20 de junho de 2014

Bósnios querem ser lembrados pelo futebol

GUILHERME BLATT

Redação/Secom-MT
Julian Finney/Getty Images-Fifa
Seleção da Bósnia e Herzegovina é a única estreante da Copa 2014
Seleção da Bósnia e Herzegovina é a única estreante da Copa 2014
“Nós vamos ao Brasil”. Esse foi o grito que invadiu as ruas de Sarajevo, a capital da Bósnia e Herzegovina na noite do dia 15 de outubro de 2013. O grito era de comemoração e alívio. Naquela noite, a seleção local enfrentava a Lituânia, fora de casa, em jogo válido pela última rodada do Grupo G das eliminatórias europeias. Os Dragões, como são conhecidos, precisavam de uma simples vitória para conseguir a classificação para a Copa do Mundo de 2014. Se a vitória não viesse, seria preciso torcer contra a seleção grega, adversária direta na busca pela vaga.
  
Só que o tão sonhado gol não chegava e, para piorar, os gregos já venciam a seleção de Liechtenstein, aumentando a pressão sobre os bósnios, que neste momento teriam que disputar a repescagem. Até que aos 23 minutos do segundo tempo, o atacante Edin Dzeko fez uma jogada pela linha de fundo e cruzou para dentro da área. Seu companheiro de ataque, Vedad Ibisevic apareceu livre na linha da pequena área para marcar o gol histórico.
  
Delírio dos jogadores que se abraçavam em campo, enquanto a câmera da televisão mostrava os torcedores bósnios chorando na arquibancada. E a festa tomou conta das ruas de Sarajevo, durante toda a noite. “Nós vamos ao Brasil”.
  
Durante muito tempo, o nome da Bósnia e Herzegovina esteve associado a uma tragédia. A Guerra da Bósnia, conflito armado defrontado durante a primeira metade da década de 90, que deixou milhares de mortos e rusgas entre as etnias e os países que formavam a antiga República da Iugoslávia, país que se fragmentou após o fim do regime socialista.
  
O time bósnio pode ser uma das grandes surpresas desse mundial e para isso conta com um grande poder ofensivo. A seleção da Bósnia é a única estreante entre as 32 seleções que disputarão a Copa do Brasil. Curiosamente, a única vez em que uma Copa contou com apenas um país estreante foi em 1950, quando o torneio também foi disputado no Brasil. Naquela oportunidade a debutante foi a Inglaterra.
Fifa.com
Classificação da Bósnia foi motivo de festa do país
Classificação da Bósnia foi motivo de festa do país

  
Entre as ex-repúblicas iugoslavas, a Bósnia está entre aquelas que demoraram até se destacar no futebol. Enquanto Croácia, Sérvia e Eslovênia conseguiam classificações para a copa, os bósnios patinavam nas eliminatórias europeias. Em sua primeira tentativa, para a Copa de 1998, o time terminou em quarto lugar no seu grupo, com apenas três vitórias em 10 jogos. Para a Copa de 2002, repetiu o quarto lugar, enquanto que em 2006 a eliminação veio com o time terminando na terceira colocação. Em 2010 os bósnios terminaram o seu grupo em segundo, mas perderam a vaga na repescagem, contra Portugal. Em 2014, veio o gol de Ibisevic.
  
O treinador da equipe, Safet Susic comemorou a união dos torcedores, deixando possíveis desavenças para o passado, dizendo que afinal, “somos todos bósnios”. Susic, aliás, é considerado um dos maiores jogadores bósnios de todos os tempos, um meia-atacante ofensivo e goleador, que brilhou no Paris Saint-Germain na década de 80. Ele participou de duas Copas do Mundo, em 1982 e 1990, defendendo a antiga seleção iugoslava.
  
Muitos jogadores de origem bósnia participaram das antigas seleções iugoslavas. Dois deles, aliás, estiveram no elenco que disputou a Copa de 1950. O lateral direito Branko Stankovic e o meia Predrag Dajic eram titulares daquele time, que jogou contra o Brasil no recém-inaugurado estádio do Maracanã. Aliás, a Iugoslávia poderia ter eliminado os brasileiros ainda na primeira fase, caso conseguissem um empate. Saíram perdendo logo no começo devido a um fato curioso: um jogador iugoslavo bateu a cabeça no vestiário e precisou levar pontos na cabeça, entrando no jogo quando o relógio já apontava 10 minutos e 1x0 no placar. Naquela época as substituições não eram permitidas. O Brasil venceu por 2x0 e se classificou.

  
Julian Finney/Getty Images-Fifa
Ibisevic foi o autor do primeiro gol bósnio na Copa
Ibisevic foi o autor do primeiro gol bósnio na Copa
O time atual é marcado pela força ofensiva. A equipe teve um dos melhores ataques das eliminatórias europeias, com 30 gols marcados em 10 jogos. Além dos já citados Dzeko, do Manchester City, e Ibisevic, do Stuttgart, outros destaques são os meias ofensivos Miralem Pjanic da Roma e Zvjezdan Misimovic que joga no futebol chinês. Na defesa, o principal nome é o zagueiro e capitão da equipe, Emir Spahic.
  
Safet Susic confirma a estratégia ofensiva e diz que ajusta sua tática aos jogadores que estão à disposição. “Nós temos grandes atacantes e nós sempre lutamos pela vitória, mostrando um futebol ofensivo. Com certeza nossa estratégia é perigosa, mas vale a pena. Nós damos muito espaço aos oponentes, mas o nosso goleiro Begovic é, em minha opinião, o melhor goleiro do mundo, portanto, podemos jogar assim”. Asmir Begovic tem 26 anos e atua no Stoke City da Inglaterra.
  
Na Copa do Mundo, a Bósnia teve um jogo duro logo na sua estreia, perdendo para a Argentina no Maracanã por 2x1. Agora, eles vêm para Cuiabá, enfrentar a Nigéria na Arena Pantanal. É difícil dizer até onde a Bósnia vai conseguir chegar. Mas, com um time ofensivo e insinuante, os bósnios tem tudo para ganhar a simpatia dos torcedores e fazer com que o nome do país nunca mais seja lembrado por uma tragédia. Sim, eles vieram para o Brasil.


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