates Farias de Barros recebeu o nome do ídolo da fiel

Edson, Arthur, Romário, Riquelme, Leonel Messi, Cristiano Ronaldo, Júlio César, Elano e, como não podia deixar de ser, Neymar. Estes são alguns nomes encontrados no Cartório do 3º Ofício de Registro Civil de Cuiabá. Dar aos filhos nomes de jogadores famosos, ídolos do esporte mais cultuado do planeta, revela uma admiração que extrapola os campos de futebol. Por meio das crianças, pais homenageiam e eternizam carques que marcaram gerações.

Formado em informática na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o servidor lotado na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) em Cuiabá, Sócrates Farias de Barros (30) foi registrado pelo pai corintiano que tinha o sonho de colocar no primeiro filho o nome de um jogador de futebol. O escolhido, como não poderia deixar de ser, foi o ídolo da “fiel”, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, o Magrão ou Doutor Socrátes, que brilhou na Copa da Espanha de 1982, um ano antes do Sócrates mato-grossense nascer em Guiratinga.

O pai do servidor é da geração de ídolos do porte de Júnior, Oscar, Cerezo, Falcão e Zico. Sócrates tinha o respeito por ser considerado o criador da Democracia Corinthiana – desde ídolo, diretor-presidente a ajudante, todos tinham o mesmo poder de decisão no clube. Formado em Medicina e extremamente politizado, o jogador ajudou a equipe a romper o jejum de títulos e conquistar os campeonatos paulistas de 79, 82 e 83.

Contudo, o Sócrates mato-grossense, já crescido, ficou impressionado com o Palmeiras de Luizão, Edmundo e Evair. Virou palmeirense! “É claro que meu pai tentou me demover da ideia, falava mal do Palmeiras em tom de gozação, mas nunca impôs nada e não teve jeito”. Dizendo-se politizado e apenas simpatizante de futebol, Sócrates curiosamente toma água numa caneca com emblema do Palmeiras no serviço. Não esquece o gol de Oséas, por exemplo, no último minuto da final decisão da Copa do Brasil de 2000, que garantiu o título ao “Verdão”. “Sem ângulo algum, o Oséas acertou uma bomba e evitou que a partida fosse para os pênaltis”, relembra.

Na Copa do Mundo de 2014, Sócrates considera a Itália favorita à conquista do título Brasil. “A camisa pesa muito e a equipe tem experiência. A Espanha é ‘pipoqueira’, levou o título do Mundial na sorte (2010). A Alemanha não passa das quartas de final, é sempre favorita, mas não aguenta quando toma um gol rápido em decisão”, avalia.

Lenine Martins/Secom-MT
Roberto Rivelino Dourado também teve o nome escolhido pelo pai, palmeirense

Outro que também não percorreu os trilhos do pai na escolha do time foi Roberto Rivelino Dourado, nome dado por Benedito Rodrigues, quando o filho nasceu, em 1971, em homenagem ao ídolo do Palmeiras. Na família, as três crianças, incluindo Josiane e André Luiz Rodrigues Dourado, usavam roupas tricolores. “Tínhamos kit com camisa, calça e meia, mas realmente não lembro, minha mãe que conta”, diz Rivelino. Num belo dia, relembra ele que estava em casa com o pai em Guiratinga para assistir uma partida entre Flamengo e Fluminense no Maracanã. Sem conseguir explicar o por quê, Rivelino conta que respondeu subitamente ao pai ao ser indagado sobre para qual time torceria: - para o de vermelho e preto!. “Foi amor à primeira vista. Nada influenciou na minha decisão”, garante.

Fora isso, Rivelino cresceu vendo Zico deslanchar no Flamengo. Admira o caráter e a personalidade do jogador. “É o que ele passa para a gente, muita humildade e sinceridade”. O irmão André Luiz curiosamente também torce para a equipe da Gávea. “Não sei o que o influenciou também”. É claro que Rivelino teve a curiosidade de ver vídeos de jogadas do craque que o pai homenageou. ”Lembro dos reprises. Era um atleta extremamente habilidoso com a bola nos pês, tinha dribles fáceis e chutes fortes, tanto que era conhecido por “Patada Anatômica”.

Ele vai torcer para o Brasil na Copa de 2014 e avalia que Leonel Messi, da Itália, é a principal promessa do Mundial. “Se jogar o jogo que ele joga, vai ser o grande nome da Copa. Acho Messi mais habilidoso do que o Cristiano Ronaldo, que, para mim, explora a velocidade e força física, mas sem a habilidade descomunal do italiano”. Pela Seleção Brasileira, Rivelino aposta todas as fichas em Neymar.

Já o advogado e flamenguista “roxo” Samuel Franco Dalia Neto, o Muca, garante que não há possibilidade do filho Arthur Diniz Franco Dalia, de 9 anos, virar a casaca. “Aqui creio que não terei este problema. O Arthur Já gosta bastante do time, levo no Maracanã, vemos jogos juntos e ele presta muita atenção”, diz o pai orgulhoso. A mãe, Mônica Wolf Diniz Dalia, não se opôs. Achou bonito por fazer alusão ao “Rei Arthur”. O “pai” Samuel cresceu vendo Zico brilhar no Flamengo. “A minha maior influência na escolha do meu time nem foi meu pai, que é flamenguista fanático, foi o Zico mesmo”, recorda.

Além da paixão do brasileiro pelo futebol, a psicanalista Cláudia Aparecida Conti atenta para elementos que influenciam o pai a colocar o nome do ídolo do time do coração no filho. Dependendo da expectativa do genitor, segundo ela, pode ser bom ou ruim. Ela explica que o fanatismo do pai pelo atleta pode representar desejo de fama, sucesso, conquista financeira e, até mesmo, a admiração pela postura de honra do ídolo em campo e na imagem pública.

Cláudia observa que a identificação do homem adulto com determinado ídolo pode representar uma idealização de personalidade no filho. “O problema é quando o pai deseja que a criança seja aquilo que idealizou ao colocar o nome”.

Na psicanálise, o nome tem um significado para o genitor e outra para a criança. A escolha necessariamente precisa ser narcisista num primeiro momento, diz ela. “A criança nasce desamparada e precisa sobreviver, ser cuidada, ter este espaço para depois poder se manifestar”, explica. Com o crescimento, os filhos devem ter autonomia para fazer as próprias escolhas, como mudar de time. “O essencial é que criança tenha o direito de ser quem deseja ser, senão vai ser frustrada por atender estas demandas dos pais e não delas”.

Este não é o caso, por exemplo, dos mato-grossenses Sócrates Farias, Rivelino Dourado e não parece ser nem de longe o de Arthur.

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