7 de fevereiro de 2014

Para presidente de associação, MS vai "roubar" turista que vem à Copa


Patrícia Sanches 
Enviada Especial a Poconé
FONTE - RDENWS

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Michelle Gahyva, que preside a Associação de Pousadas, Hotéis e Restaurantes de MT lamenta que, no embalo da Copa, turistas serão redirecionados para MS

A presidente da Associação de Pousadas, Hotéis e Restaurantes, Michelle Gahyva, se mostra preocupada com o destino dos turistas que virão a Mato Grosso para assistir aos jogos da Copa do Mundo, em junho, na Arena Pantanal, em Cuiabá, envolvendo as seleções da Austrália, Colômbia, Bósnia, Rússia, Nigéria, Chile, Coréia do Sul e Japão. Segundo ela, a desarticulação do setor, aliada a falta de investimentos da gestão pública, devem favorecer o Estado vizinho, que se programa para levar os visitantes de Cuiabá e para Campo Grande a preços bastante atrativos. “Sentimos que não vai ficar nada para a gente”, lamenta.

Segundo ela, os agentes de viagem firmaram acordos com as empresas aéreas para que a passagem de Cuiabá a Campo Grande seja de R$ 50 durante os jogos do Mundial. “Vem buscar o turista que vem assistir o jogo aqui”. Ela avalia que a situação é resultado da união das cadeias produtivas e da gestão pública. “Porque aqui todo mundo corre atrás do seu e não faz algo englobado. Se a gente não arregaçar as mangas não é a prefeitura ou o governo que vai arregaçar para a gente”.

De todo modo, Michelle pondera que a situação seria mais fácil se a gestão pública colaborasse por meio, por exemplo, da limpeza e recuperação da Transpantaneira. “Sema não autoriza limpar, então, porque a secretaria estadual de Turismo não faz uma parceria com a Sema”, reclama. O secretário estadual de Turismo Jairo Pradela, por sua vez, contesta a informação e garante que os turistas vão ficar em Mato Grosso. “Isso não passa de especulação. O que existe é uma rixa entre os Estados, mas Mato Grosso do Sul não tem condições de fazer uma coisa dessas”.

O diretor da Pousada Piuval Eduardo Mattos Eubank de Campos reforça as reclamações de Michelle. Ele avalia que hoje o principal gargalo do turismo no Pantanal é a falta de logística adequada, que acaba promovendo o chamado “marketing negativo”. "Se a pessoa vem, tira uma foto numa ponte, com o carro dele caído, faz a propaganda negativa e as pessoas não vem mesmo. Preferem ir para Chapada, onde tem um acesso mais tranquilo".

Ele, assim como a presidente, cobra mais apoio das gestões municipal e estadual no sentido de organizar o setor e dar apoio aos empresários, por meio da melhora, por exemplo da Transpantaneira. “A cidade está feia, não tem praça e a cidade parece fantasma”, reclama. Em seguida, diz que a gestão Silval Barbosa (PMDB), diferentemente do ex-governador Blairo Maggi (PR), que conservava mais as estradas e pontes, não faz nada para o setor. Lembra, por exemplo, que a Copa foi lançada há 4 anos e apenas agora vão começar a recuperar a MT-060, que dá acesso a Poconé. "Só promessa, promessa e nada veio para cá”. Ainda conforme Eduardo, o volume de participação de MT nas feiras, onde o nome do Estado é divulgado, também reduziu na administração Silval.

Michelle lembra que o último grande investimento no setor foi feito por Blairo, por meio de uma parceria com o Sesc Pantanal, quando foi pavimentada a Estrada Parque Porto Cercado. “Todo aniversário da cidade tem lançamento de obra, mas só lança. Depois do anúncio da Copa, achamos que ia trazer benefícios, mas não teve. Tivemos uma frustração".

Para a presidente, o atendimento ao turista também é deficitário, tendo em vista que o Centro de Atendimento ao Turista fecha na hora do almoço, aos sábados e também aos domingos. Assim, apenas o Espaço do Turista, mantido pelos empresários, tem feito este papel. Ela reclama que até agora não teve apoio da prefeitura, que prometeu pavimentar a rua que dá acesso ao local. “Não há amparo do poder público local e o estadual”.

Voucher Único

Fotos: Rodinei Crescêncio/Rdnews
Empresário Eduardo Mattos Eubank, da pousada Piuval, afirma que maior gargalo do turismo no Pantanal é a falta de logística, o que promove marketing negativo

A exemplo de Chapada dos Guimarães, os empresários de Poconé defendem a implementação do Voucher Único. Em Poconé, o projeto está “engavetado” desde 2002, conforme Michely. Ela reclama que por meio do mecanismo seria possível assegurar recursos para investir no setor, em saúde e educação, além de ter um maior controle sobre o número de turistas que visitam a região. Defende que a taxa seja de R$ 2 reais. Argumenta que Nobres, que começou a investir no setor agora, já tem o Voucher. “Turismo não é bem visto tanto pela população, quanto pelos seguimentos políticos”. Conforme Eduardo, que é do Conselho, a expectativa é de que a ferramenta seja implementada ainda neste ano. Ele defende a proposta porque hoje o turismo praticamente não gera renda para prefeitura investir também no setor. "Além de angariar fundos, eu acho que vai ter mais preservação, controle e segurança, vai ter mais turismo. Porque hoje não é uma cidade turística".

O secretário Turismo Jairo Pradela rebate as críticas dos empresários e garante que o Estado está fazendo a lição de casa, mas que é preciso que a população e os empresários também colaborem. “A iniciativa privada tem que esforçar. Ela não pode parar. É dessa contrapartida que precisamos”, frisa.

Segundo ele, entre os projetos dos governos estadual e municipal estão a revitalização da MT-060, da avenida Anibal de Toledo, sinalização turística, recuperação da Transpantaneira, a construção de uma arena para a cavalhada, a revitalização do Tanque da Rua, também conhecido como Recanto da Ressaca – ponto histórico que existe há 200 anos, quando fazendeiros vinham descansar no local. No caso dos dois últimos, os projetos são elaborados pela AMM e depois serão licitados. 

O secretário cita ainda o fato da ex-secretária de Turismo e deputada Teté Bezerra ter destinado R$ 235 mil para a conclusão da nova sede do Centro de Atendimento ao Turista, obra hoje parada em meio a um matagal e que deve ser retomada neste primeiro semestre. Além disso, Pradela pontua que, numa parceria com a prefeitura, está sendo feita a catalogação de todos os pontos turísticos da cidade. “Mas, a comunidade também tem que estar integrada e saber que tem que receber bem o visitante”.

Fotos: Rodinei Crescêncio/Rdnews
Michelle Gahyva reclama da falta de investimentos do poder público e enfatiza que o governo Blairo investia em infraestrutura turística, diferente da gestão Silval

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