4 de março de 2014

O Hitler “papa-banana”


A “valorosa Imprensa” também se envereda pela veiculação exagerada

A mídia moderna, embora com toda sua multiplicidade de meios e técnicas de difusão, com destaque para a fantástica interatividade proporcionada pela internet, não deixa de ter o seu viés de “ilha da fantasia” quando deixa de ter os cuidados devidos para não ficar propagando mitos. O que, pela sua força e abrangência de comunicação, pode fazer com que seus leitores, ouvintes, telespectadores ou internautas comprem “gatos por lebres”, enfim, sejam seduzidos por versões fantasiosas de fatos já esclarecidos e sobre os quais não deveria pairar nenhuma dúvida quanto à sua exatidão.

Porém, volta e meia, contrariando sua finalidade de informar com objetividade, a “valorosa Imprensa”, também se envereda pela veiculação exagerada de personagens mitológicos - o que, convenhamos, não é bem o seu papel.




"E, no entanto, a divulgação sobre essa realidade cultural é necessária como informação, desde que feita em seu devido contexto"
Hoje em dia, “fabricar” figuras mitológicas faz parte mais da literatura de ficção, do cinema e do mundo dos negócios na área do entretenimento – está aí, para confirmar, a saga de Harry Potter rendendo bilhões em vendagem de livros e bilheterias... E, no entanto, a divulgação sobre essa realidade cultural é necessária como informação, desde que feita em seu devido contexto.

Nessa linha ficcionista, Adolf Hitler foi “ressuscitado” dos escombros de seu “bunker” na Alemanha, onde, segundo relatos históricos confiáveis, se suicidou em abril de 1.945, aos 56 anos, juntamente com sua companheira, Eva Braun, para vir “morrer” de novo, aos 95 anos de idade, 35 anos depois (já na década de 80), na cidade de Nossa Senhora do Livramento, “bem pertinho” de Cuiabá. E não ao lado da sua Eva de raça ariana, mas nos braços de uma respeitável senhora negra daquela acolhedora comunidade livramentense.

O “Adolf” na versão “papa-banana” “ressuscitou” graças aos inegáveis pendores literários e a mente criativa, mais do que vocação para pesquisa rigorosa, da mestranda Simoni Renée Guerreiro Dias, da UFMT, em sua dissertação de mestrado em jornalismo, intitulada “Hitler no Brasil”. Na qual não faltam sequer aventuras à la Indiana Jones e suas caças ao Tesouro, com os seus ingredientes nazistas cinematográficos.

A criação de “Hitler no Brasil” não é questionável sob o ponto de vista da ficção, e pode ser até interessante como livro do gênero –, o que não dá para engolir é o tratamento que setores midiáticos estão dando ao assunto, como se este pudesse trazer fatos novos sobre um episódio histórico amplamente elucidado.

O Hitler degenerado e monstruoso, infelizmente, existiu e morreu em Berlim quando o seu Terceiro Reich ruiu. Já o que veio parar em Mato Grosso é mais um mito, entre tantos, que se forja sobre a mirabolante fuga do tirano nazista.

MÁRIO MARQUES DE ALMEIDA é jornalista em Cuiabá

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